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Aventureiro cauteloso

Bonito no visual e respeitoso para com suas origens, 'Han Solo' carece da qualidade mais marcante de seu protagonista: a disposição para correr riscos

Por Isabela Boscov Atualizado em 18 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 18 Maio 2018, 06h00

Por sua garota, Han Solo (Alden Ehrenreich) topa qualquer coisa: arriscar a vida no roubo de um hipercombustível precioso, alistar-se nas forças do Império e lutar em trincheiras lamacentas, juntar-se a um bando de contrabandistas de índole duvidosa. Durante mais de três anos, o jovem Solo virou-se como pôde, sempre com o intuito de retornar a um planeta do qual gente ajuizada só quer distância — um favelão sideral dominado por uma facção criminosa —, a fim de resgatar a namorada, Qi’ra (Emilia Clarke). Solo e Qi’ra são órfãos; cresceram sendo explorados pela marginalidade, e estão habituados a adaptar-se a novos e inesperados expedientes para sobreviver. Mas, mesmo em meio a essa vida desencantada, Solo preservou intacto seu encanto por Qi’ra, e também pelo sonho de ser piloto — não qualquer piloto, mas o maior de todos da sua galáxia distante. Ele poderia se considerar afortunado, já que em Han Solo — Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story, Estados Unidos, 2018), em cartaz no país a partir desta quinta-feira, seus sonhos se realizam — de certa forma. Não é sem motivo que esse rapaz tão cheio de confiança e entusiasmo vai, um dia, se transformar no homem arredio (e imensamente carismático) que Harrison Ford interpretou na trilogia Star Wars, lançada entre 1977 e 1983: o destino gosta de entregar a Solo o que ele quer, mas de um jeito que ele não desejaria.

O rival de Solo, Lando Calrissian (Donald Glover): condução tateante (//Divulgação)

Em certa medida, é isso que também o fã de Star Wars pode sentir durante uma sessão de Han Solo — que ganhou o que pedira, mas não como havia pedido. A produção começou de maneira auspiciosa, com a escalação da dupla de diretores Phil Lord e Christopher Miller (do sucesso Uma Aventura Lego) e de Ehrenreich, agora com 28 anos, com base em sua participação fabulosa em Ave, César!, dos irmãos Joel e Ethan Coen. Mas o projeto entrou então em um percurso atormentado: com quatro meses de trabalho já realizados, Lord e Miller foram demitidos pela Lucasfilm e substituídos pelo veterano Ron Howard, de Apollo 13 e Uma Mente Brilhante. Na prática, isso significa que o desagrado da produtora Kathleen Kennedy com o material filmado foi de tal ordem que ela preferiu quase dobrar (estima-se) o orçamento inicial para que Howard pudesse refazer cerca de 80% dele (de novo, estima-se) desde o início. Mais até do que a escala do investimento, pesa numa decisão como essa o trauma do elenco e da equipe: por mais que se procure poupá-los de responsabilidade, é inevitável, para eles, a sensação de que seus esforços fracassaram.

Para o bem e para o mal, filmes são criaturas sensíveis aos acontecimentos do parto, e Han Solo trai a insegurança que se produziu nos bastidores. Ehrenreich brilhou em Ave, César! porque levou para o seu papel — um caipira que vira astro de filmes de caubói — uma criatividade, uma autoconfiança e uma comicidade intensas. Aqui, onde esses atributos seriam inestimáveis, ele entrega um desempenho cauteloso, quase tímido. Emilia Clarke, Woody Harrelson, Paul Bettany e até Donald Glover (que acaba de abalar o debate racial americano com o clipe do rap This Is America), que faz o finório Lando Calrissian, o acompanham no mesmo passo. Toda a condução de Han Solo, na verdade, parece tateante, mais comprometida com a ideia de extrair de Ehrenreich e Glover réplicas das atuações originais de Harrison Ford e Billy Dee Williams do que de encorajá-los a reinventar os personagens em seus próprios termos.

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Bonito no visual — não se esperaria outra coisa — e reverente para com suas origens, Han Solo carece, no entanto, da qualidade mais atraente de seu protagonista: o senso de aventura.

Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583

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