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A economia e a física

O que a Venezuela ensina sobre teoria econômica — e o Brasil

Por André Lahóz Mendonça de Barros
Atualizado em 25 ago 2017, 15h20 - Publicado em 25 ago 2017, 06h00

Conta a história que um velho economista hindu reuniu os alunos para um último conselho. Recomendou-­lhes que estudassem com afinco, pois assim poderiam reencarnar como físicos. Já os preguiçosos seriam condenados a voltar como sociólogos. A anedota ilustra uma conhecida característica dessa tribo, a autodepreciação. E mostra também outro aspecto: o fascínio pela certeza matemática. Para azar dos economistas (e dos sociólogos), a natureza das ciências sociais é bem mais complexa — e imprevisível.

Nos últimos anos, porém, a economia começa a avançar numa área nova: a dos experimentos controlados. O nome mais estrelado é o prêmio Nobel Daniel Kahneman, um psicólogo convertido. Ele e outros vêm testando empiricamente as reações humanas, como se estivessem em laboratórios. É uma estratégia particularmente útil no terreno das finanças, pois permite testar nossa relação com o dinheiro — por exemplo, o que acontece com o apetite para o risco depois de uma série de acertos no mercado financeiro. A premissa de que somos sempre racionais tem saído seriamente abalada dessas experiências.

Mas as grandes questões nacionais ficam de fora dessa nova perspectiva. Uma coisa é analisar algumas pessoas por meio de um computador; outra bem diferente é fazer experiências com países inteiros. Curiosamente, estamos assistindo a um raríssimo caso de laboratório econômico em escala nacional: o inacreditável desmonte da economia da Venezuela. Se alguém tivesse de conceber um experimento real para comprovar o que não funciona na macroeconomia, dificilmente viria com algo melhor do que o que Hugo Chávez e Nicolás Maduro impuseram ao país. O controle de preços e de câmbio está entre os erros clássicos. No câmbio, foi adotado um sistema confuso em que convivem duas taxas oficiais — além do mercado negro. O governo desapropriou 1 200 empresas, enquanto outras tantas fecharam por não conseguir acompanhar os reajustes do salário mínimo e o controle de preços em plena recessão. A Sidor, siderúrgica expropriada em 2008, produzia então 4 milhões de toneladas de aço. Neste ano, deve produzir 135 000. A petroleira estatal PDVSA demitiu 20 000 funcionários, muitos deles técnicos perseguidos politicamente, substituídos por “companheiros”. A produção caiu 16% desde 2013. O país tem 511 estatais, 70% das quais dão prejuízo. O déficit público é estimado em 20% do PIB. A economia encolhe desde 2014. A inflação disparou. O desespero por comida é tal que até animais do zoológico têm desaparecido.

É curioso notar a reação da esquerda brasileira. Chávez foi durante muito tempo um líder inconteste. O que fazer agora que a festa acabou? Duas opções: morrer abraçado com Maduro ou tocar a vida. A senadora petista Gleisi Hoffmann, falando em nome do partido que preside, saiu em defesa do regime bolivariano. Foi seguida por vários cardeais do PT, embora não por Lula. Pode até animar o que resta de militância. Mas afasta mais e mais os eleitores que deram ao partido a Presidência por quatro eleições consecutivas.

Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2017, edição nº 2545

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