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Especialistas querem desvendar um mistério: estariam os ucranianos por trás dos avanços na tecnologia norte-coreana de mísseis?

Por Luiza Queiroz
Atualizado em 1 set 2017, 06h01 - Publicado em 1 set 2017, 06h00

Desde que assumiu o poder, há seis anos, o ditador norte-coreano Kim Jong-un já realizou mais de oitenta testes de mísseis. Para o temor do Ocidente e dos países da Ásia, eles progridem rapidamente. Na terça-­feira 29, um deles, o Hwasong-12, assustou os japoneses ao voar por cima da Ilha de Hokkaido, percorrendo 2 700 quilômetros, o equivalente a uma viagem entre São Paulo e Recife, até cair no Oceano Pacífico. Foi a maior distância já transposta em comparação com qualquer um dos testes anteriores de Kim Jong-un. A análise da projeção do míssil intercontinental balístico (ICBM, na sigla em inglês) mostra que ele teria capacidade para alcançar Chicago, nos Estados Unidos. Isso é preocupante, dado que a Coreia do Norte já conseguiu desenvolver uma bomba atômica que cabe em seus mísseis.

O episódio levou especialistas a especular sobre qual seria a explicação para o melhor desempenho dos mísseis norte-coreanos. Dias antes do último lançamento, um relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, da Inglaterra, revelou que a tecnologia vem da Ucrânia: “Nenhum outro país fez a transição de mísseis com capacidade média para um ICBM em um período tão curto de tempo”.

Enquanto era um satélite soviético, a Ucrânia abrigava uma das maiores fábricas de mísseis do regime comunista. Ao conquistar a independência com o colapso da União Soviética, em 1991, o país continuou a produzir e a vender essa tecnologia aos seus clientes em Moscou. Em 2011, dois espiões norte-coreanos foram presos na Ucrânia fotografando modelos de míssil com seus telefones celulares. Em 2014, quando as relações entre a Ucrânia e a Rússia se deterioraram com a invasão na Península da Crimeia por tropas enviadas pelo presidente russo Vladimir Putin, a fábrica ucraniana perdeu seu principal cliente. Naquele mesmo ano, o perigo dessa situação foi apontado por um relatório do Centro Carnegie Endowment para a Paz Internacional: “Um colapso na cooperação entre Rússia e Ucrânia deixaria esses cientistas sem emprego e poderia expor seu conhecimento crucial a regimes desonestos”.

A hipótese de que a Coreia do Norte deve seu desenvolvimento bélico aos ucranianos não é consenso. “A Coreia do Norte não depende de motores importados. Nós julgamos que o país tem capacidade para produzi-los sozinho”, disse um oficial de inteligência americano ao jornal britânico Financial Times, em meados de agosto. A similaridade com os motores da Ucrânia pode estar mais relacionada com a história da indústria bélica norte-coreana, que evoluiu a partir de modelos de mísseis soviéticos dos anos 1970. “Os norte-coreanos estão construindo mísseis há décadas, esta é apenas a geração mais recente. Como essa é uma tecnologia muito antiga, construí-los não é um grande desafio para a Coreia do Norte, que, no momento, está no ponto em que os soviéticos estavam em 1960”, diz o americano Joshua Pollack, especialista em proliferação nuclear do Instituto Middlebury para Estudos Internacionais, em Monterey, nos Estados Unidos. Ainda que os mísseis sejam Fuscas voadores, há razões para preocupação. “É uma tecnologia boa o suficiente para ameaçar os Estados Unidos”, diz Pollack. Kim está se saindo melhor do que se esperava. E isso é uma péssima notícia para o mundo.

Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2017, edição nº 2546

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