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Bandeira vermelha

No robusto 'Operação Red Sparrow', Jennifer Lawrence é uma espiã russa treinada no uso de artimanhas sexuais — e deixa o pós-feminismo de cabelo em pé

Por Isabela Boscov Atualizado em 2 mar 2018, 06h00 - Publicado em 2 mar 2018, 06h00

Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), a primeira-bailarina do Bolshoi, sofre um acidente horrível durante uma apresentação. É o fim de sua carreira. Mas pode ser o início de outra, diz seu tio, Ivan Egorov (Matthias Schoenaerts), tipo influente dos bastidores do poder que usa um cabelo igualzinho ao de Vladimir Putin. O apartamento cedido pela companhia de balé, o tratamento de saúde da mãe doente — tudo pode continuar no lugar se Dominika encarar uma espécie de teste vocacional. Deve atrair para um quarto de hotel um oligarca que vem incomodando o governo e, depois de prostrá-lo entre os lençóis, trocar seu celular por outro. A coisa termina em borbotões de sangue. A ex-­bailarina, porém, revela-se um talento espontâneo, que agora será lapidado numa divisão dos serviços secretos russos destinada a treinar jovens homens e mulheres nas artes meretrícias da espionagem. É hora de despir a roupa e também os moralismos, diz a supervisora interpretada por Charlotte Rampling com o olhar gélido de quem integrou as fileiras da antiga KGB: “pardais” (ou “sparrows”, em inglês) como eles fazem o que for preciso, com quem for preciso.

Operação Red Sparrow (Red Sparrow, Estados Unidos, 2018), já em cartaz no país, é um thriller robusto assinado por Francis Lawrence, que dirigiu Jennifer (nenhum parentesco com ela) em três filmes da saga Jogos Vorazes e sabe tirar ótimo partido da presença física da atriz e da sua habilidade em concentrar a atenção da plateia enquanto a protagonista joga um jogo cujos lances devem ficar ocultos até o final. O filme tem ainda um elenco de primeira completado por Joel Edgerton, Jeremy Irons, Ciarán Hinds e Mary-Louise Parker, e uma excitante atmosfera reminiscente da Guerra Fria — locações em Moscou, Budapeste e Londres, um torturador russo especialista em esfolar gente que hesita em entregar segredos, muitas daquelas cenas em que, não fosse pelo último segundo, os espiões seriam desmascarados, e uma paranoia saborosa acerca da extensão do desejo russo de recuperar a glória soviética.

Red Sparrow tem também muito sexo ou sugestão sexual, do tipo perturbador e do tipo interessante (Dominika gosta mais do que supunha da missão de usar o agente da CIA interpretado por Edgerton para desentocar um traidor russo). Na maior parte das vezes, porém, Francis Lawrence se vale de chicanas para evitar que a protagonista leve seus engenhos às vias de fato; ele prefere que ela atice, mas não cumpra. Não adiantou. Já está assim de gente “problematizando” a heroína — mais até pelo que ela faz como “pardal” do que pelos abusos que sofre no início. É um dos paradoxos do viés puritano que se vem imiscuindo no pós-feminismo: aplaude-se Charlize Theron pela maneira como usa o corpo para distribuir violência em Atômica, e deplora-se que Jennifer use a sexualização como arma em Red Sparrow.

Publicado em VEJA de 7 de março de 2018, edição nº 2572

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