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A força do blockchain

O bitcoin e outras moedas virtuais são a promessa de uma transformação radical da internet, dos negócios, dos governos e da própria sociedade

Por Don Tapscott*
Atualizado em 18 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 18 Maio 2018, 06h00

A tecnologia mais relevante e impactante da próxima geração já chegou. Não se trata de uma representante das inovações mais conhecidas do momento, como o big data, a inteligência artificial, a robótica ou o armazenamento em nuvem. É o blockchain — literalmente, cadeia ou corrente de blocos. É a tecnologia por trás das moedas digitais, como o bitcoin. Esse avanço, que representa o segundo estágio da internet, tem potencial de transformar o modo como se lida não só com o dinheiro e os negócios, mas ainda com o governo e a própria sociedade como um todo.

Primeiro, é fundamental compreender como surgiu o blockchain. A internet hoje conecta bilhões de pessoas em todo o mundo e certamente revolucionou a forma como nos comunicamos. No entanto, a rede é construída para transmitir e armazenar informações — não valores. Por isso, ela fez pouco para mudar a maneira como lidamos com o dinheiro, como fazemos negócios.

Quando usamos a internet para enviar informações a alguém — um arquivo em PDF por e-mail, por exemplo —, estamos mandando uma cópia desse documento. Funciona bem, enquanto estamos simplesmente compartilhando dados, que podem ser reproduzidos indiscriminadamente. No entanto, ao enviarmos algo de valor, como dinheiro, uma obra de arte ou um texto protegido por direito autoral, ou mesmo um voto em uma eleição, é crucial que não se permita a reprodução desse valor por meio de cópias. E que haja segurança em todo o processo.

Hoje, nas transações mais delicadas, dependemos de intermediários que dão a necessária confiança entre indivíduos e instituições. No mundo atual, quem reconhece nossa identidade e nos ajuda a transferir ativos e liquidar transações financeiras são os bancos, os governos e até mesmo companhias de redes sociais, como o Facebook. Em geral, esses intermediários fazem um bom trabalho.

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Mas há sérias limitações. Eles usam servidores centralizados, que podem ser pirateados com facilidade. Em troca de seus serviços, esses intermediários cobram grande parte do valor que lhes concedemos — seja na forma de dinheiro, seja na forma de dados pessoais. Capturam nossas informações, não apenas nos impedindo de usá-las para nosso próprio benefício, como também muitas vezes minando nossa privacidade. Às vezes, os intermediários não são sequer confiáveis. Muitas vezes são terrivelmente lentos. E em inúmeras situações são excludentes, como ao deixar de fora do sistema financeiro 2 bilhões de pessoas em todo o mundo que não têm dinheiro suficiente para abrir uma conta bancária. O mais problemático de todo esse cenário é o seguinte: grandes intermediários estão colhendo os benefícios econômicos da era digital, de forma assimétrica. Apesar do enorme valor que está sendo criado por esta nova era em rede, a desigualdade aumentou dramaticamente em todo o planeta.

A tecnologia do blockchain é uma promessa de solução para todos esses problemas, ao criar o que se chama de “internet de valor” — é uma plataforma, um livro-razão, uma base de dados global, descentralizada, altamente segura, na qual os valores de diversas formas e fontes podem ser armazenados e trocados sem a necessidade de intermediários poderosos no meio do caminho. Na lógica do blockchain, uma rede descentralizada de computadores verifica transações em “blocos”. Cada bloco recebe uma espécie de carimbo, identificando-o, e está ligado a uma “cadeia”, uma “corrente” longa de blocos semelhantes. Como esse livro-razão, devidamente carimbado, está armazenado em milhares de computadores, e não em um único servidor, é quase impossível hackeá-lo.

É o interesse de todas as partes envolvidas no processo, codificado por meio dessa inovação para o novo meio digital, que garante a segurança e a confiabilidade das transações on-line. É um processo crível, seguro, porque a programação tecnológica é refinada e, justamente por isso, apelidamos o blockchain de “protocolo da confiança”.

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Mas o que você tem a ver com isso?

Talvez você seja um amante de música e queira que os artistas ganhem a vida com sua arte, ou um empreendedor que precisa identificar os proprietários de imóveis para que possa reconstruir suas casas após um desastre. Talvez você seja um cidadão cansado da falta de transparência e responsabilidade dos líderes políticos, ou um usuário de redes sociais que quer lucrar com seus dados, em vez de dá-los de bandeja a grandes empresas cujo modelo de negócios é coletá-los e revendê-los.

Enquanto você lê isso, os inovadores estão criando aplicativos baseados em blockchains que atendem a todos esses fins. Essa tecnologia poderá revolucionar cada aspecto da vida em sociedade. Todos os negócios, as instituições, os governos e os indivíduos devem se beneficiar.

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E quanto às grandes empresas, as corporações gigantescas, que formam o pilar do capitalismo moderno? Diante do surgimento de uma plataforma global confiável, de boa reputação e que liga pessoas a pessoas sem intermediários, as estruturas desses conglomerados empresariais serão redesenhadas. Haverá uma reviravolta, tudo pode virar de cabeça para baixo, pois teremos algo mais parecido com uma rede do que com uma instituição hierárquica.

Os governos também poderão mudar para melhor, uma vez que o blockchain é capaz de tornar as interações com os cidadãos mais transparentes. Como? Com a inserção, num documento digital, seguro e imutável, de — por exemplo — títulos de terra, ou de votos numa eleição, tudo isso garantindo os direitos individuais e dificultando casos de corrupção.

Haverá uma reviravolta, tudo pode virar de cabeça para baixo. Teremos algo parecido com uma verdadeira rede

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Mesmo os negócios que nasceram na era digital deverão sofrer profunda transformação. O impacto do blockchain será imenso. Por exemplo: a chamada “economia de compartilhamento”, que é qualquer coisa menos isso, sofrerá uma chacoalhada. A tal “economia de compartilhamento” é, ainda hoje, o terreno dos grandes conglomerados, como Uber e Airbnb, que atuam como intermediários para estabelecer o elo de confiança entre quem vende e quem compra. A chegada do blockchain a esses empreendimentos será impactante, pois eliminará os intermediários e, aí sim, se criará uma verdadeira economia de compartilhamento.

A inovação também será determinante para o sucesso da internet das coisas? Em um futuro não muito distante, bilhões de objetos inteligentes — de eletrodomésticos a veículos — estarão medindo, comunicando, compartilhando dados importantes, comprando e vendendo até a própria eletricidade que geram. Eles farão de tudo, de proteger o meio ambiente a abastecer casas com suprimentos e gerenciar nossa saúde. E essa internet de tudo exigirá um livro-razão de tudo, fornecido pelo blockchain.

Talvez a maior oportunidade para a tecnologia seja sua capacidade de nos libertar do preocupante paradoxo da prosperidade. Ou seja: a economia global cresce, mas menos gente se beneficia disso. Em vez de tentarmos resolver o problema da desigualdade social apenas por meio da redistribuição, podemos democratizar a oferta de oportunidades para alcançar riqueza. Usando o que chamo de “internet de valor”, que seria transparente e eficiente, todos, de agricultores a músicos, passarão a se beneficiar.

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Tal como aconteceu com as principais mudanças de paradigma que o precederam, o blockchain terá vencedores e perdedores. Mas, se fizermos direito, ele poderá inaugurar uma época de empreendedorismo, com a reinvenção de nossas instituições, sendo assim o alicerce para um mundo mais justo e próspero.

* Don Tapscott, empreendedor canadense, é cofundador do Instituto de Pesquisa Blockchain e autor de dezesseis livros de tecnologia. Esteve no Brasil para a Campus Party

Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583

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