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A história da tragédia…

...e a farsa da história: em 'O Paciente', Sergio Rezende reconstitui os dias finais de Tancredo Neves — e o triste enredo que tentou ocultar sua doença

Por Isabela Boscov Atualizado em 14 set 2018, 07h00 - Publicado em 14 set 2018, 07h00

Na noite de 14 de março de 1985, dez dias após completar 75 anos, Tancredo Neves passou tão mal que ficou sem escolha: foi obrigado a aceitar a internação hospitalar e rezar para que, no dia seguinte, o general João Figueiredo concordasse em transmitir a Presidência a seu vice, José Sarney. Havia meses Tancredo vinha escondendo fortes dores abdominais. Temia uma crise incontornável em um momento de extrema fragilidade política. Eleito pelo Congresso para ser o primeiro presidente civil desde o golpe militar de 1964, o senador mineiro vinha consolidando apoios, articulando transições e pisando em ovos. Aos próximos, admitia que só respiraria aliviado quando estivesse com a faixa presidencial atravessada no peito. Nunca chegou a vesti-la. Na manhã da posse, o Brasil acordou com a notícia de que ele fora submetido a “uma pequena cirurgia” mas em questão de dias teria alta e assumiria a cadeira que Sarney manteria quente em sua ausência. Tancredo subiu, sim, a rampa do Planalto — no seu esquife, para o velório solene que se seguiu à sua morte, em 21 de abril. Os erros médicos e táticos se avolumaram e se agravaram, as complicações resultaram terríveis. Quase na totalidade, foram escondidas da população. Tudo o que ficou oculto é o que revela O Paciente — O Caso Tancredo Neves (Brasil, 2018), já em cartaz no país.

A trama que se desenrolou é tão tortuosa e repleta de intriga — e da sensação de um destino que age à revelia dos personagens — que bem mereceria um tratamento de altíssima voltagem. Na adaptação do livro homônimo de Luis Mir, porém, o diretor Sergio Rezende trabalha em fervura baixa, explicando tim-tim por tim-tim o que se passava. E não é errado que o faça: em um país fadado, pela baixíssima escolaridade, a esquecer seu passado (no qual, às vezes, reitorias obtusas ainda tocam fogo), Rezende e seu elenco — com destaque para Othon Bastos, excelente como Tancredo, e Paulo Betti, como o cirurgião narcisista e enxerido Henrique Pinotti — prestam um serviço inestimável ao passar a limpo um dos muitos rascunhos desavergonhados entregues à nação.

Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2018, edição nº 2600

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