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A era da autonomia

Em pouquíssimo tempo, os carros deixarão de ter motorista. Um extraordinário avanço tecnológico — e o fim do automóvel como símbolo de status e liberdade

Por Da Redação Atualizado em 27 out 2017, 06h00 - Publicado em 27 out 2017, 06h00

Idade da Pedra não acabou por falta de pedra, e a Era do Petróleo vai acabar muito antes de o mundo ficar sem petróleo.” A frase, carregada de ironia, foi dita em 1973 pelo xeque Zaki Yamani, ministro da Arábia Saudita durante o abalo sísmico mundial provocado pelos países árabes ao aumentarem em 400% o preço do barril, em resposta à aliança entre Estados Unidos e Israel na Guerra do Yom Kippur. Passado quase meio século daquela boutade, o fim da Era do Petróleo — pelo menos em relação a seu derivado mais famoso, a gasolina — começa finalmente a roçar a realidade, e não por escassez do óleo negro. Do casamento das preocupações ambientais, que praticamente inexistiam nos anos 1970, com os extraordinários avanços da tecnologia, está a caminho uma espetacular mudança em torno do carro, o príncipe do petróleo.

Os veículos elétricos, menos poluentes, representam hoje mero 0,2% dos 95 milhões de automóveis produzidos anualmente e movidos a combustão. Dentro de quinze anos, chegarão a 30% do total. Plugado na tomada, com baterias cada vez mais eficientes e mais baratas, o carro do futuro dará outro passo, exponencialmente estrondoso, ao expulsar o motorista do volante. Hoje, não há mais que alguns milhares de carros sem motorista no mundo, quase todos em fase de teste. Em 2035, estima-se que serão 10 milhões.

O tempo do carro autônomo, alimentado pela inteligência artificial (IA), desperta, naturalmente, um receio luddista. Uma pesquisa feita pelo Pew Research Center, dos Estados Unidos, mostrou que 87% dos americanos têm medo de automóvel sem motorista; acham que deveria ser obrigatório que alguém se sentasse ao volante para assumir o controle em caso de necessidade. É temor que desaparecerá paulatinamente, com a certeza de que os modelos sem controle humano afastam um paradoxo letal: como uma das maiores invenções da civilização moderna pode ser também uma das mais assassinas da história? É mais de 1,2 milhão de mortes no trânsito anualmente. Estimativas sugerem que, caso nada mude, o número subirá para 1,9 milhão de mortes em 2020, agora também provocadas pela distração fatal de uma geração pendurada no smartphone enquanto dirige.

A segurança é, sem dúvida, a chave para o sucesso dos carros autônomos. Mas a riqueza de informações dos movimentos dos automóveis, agregadas por big data e associadas a mudanças de legislação, deve inaugurar um período quase sem acidentes. Os mesmos americanos que temem carros circulando por aí sem motorista sabem que haverá benefícios: 39% apostam na redução da quantidade de acidentes; 31% imaginam que tudo continuará na mesma; e apenas 30% acham que pode piorar.

O carro sem motorista é hoje a aposta das grandes montadoras, lideradas nos Estados Unidos por Ford, GM e Tesla e na Europa por Audi, Mercedes e Volvo, e também dos gigantes de tecnologia da Califórnia, como o Google e a Uber. Elon Musk, dono da Tesla, que pretende nos levar a Marte e inundar as ruas e estradas da Terra de veículos livres, leves e soltos, arrisca: “Quase todos os carros serão autônomos em dez anos”.

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O fim dos motoristas é também o adeus ao carro como símbolo de status, de liberdade, de independência, além de uma revolução nos costumes e hábitos de nossa civilização. O engenheiro mecânico Hod Lipson e a analista Melba Kurman escrevem em Driverless: Intelligent Cars and the Road Ahead (Sem Motorista: Carros Inteligentes e a Estrada à Frente): “O hábito de dirigir equivale ao ingresso na idade adulta e à conquista da liberdade; sem a necessidade de licença para dirigir, aos 16 anos nos EUA, aos 18 em outros países, o carro deixará de representar o rito de passagem entre a infância e a idade adulta”.

Nas próximas páginas, VEJA faz um passeio pelo universo dos carros autônomos — que, ressalve-se, antes de rodarem ao léu, serão elétricos. A reportagem traz o resultado de um teste exclusivo em um modelo da Uber realizado em Pitts­burgh, nos Estados Unidos, e discorre sobre o que está na iminência de acontecer e o que ainda é especulação. Mas já não há dúvida de que o início do século XXI marca o fim de 100 anos do carro como o conhecemos e a abertura de uma novíssima janela. Nas palavras de Barack Obama, ao comentar as transformações econômicas ocorridas em seu período na Casa Branca: “Os carros autônomos deixaram o campo da ficção científica para virar uma realidade com potencial de mudar totalmente nosso modo de vida”.

Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2017, edição nº 2554

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