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A bolsa e os bolsos

O ingresso de uma multidão de investidores ao Ibovespa pode trazer avanços, mas o governo precisa fazer a sua parte

Por Da Redação 28 ago 2020, 06h00

Invenção europeia que remonta ao século XV, o conceito de bolsa de valores chegou ao Brasil pouco depois da família real portuguesa. O primeiro estabelecimento do tipo foi fundado em Salvador, em 1817, seguido pela bolsa do Rio de Janeiro, em 1820. Na ocasião, eram espaços destinados à negociação de moedas, letras de câmbio, mercadorias, gado, seguros e fretes de navio. Nas duas décadas posteriores, os pioneiros do mercado de ações brasileiro passaram a vender e comprar papéis das estatais do país recém-independente, mais tarde acrescido de ações de empresas privadas. Nos anos finais do século XIX, foi criada a Bolsa Livre de São Paulo, aquela que 100 anos depois se tornaria a mais importante do país, concentrando todo o mercado de capitais e de futuros, a atual B3.

Ao longo de pouco mais de dois séculos, construiu-se uma história recheada de altos e baixos, em que a incontestável capacidade de gerar riqueza se alternou com episódios fortemente especulativos, quebradeiras, euforia e estagnação, como comprovam quatro capas de VEJA dedicadas ao assunto e retratadas nas imagens acima. Nos últimos meses, o mercado de capitais brasileiro embarcou em mais um momento pivotal de sua trajetória — nesse caso, ressalte-se, extremamente positivo. De março a julho, cerca de 900 000 brasileiros inscreveram o CPF na B3 para aplicar suas economias em ações. É um número espantoso quando se considera que, entre 2007 e 2017, a bolsa brasileira contabilizou um contingente de não mais de 620 000 investidores com esse perfil. Atraídos pelas perspectivas de ganhos mais promissores, tais novatos fazem parte de uma multidão que busca rendimentos mais substanciais que os mirrados retornos de outras aplicações vinculadas às taxas de juros descendentes estabelecidas pelo Banco Central.

Atualmente, o pelotão de pessoas físicas na bolsa ultrapassa 2,8 milhões de investidores, um fenômeno detalhado e explicado na reportagem que começa na página 46. Obviamente, a estreia de tantos calouros não se dá sem alguma emoção. Muitos dos recém-chegados já enfrentaram em seu batismo de fogo o solavanco provocado pelo novo coronavírus. As incertezas sobre a economia causadas pela epidemia em escala global corroeram em cerca de 60% o índice das principais ações negociadas na B3, o Ibovespa. Passado o susto, o Ibovespa se recuperou e está próximo do patamar pré-crise, na faixa dos 100 000 pontos.

O ingresso de tantos investidores ao Ibovespa sinaliza uma benéfica migração de recursos, vindos de um contingente que se acostumou a retornos quase garantidos de 1% ao mês e agora quer arriscar. Trata-se de um aprendizado complexo, sujeito a mares revoltos e boataria, mas que pode se converter em um importante ciclo virtuoso para o Brasil: capital para as empresas listadas gerarem inovações, crescimento, empregos e, acima de tudo, lucros para quem nelas aplica seu dinheiro. Para que esse melhor cenário aconteça, porém, será mandatório que o governo faça sua parte, respeitando as premissas do teto de gastos, aprovando as reformas necessárias e transmitindo confiança aos investidores estrangeiros. A oportunidade, de fato, existe. Resta saber se vamos aproveitá-la.

Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702

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