A questão da maconha
A reportagem publicada nesta edição de VEJA traz um painel que pode ajudar na formação de um ponto de vista mais amplo sobre o assunto
As capas reproduzidas nesta página documentam a atenção constante que VEJA dedica à relevante questão das drogas — e da maconha, em particular. Nos últimos tempos, o debate sobre o assunto está focado mais na legalização, ou na descriminalização, do porte e do consumo de maconha e menos nos efeitos que ela provoca na saúde física e psíquica do usuário. O mundo vive uma onda de abertura à maconha. Nos Estados Unidos, 33 dos cinquenta estados já descriminalizaram o porte da droga para uso recreativo ou medicinal — e, em onze deles, houve a liberação da venda. Em 2013, o Uruguai tornou-se o primeiro país a legalizar a produção, o comércio e o uso da erva. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal prepara-se para retomar, em junho, a discussão sobre a descriminalização de pequenos portes — fala-se de 25 gramas da droga para quem tiver mais de 18 anos. Quando a votação foi interrompida, em 2015, o placar estava a favor dessa medida por 3 a 0.
A maior aceitação da maconha convive com um movimento paradoxal — a crescente evidência científica dos males que a droga causa ao usuário. Em 2012, VEJA publicou uma reportagem de capa que apresentava um compilado de pesquisas sobre os danos que a erva provoca em pessoas de todas as faixas etárias. A novidade, agora, está no mais alentado trabalho sobre os efeitos da maconha no organismo dos adolescentes. Publicado no respeitado jornal científico americano Jama Psychiatry, o estudo comprova que jovens usuários de maconha até os 18 anos terão, na idade adulta, maior risco de sofrer de depressão, maior tendência a desenvolver pensamentos suicidas e — o resultado mais dramático da pesquisa — serão três vezes mais propensos a efetivamente tentar tirar a própria vida. Os efeitos podem ser detectados já a partir do consumo de quatro cigarros de maconha por semana ao longo de ao menos um ano.
As conclusões do novo material são um convite à reflexão. No plano jurídico, quando se discute legalizar ou descriminalizar a maconha, levam-se em consideração a extensão dos direitos individuais do cidadão e, também, a necessidade de traçar uma distinção essencial entre usuário e traficante. No plano da saúde pública, a discussão é outra: refere-se ao impacto na saúde física e mental de quem consome a droga. Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, a maior autoridade no tratamento de dependência química no Brasil, o debate jurídico precisa ser permeado pela questão da saúde. Diz ele: “De forma surpreendente e assustadora, o hábito entre os jovens tem sido ignorado na maioria das decisões das autoridades. Com isso, estamos criando uma legião de adultos psicóticos”.
A reportagem de VEJA sobre o estudo, publicada nesta edição, traz um painel que pode ajudar na formação de um ponto de vista mais amplo sobre o assunto — para os magistrados, para os profissionais de saúde, para os pais de adolescentes e para os próprios usuários. Boa leitura.
Publicado em VEJA de 10 de abril de 2019, edição nº 2629