Carta ao Leitor: A melhor notícia
O melhor desdobramento da Lava-Jato no terreno do combate à corrupção veio de onde ninguém esperava: o anúncio da privatização da Eletrobras
A semana da Lava-Jato teve múltiplos desdobramentos. O ex-ministro Geddel Vieira Lima virou réu por obstrução da Justiça. O Supremo Tribunal Federal aceitou denúncia contra o senador Fernando Collor. O doleiro Lúcio Funaro, operador do PMDB, fechou seu acordo de delação. Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, foi denunciado por corrupção passiva. O senador Agripino Maia, presidente do DEM, foi indiciado por corrupção e lavagem de dinheiro. O senador Romero Jucá foi denunciado, também por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Zelotes, que investiga um gigantesco esquema de sonegação fiscal. Há, ainda, outras novidades.
Mas o melhor desdobramento da Lava-Jato, o mais alvissareiro no terreno do combate à corrupção, veio de onde ninguém esperava: o anúncio da privatização da Eletrobras, a maior empresa de energia elétrica da América Latina e sócia de mamutes hidrelétricos, que vão da velha usina de Itaipu à nova usina de Belo Monte. Sim, o anúncio de uma privatização está entre as medidas mais eficazes que se podem tomar para vencer a corrupção no Brasil. E o motivo é simples: o gigantismo do Estado brasileiro, com seus braços públicos por toda parte, serve como um convite onipresente à corrupção.
Afinal, no organograma dos principais escândalos do país, as estatais cumprem um papel fundamental. Em torno delas, e particularmente de seu orçamento monumental, é que se constroem os escândalos. Em torno delas, aglutinam-se empresários, políticos e servidores desonestos que, em conjunto, sugam o dinheiro público.
A Petrobras é o exemplo mais recente e mais grotesco, mas a sucessão de delações na Lava-Jato está mostrando ao país que a mesma tecnologia da propina era empregada na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, na própria Eletrobras, para ficar nas joias da coroa estatal brasileira. Quem ainda se lembra da origem do mensalão? Pois o esquema começou a ser desvendado com uma denúncia publicada por VEJA sobre achaques politicamente coordenados nos Correios, outra estatal.
Como a realidade demonstra com fartura, retirar o Estado de áreas em que a iniciativa privada pode assumir o comando, e pode exercê-lo com mais eficiência, é uma medida que só ajuda o Brasil a avançar e a se modernizar — além de desmontar a voraz máquina de corrupção encravada na estrutura estatal. Por todas as razões, a intenção do governo de privatizar a Eletrobras é, de longe, a melhor notícia da semana.
Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2017, edição nº 2545