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A volta do celular burro

O ressurgimento de telefones móveis que só servem para falar pode ser uma saída para a moderna dependência de smartphones — que, às vezes, vira “vício”

Por Filipe Vilicic Atualizado em 12 ago 2017, 06h00 - Publicado em 12 ago 2017, 06h00

Quem tem um smartphone checa se há mensagens e notificações em seu aparelho a cada sete minutos, em média. Não surpreende que nos Estados Unidos metade dos adolescentes se considere viciada em seus celulares. Para os pais, a situação seria pior: seis em cada dez acreditam que seus filhos abusam desses dispositivos. Entre os jovens, 70% acham que precisam responder imediatamente a qualquer aviso de mensagem, como a chegada de novos textos de amigos no WhatsApp. No caso dos adultos, o índice é também alarmante, de quase 50%. Para quem não tem passado os últimos tempos em outra galáxia, as pistas de que os smart­phones se tornaram onipresentes na vida terráquea são para lá de explícitas. Já há, inclusive, novas síndromes psicológicas associadas a essa evidência, como, por exemplo, a Fomo (de Fear of Missing Out ou “medo de ficar por fora”, em inglês), muito comum entre usuários assíduos de redes sociais, que temem perder qualquer atualização dos minutos, dos segundos, dos centésimos de segundo de seus adoráveis pares.

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Diante desse notável problema da era conectada, vem se popularizando um remédio, no mínimo, inusitado: a substituição dos smartphones por… celulares! Não entendeu? Smartphones são celulares, claro, mas eles têm câmera de foto e vídeo, acesso à internet e tantas outras funções. A moda que começa a ganhar corpo é trocar esses aparelhos por modelos semelhantes aos de antigamente, que se restringiam a realizar chamadas e, no máximo, trocar mensagens de SMS. Esses aparelhos já ganharam o apelido de dumb phones, ou celulares burros, em oposição aos “inteligentes”.

Disse a VEJA o engenheiro e designer taiwanês Kaiwei Tang, que fundou a Light Phone, em 2014, com o objetivo de lançar uma linha dumb (leia descrição ao lado ): “A situação é tão grave que é comum que donos de smartphones desenvolvam o que chamamos de síndrome de vibração fantasma, que é quando a pessoa sente que o aparelho está tocando mesmo que esteja desligado. Não é que esses dispositivos sejam ruins para nós, muito pelo contrário. Eles trazem uma série de benefícios. Só que, como sempre, é preciso achar um equilíbrio para não acabar deixando que seu uso limite a nossa rotina off-line”.

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Ironicamente, o taiwanês Tang começou sua empreitada numa incubadora nova-iorquina do Google, dono do mais popular sistema operacional para smart­phones e tablets do planeta, o Android. Talvez por isso seu Light Phone não se proponha a substituir, no sentido estrito do termo, a versão inteligente. A ideia é que ele se torne um aparelho complementar. Explica Tang: “Todos nós temos vários sapatos e roupas, apropriados para ocasiões distintas. O seu smartphone é ótimo para trocar e­-­mails, trabalhar etc. Porém não é conveniente se tudo o que se quer fazer é uma caminhada, ou brincar com o filho, ou observar o pôr do sol sem ser interrompido a cada minuto”.

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Impulso decisivo para o triunfo dos celulares mais simples em seu retorno ao mercado tem sido a adesão de celebridades. A cantora barbadiana Rihanna e os atores americanos Scarlett Johansson e Chris Pine andam desfilando com esses modelos. “Não gosto de ficar muito conectado. Prefiro o simples, o não complicado”, declarou Pine. Para os famosos, a alternativa é também conveniente porque as versões burras não são vulneráveis aos hackers — Scarlett, por exemplo, já teve fotos suas, nua em pelo, roubadas por um assaltante virtual.

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Nos Estados Unidos, enquanto a venda de smartphones se estabilizou nos últimos anos — e a de iPhones, especificamente, caiu —, a comercialização de dumb phones aumentou 7% entre 2014 e 2016. O fenômeno é associado a duas justificativas. Primeiro, à vontade de permanecer desconectado. Segundo, à moda hipster, que valoriza produtos vintage, com um pé romântico no passado. No Brasil, o mercado dos modelos simples cresceu 35%, de 2015 para 2016. Entretanto, não se sabe se isso se deve à aderência ao novo movimento ou à crise econômica.

Além das vantagens que a desconexão traz para o convívio, a opção pelos dumb phones pode fazer bem à saúde. Médicos consideram que permanecer acima de três horas diárias de olho nos smartphones origina problemas. Até rugas e dores na coluna. Isso para não falar de outros transtornos acarretados pelo hábito on-line. O “vício” é capaz de afetar até relacionamentos amorosos: sete em cada dez mulheres culpam os celulares inteligentes por desavenças no convívio com o marido. “O mundo está caótico. Por isso, pensar nos celulares simples não é dar um passo para trás, mas, sim, refletir sobre nosso futuro. Aparelhos smart já fazem parte do dia a dia, contudo é necessário ter dispositivos que despertem nas pessoas a consciência dos malefícios desse novo estilo de vida no qual mergulhamos”, concluiu, em entrevista a VEJA, o empreendedor norueguês Petter Neby, criador de outro modelo dumb, o Punkt. MP01.

Com reportagem de Carla Monteiro

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Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2017, edição nº 2543

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