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A fórmula do chiclete

‘Despacito’, de Luis Fonsi e Daddy Yankee, bateu recorde de streamings e virou propaganda bolivariana. Seu sucesso rende até teorias científicas

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2017, 06h00 - Publicado em 29 jul 2017, 06h00

EM NOVA manobra para eleger uma Assembleia Constituinte controlada pelo regime chavista, e assim sufocar a oposição, o presidente venezuelano Nicolás Maduro sacou uma arma inusitada: a música Despacito. A campanha pró-Constituinte ganhou uma versão bolivariana do hit dos porto-­riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee, trocando os versos românticos da dupla por um hino que promete que a esperança brilhará na alma dos venezuelanos (um insulto num país em que 106 pessoas foram mortas nos últimos quatro meses em manifestações contra o governo). Os marqueteiros bolivarianos não tiveram nada de bobos: desde que foi lançada, em janeiro deste ano, Despacito foi ouvida 4,6 bilhões de vezes. É a recordista mundial de streamings — e atingiu a primeira colocação nas paradas de 35 países. Mas a peça de propaganda de Maduro provocou a fúria de Fonsi e Yankee, que atacaram o ditador em seus perfis nas redes sociais. Enquanto Fonsi chamou o venezuelano de “fascista”, Yankee escreveu, em seu perfil no Instagram: “Apropriar-se ilegalmente de uma canção não se compara ao crime que você cometeu e comete na Venezuela”. O vídeo foi tirado do ar, o que deu pretexto para Maduro denunciar mais uma suposta conspirata imperialista.

O imbróglio se soma a outros sinais que atestam um fenômeno peculiar: a conversão de uma canção não somente em hit, mas em uma espécie de música de fundo incontornável em qualquer situação ou ponto remoto do globo — inclusive dentro da cabeça de quem despreza o Despacito. De tempos em tempos, o mundo revê esse filme: lembre-se do sucesso da também latina Macarena, nos anos 90, ou da engraçadinha Gangnam Style, do coreano Psy, em 2012.

A música ganhou versão de Justin Bieber, que a escutou numa discoteca na Colômbia e a relançou em versão remix dois dias depois. Foi transcrita com uma levada erudita pelo duo 2Cellos. A dupla cubana Los Pichy Boys criou uma resposta a Maduro: Despacito virou Maldito. Ah, sim: Nelson Marchesan Jr., prefeito tucano de Porto Alegre, também surge arriscando seus passinhos num vídeo que fez a alegria da galera do YouTube.

Despacito é uma balada banal apimentada pelo rap libidinoso e pela batida do reggaeton — filhote do reggae cruzado com a música eletrônica e ritmos caribenhos. Darren van Ommeren, coordenador do Aruba Summer Music Festival, uma das maiores festas dedicadas ao ritmo, diz que o segredo está no título e também no refrão do hit. “É uma palavra que fica bem em qualquer língua”, diz. “Despacito” significa “devagarinho” em castelhano. Mas significado aí é o de menos: um dos segredos de sua onipresença é o fato de letra, batida e melodia serem absolutamente anódinas, apesar de contagiantes.

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Há quem veja até razões neurológicas para o sucesso. Daniel Müllensiefen, musicologista da Universidade de Londres, julga que o segredo está na combinação da voz doce e por vezes monótona de Fonsi com o rap acelerado de Yankee. Dessa união sai uma melodia hipnótica, que se fixaria no cérebro dos ouvintes. O produtor espanhol Nahúm García chama atenção para a maneira com que o ritmo da música sofre rebolativos solavancos na hora do primeiro refrão (que é pronunciado assim: “des-pa-ci-to”). Segundo García, isso tem um efeito estimulante: o refrão “torto” faz com que a música mais manjada soe sempre fresca. Devagarinho, o negócio pega.

Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2017, edição nº 2541

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