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A descoberta do Brasil

Em texto exclusivo, Lázaro Ramos narra a experiência de rodar o país atrás de talentos e dramas anônimos no programa que estreia neste domingo na Globo

Por Lázaro Ramos
Atualizado em 8 dez 2017, 06h00 - Publicado em 8 dez 2017, 06h00

“QUIS OUVIR AS PESSOAS”

“Domingo à tarde é um horário de grande disputa e conhecido por ser um momento da família. A gente costuma dizer na TV que é um período assim porque a família já terminou de almoçar, levantou do cochilo e está ali para encontrar uma companhia que lhe agrade. Como juntar todos os desejos de inovação e ser relevante num horário que parece reunir todas as idades e classes sociais? Essa foi a primeira pergunta feita por mim e minha equipe. A resposta acabou se desenhando no nosso desejo de trazer mais vozes anônimas para a TV aberta, mostrar os talentos que temos no Brasil, a diversidade de pensamento. Quis ouvir essas pessoas.”

“INTERNET NÃO É SÓ ÓDIO”

“Meu diretor, Rafael Dragaud, me provocou ao dizer que não necessariamente os encontros acontecem apenas no corpo a corpo, e que a internet também é um lugar onde as pessoas se encontram. Minha primeira reação foi rejeitar isso, pois eu tinha uma visão da internet como um lugar em que se propaga certo ódio e em que muitas pessoas vomitam verdades e teses feitas que não nos proporcionam diálogos. Em princípio, eu não estava animado com a junção da rede com as ruas. Só que percebi que o poder da internet é tão grande que eu não poderia desprezá-la. De início, ao menos 20% do material que produzimos veio da internet. Mas podemos chegar ainda mais longe. Da internet, enfim, agora sei que não se extrai somente ódio, mas força criativa e interação.”

“A ENERGIA DAS RUAS SE IMPÕE”

“A segunda fase foi sair para a rua. Uma rua que, assim como a internet, em princípio parecia esfacelada. Num momento em que o debate político, as denúncias de corrupção e o desemprego estão pulsando, a energia das ruas se impõe. Meu desejo era falar de ética, educação, honestidade e afeto. Tudo isso sem ser ingênuo, porque sei que há a necessidade de entreter, dar ibope e atrair pessoas para a TV. E o principal: tentando não ser parcial. Mas como fazer isso num momento em que a brutalidade e a insatisfação estão tão presentes? Como gravar um quadro em que deixo a pessoa falar livremente sem ser deprimente? Aí começou um certo sofrimento. Rodar o Brasil significava ver o que estava acontecendo de fato, e decidi ser honesto com o que iria encontrar.”

“NO RIO ENCONTREI INSATISFAÇÃO”

“Gravamos no Rio de Janeiro num período em que muitos conflitos armados aconteceram e de insatisfação com os governantes. Mesmo assim, fui para a rua. E o que as pessoas nos perguntavam? ‘Será que esse país tem jeito?’, ‘Quando essa onda de corrupção vai passar?’, ‘Em quem vou votar para presidente em 2018?’ Eu não conseguia achar uma agenda positiva, tudo vinha com dor e descontentamento. E o fato de me oferecer como ouvido muitas vezes me fez encontrar até pessoas agressivas. E aí, para me relacionar com essas pessoas que o Brasil criou, só tinha uma alternativa: ser afetuoso, apesar da barbárie que grita.”

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“SÃO PAULO É IMPREVISÍVEL”

“Saindo do Rio, fui para São Paulo. Já um pouco mais experiente, mas sabendo que descobriria um novo mundo. Eu iria gravar na Paulista, centro de protestos e local de muitas histórias, pessoas e pensamentos. Cheguei com medo! Confesso que, para perguntar no meio da Avenida Paulista ‘que pergunta você quer fazer?’ ou ‘se você pudesse mudar alguma coisa, o que seria?’, achei que todas as respostas seriam ligadas à política. E São Paulo me surpreendeu, pois não foi isso que aconteceu. As pessoas percebiam alguém disposto realmente a escutar e falavam das mais variadas coisas, desde indagações sobre estética até que profissão seguir. São Paulo acabou por me explicar por que é tão… múltipla. Previsibilidade? Nenhuma!”

“EM BRASÍLIA, SENTI UM FIO DE FÉ”

“Há muito tempo não ia a Brasília. E pela primeira vez tive uma sensação ao ver a Esplanada dos Ministérios, o Planalto. Das outras vezes que lá estive me lembrava de momentos históricos, como a votação das Diretas Já. Dessa vez, tinha um gosto amargo. Ver o lugar de maior influência política do país me trouxe uma sensação de desencaixe. Mas as pessoas me receberam bem. Talvez a gravação mais emocionante do quadro Lazinho Me Representa tenha acontecido em Brasília, porque pude resgatar a relação de um casal. Mas, logo no primeiro dia, encontrei um grupo com posições políticas diferentes das minhas. Depois de meia hora de conversa, conseguimos um diálogo pacífico, apesar das divergências. Nós nos aproximamos em algum lugar, ainda que esse lugar seja o da dúvida de que caminho seguir. E aí a agenda positiva se impôs. Mesmo na cidade que eu olhava com desesperança surgiu um fio de fé.”

Agenda positiva – Lazinho e equipe na Paulista: surpresas e papos políticos (Patricia Stavis/TV Globo)

“EM BH, OUVI UM MORADOR DE RUA”

“Em Belo Horizonte, no primeiro dia, fui para uma praça. E, curiosamente, foi o primeiro lugar em que encontrei muitos moradores de rua. Um deles me chamou e começou a falar sobre a falta que sentia de afeto até entre os moradores de rua. O que ele queria me dizer é que ele se sentia no direito de receber afeto também. Era um pedido? Uma denúncia? Deixei ele falar pelo tempo que quis. O morador de rua reforçou para mim o sentido de fazer um programa otimista.”

“ME SENTI EM CASA EM SALVADOR”

“Terminei as gravações em Salvador, minha terra. Onde fui acolhido como sempre, onde encontrei humor e leveza, onde tive o prazer de apresentar para a equipe as belezas de minha cidade, os artistas talentosos que aparecem no programa. A sensação de estar em casa e de saber a língua que se falava foi muito forte. Contudo, penso que talvez seja disso que estamos precisando: retornar a valores fundamentais como o afeto, a ética, a proximidade e, assim, redescobrir as coisas para escrever uma nova história.”

Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560

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