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‘O diabo existe. Não tem discussão’, diz o exorcista Rubens Miraglia

'A maioria das coisas ruins acontece por iniciativa da própria pessoa', afirma o padre católico

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 dez 2019, 07h00 - Publicado em 13 dez 2019, 06h00

Rubens Miraglia é um dos poucos especialistas da Igreja católica a falar abertamente sobre sua função. Na entrevista a seguir, ele conta detalhes de sua rotina, critica o rito praticado pelos protestantes, elogia o filme O Exorcista e diz que alguns tipos de música são obras de Lúcifer.

Como é o diabo? É um anjo que decaiu por ter traído a Deus. É um espírito e tem forma material semelhante à de Deus. Não tem chifres nem solta fogo. E não há só um. O demônio é um nome genérico referente a Lúcifer. Nas Escrituras fala-se de milhões deles. Eles vivem no inferno ou nos rondando. São seres com uma inteligência muito superior à nossa. E transformam todas as potencialidades do bem que receberam de Deus para fazer o mal.

Para quem não acredita, como o senhor diria que uma pessoa está possuída? Minha filha, o diabo existe. Não tem discussão. E a pessoa que fica transformada pode dizer coisas destruidoras, tornar-se visivelmente um fantoche. Mas a regra é excluir de cara qualquer possibilidade de se tratar de uma doença psiquiátrica ou de uma mentira. Há métodos muito bem estabelecidos para isso. Em primeiro lugar, se a pessoa que está possuída me procurar, desconfio. Como o diabo vai pedir para sair? Tem de ser alguém próximo. A pessoa possuída grita com água benta e tem a sensação de queimação quando eu assopro. O doente e o mentiroso não.

Todo mal praticado é obra do demônio? A maioria das coisas ruins acontece por iniciativa da própria pessoa. Você acha que o demônio vai fazer alguém matar? Trair? Roubar? Isso é coisa de caráter. O demônio age de formas específicas. A vexação, que é a menos invasiva, é como se a pessoa estivesse em casa e um louco começasse a estragar o jardim, arrancar a roupa do varal e agredi-la fisicamente, com queimaduras e cortes. A obsessão se dá quando o demônio está dentro da cabeça dela, falando coisas destruidoras. Na possessão, a mais conhecida, o demônio bloqueia a vontade de uma pessoa de tal forma que ela se torna um fantoche. E a infestação ocorre quando o mal é feito por meio de um objeto ou animal.

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Como os exorcistas são vistos pela Igreja Católica? Sabe aquele ditado: “Aquilo que não conheço eu desdenho ou eu temo”? Ou as duas coisas juntas. Há muita resistência. Dom Odilo Scherer, de São Paulo, um dos cardeais mais importantes do país, por exemplo, nunca nomeou um exorcista e nunca vai nomear. Tivemos no país um período muito triste na religião católica, com a forte influência da Teologia da Libertação. Seus adeptos abandonaram a tradição teológica e supervalorizam questões sociais. Dom Odilo não simpatiza com eles, mas certamente o movimento ainda reina no país, sobretudo na sua Igreja, a diocese de São Paulo.

Qual é a sua opinião sobre o exorcismo praticado pelos protestantes? Nossa prática jamais permitiria coisa parecida. Para início de conversa, eles partem do princípio de que a pessoa que chega com um comportamento incomum já está possuída. O exorcismo católico não tem marketing. É reservado. Já vi protestante pegar a Bíblia e bater na cabeça da pessoa como se fosse pela pancada que se expulsa o demônio. Bater com a Bíblia é como chicotear o ar, além de machucar a cabeça da vítima e cansar o braço do pastor.

O senhor viu o filme O Exorcista? Mais de uma vez. Não é de todo ruim. Não chega a ser um desserviço, mas é espetacular demais. Aquele negócio de vomitar, virar a cabeça, isso é espetáculo puro. O bom é que ajudou as pessoas a perceber a existência dessa realidade.

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Muitos dizem que a música pode ter influência demoníaca, como nos grupos de heavy metal. O senhor concorda? Sem dúvida são coisas do capeta. Não só o heavy metal, como as outras vertentes do que chamo de rock satânico. Essas músicas fazem a pessoa perder a capacidade de separar o belo do feio. O ouvinte age mais por instinto do que com a razão, e isso facilita a chegada do demônio. Mas a influência satânica está também nas músicas que atentam ao pudor. O sertanejo de hoje em dia, por exemplo, só fala de sexo e de dores de corno. Antes a música caipira falava de campo e de amor. Fio de Cabelo, do Chitãozinho & Xororó, foi o divisor de águas nesse ritmo.

É possível se proteger do demônio? São Pedro diz que o demônio é um leão rugindo ao redor, esperando a ocasião para atacar. O demônio tenta todas as pessoas, mas um número muito pequeno é pego. Minha recomendação é a seguinte: tenha uma boa vida cristã, confesse-se com frequência na igreja, vá à missa aos domingos, reze todos os dias.

O senhor já foi tentado? Não sou um privilegiado. Já fui tentado pelo pecado da gula, da impaciência. Não fico imune a esses chamados. Mas me protejo sendo um bom cristão.

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Publicado em VEJA de 18 de dezembro de 2019, edição nº 2665

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