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A oscilação adolescente

É fundamental falar com os jovens sobre os caminhos das drogas

Por Rosely Sayão
Atualizado em 10 ago 2018, 07h00 - Publicado em 10 ago 2018, 07h00

Duas semanas depois do nascimento do bebê, pode acontecer de ele apresentar crises de choro intenso. Será cólica? É que o aparelho digestivo do recém-nascido ainda está em desenvolvimento, e seu organismo, em adaptação ao novo ambiente. As mães, aflitas, pedem socorro ao pediatra. Muitos deles aprovam a eficácia de alguns medicamentos para esse caso e os receitam. Algumas mães, inclusive, oferecem ao filho medicamentos ou chás que, ouviram dizer, podem resolver a questão. Sem orientação médica.

E assim começa nossa trajetória no uso das drogas: já no início da vida. Dor de cabeça? Há diversos comprimidos indicados para resolver o incômodo. Gases? Uma artista recomenda, em peça publicitária veiculada na TV, o uso de um medicamento “show”. Tristeza por ter perdido, para a vida ou para a morte, alguém muito querido? Temos remédios para isso também. Criança agitada, não dorme, não para, não relaxa? Tem droga para consertar isso. O jovem vai fazer provas importantes e precisa render no estudo? Um colega oferece um comprimido “milagroso” que vai ajudar.

A lista de situações em que consideramos comum o uso de medicamentos poderia ocupar todo o meu espaço aqui. Mas acredito que os exemplos citados são suficientes para você compreender o conceito do uso de drogas. Sim, para começo de conversa, é bom ficar claro: medicamentos são drogas. Alguns deles, absolutamente necessários. Outros, nem tanto. É que os medicamentos anunciam algo que queremos muito: se passamos por uma situação — física ou mental — desconfortável, dolorosa, incômoda, sofrida, difícil, há como sairmos mais rapidamente dela. Basta usarmos determinado medicamento que os sintomas são atenuados. E, se queremos um pouco mais de prazer, criatividade, relaxamento ou produtividade na vida, por exemplo, há vários remédios disponíveis nas farmácias — com o mesmo princípio das drogas não medicamentosas, lícitas ou ilícitas: eles ajudam a superar circunstâncias difíceis, facilitam a vivência de situações estressantes.

Os adolescentes são pessoas que vivem um momento delicado da vida: oscilam, tanto por eles mesmos como por exigência dos grupos sociais aos quais pertencem, entre a infância e a vida adulta. Ora almejam a dependência, ora desejam a autonomia. Momento delicado, de ansiedade e pressão, que torna os jovens vulneráveis à oferta do uso de drogas, sejam medicamentosas ou não, lícitas ou não. O maior problema é que, como ainda têm um pé na infância, eles são impulsivos, não percebem a saciedade — por isso podem exagerar — e, em busca de rituais de passagem, aderem ao ilícito com facilidade, sem avaliar os riscos. Por isso, precisam de nós: família, e adultos em geral.

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Entretanto, só poderemos ajudá-los se formos realistas e considerarmos que os fatores pessoais não são os únicos que levam ao uso — e ao abuso — das drogas. Os fatores coletivos também têm grande importância. Dialogar com os adolescentes não apenas sobre os motivos pessoais que os colocam no caminho das drogas, mas, principalmente, sobre a pressão social que eles sofrem — sem perceber — para acessar esse atalho na vida, é fundamental.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595

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