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Animal político

Roger Waters, ex-Pink Floyd que faz shows neste ano no Brasil, é um grande compositor — mas parece interessado em brigar com seus pares por causa de Israel

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2018, 15h17 - Publicado em 29 dez 2017, 06h00

Os assessores avisam de antemão que Roger Waters prefere falar de música, não de política. Não foi o que se verificou na entrevista que o músico inglês concedeu a VEJA, em passagem rápida pelo Brasil para promover o show que fará em sete cidades do país, em outubro. Em pouco mais de quinze minutos de conversa, o ex-baixista e letrista do Pink Floyd detém-se relativamente pouco nas qualidades da banda que hoje o acompanha em turnê ou nos aspectos musicais de Is This the Life We Really Want?, seu primeiro álbum de composições inéditas em 25 anos. Uma pergunta sobre sua militância no BDS — sigla para “boicote, desinvestimento e sanções” —, movimento pró-palestino que propõe o isolamento de Israel, e Waters já discursa sobre injustiça e opressão. A pergunta: “Você é antissemita?”. “Não. Apenas desejo direitos iguais para todos”, alega Waters.

Mais do que as posições controversas de Waters e do movimento de que participa — críticos têm apontado vínculos do BDS com o Hamas —, é sua estratégia de intimidar publicamente os seus pares que tem rendido ataques e brigas. O BDS propõe um completo boicote artístico a Israel, e considera que músicos que fazem show no país estão tacitamente prestando apoio às políticas do atual governo de Netanyahu. Caetano Veloso e Gilberto Gil foram intimados por Waters, em uma carta pública, em 2015. No ano passado, foi a vez da banda Radiohead, cujo vocalista, Thom Yorke, desancou o simplismo dos militantes do BDS em entrevista à revista Rolling Stone. “Eles jogam a palavra ‘apartheid’ para lá e para cá e acham que isso resolve”, disse Yorke. Nick Cave, em um show em Tel-Aviv, acusou o bullying do mais eminente roqueiro do BDS: “Fomos submetidos a uma humilhação pública por Roger Waters”.

Mas Roger Waters ainda faz música, e boa música, concorde-se ou não com a pregação humanitária das letras. Na entrevista, sobrou um tempinho para o show que apresentará no Brasil, Us + Them. O cenário, como de praxe desde os tempos do Pink Floyd, é grandioso, incluindo uma réplica da usina termelétrica de Battersea, capa de Animals, disco que o quarteto inglês lançou em 1977. Nas performances em estádios, a atração é uma pirâmide desenhada por fachos de raio laser — que Waters, sempre político, diz ser “um símbolo contra a opressão”. Três quartos do repertório vêm do Pink Floyd. O resto é da carreira-­solo de Waters, sobretudo de Is This the Life We Really Want? — disco que foi produzido por Nigel Godrich, colaborador regular do Radiohead. “Sempre controlei meus trabalhos com mão de ferro. Gostei de ter outra pessoa no comando”, diz o notório turrão, que saiu brigado do Pink Floyd.

Estranhamente, Waters diz que uma canção do disco foi censurada (não esclarece quem seria o censor). Déjà Vu teria uma alusão crítica ao “povo escolhido”, que ficou de fora da edição final. Os judeus, como se sabe, são o “povo escolhido” da Bíblia. Waters diz que não é antissemita.

Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2018, edição nº 2563

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