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A chantagem de Kim

Os testes nucleares e balísticos dos últimos anos foram uma preparação do ditador norte-coreano para fazer exigências descabidas aos EUA e à Coreia do Sul

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 mar 2018, 06h00 - Publicado em 9 mar 2018, 06h00

Em novembro do ano passado, um ano depois de fugir da Coreia do Norte para a do Sul, o diplomata Thae Yong-ho deu um depoimento em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Congresso americano. Thae foi claro ao dizer que o ditador Kim Jong-un vê no desenvolvimento dos mísseis balísticos uma maneira de evitar a desintegração de sua dinastia. Para ele, a prosperidade da Coreia do Sul é uma ameaça constante. Mas, para neutralizá-la, não basta amedrontar o vizinho. É necessário exigir que sejam retirados da península os militares americanos, cuja presença dá segurança aos que investem no país. “Ele acredita que isso pode ser feito ameaçando seriamente os Estados Unidos com armas nucleares”, disse Thae. Kim, portanto, repete a estratégia dos seus dois antecessores no comando da Coreia do Norte: o pai, Kim Jong-Il, e o avô, Kim Il-Sung.

Quatro meses depois do depoimento de Thae em Washington, Kim seguiu à risca o roteiro da chantagem. Em um inédito encontro com diplomatas da Coreia do Sul na segunda-feira 5, ele afirmou que estaria disposto a abrir mão de seu programa nuclear caso recebesse garantias de que o país não será atacado e de que seu governo será respeitado. Ficou acertado que ele se encontrará em abril com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, na zona desmilitarizada que separa os dois países, para discutir os próximos passos de uma negociação. Em algum momento, ele vai pôr na mesa a exigência da retirada de armas e tropas americanas da Coreia do Sul.

Acatar o pedido de Kim seria deixar 50 milhões de habitantes à mercê do “homenzinho do foguete”, na expressão usada pelo presidente americano Donald Trump. Durante cinco décadas, a dinastia Kim perseguiu o programa nuclear. Dificilmente ele estaria disposto a abrir mão de tudo em nome das boas intenções. “Baseado nas negociações anteriores, duvido que a Coreia do Norte esteja aberta para seguir um processo de desnuclearização que seja transparente, verificável e irreversível”, diz Lisa Collins, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. Trump tentou faturar com a situação dizendo que o gesto de Kim foi uma reação às suas sanções econômicas. Outro fator que supostamente arrefeceu as tensões foi o convite da Coreia do Sul para que os atletas do Norte participassem dos jogos olímpicos de inverno, em Pyeongchang. “Ambos os fatores contribuíram”, acredita Scott Snyder, diretor de programa sobre políticas dos Estados Unidos e Coreia do Norte do Conselho de Relações Exteriores.

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Ao erguer um ramo de oliveira, contudo, Kim não fez nada diferente de seus antecessores. Como afirmou o desertor Thae, o retorno ao diálogo já estava programado. Kim apenas esperou o tempo necessário para que estivesse em uma posição de mais força antes de voltar à mesa de negociações. No fim do ano passado, ele fez um teste com uma bomba de hidrogênio quase 100 vezes mais poderosa que as anteriores, e lançou um míssil balístico capaz de chegar aos Estados Unidos. Quando se sentar com seu antagonista da Coreia do Sul, ele poderá exigir inúmeras concessões das potências ocidentais, como contêineres de comida e remédios, um abrandamento das sanções ou o fim das manobras militares conjuntas de americanos com sul-coreanos. Nos últimos dias, a agência oficial da Coreia do Norte publicou fotos de Kim Jong-un apertando as mãos dos enviados da Coreia do Sul e oferecendo a eles um banquete ao lado de sua irmã mais nova, Kim Yo-jong. Em fevereiro, ela levou pessoalmente para Moon o convite para o encontro. Kim está radiante.

Com reportagem de Thais Navarro

Publicado em VEJA de 14 de março de 2018, edição nº 2573

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