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Waldir Maranhão, o especialista em recuos

Alçado à presidência interina da Câmara em aliança com Eduardo Cunha, o deputado lembra Severino Cavalcanti

Por Kalleo Coura 2 jul 2016, 15h34

O presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), demonstrou na semana passada mais uma vez a sua principal característica desde que assumiu o cargo: a de tomar decisões e em seguida recuar como se nada tivesse acontecido.

Primeiro, concedeu duas semanas de folga de São João. Diante das críticas, recuou e marcou duas sessões, para depois voltar atrás novamente e desmarcar uma delas – mas, sempre sem descontar o salário dos ausentes. Em seguida, diante de mais críticas por ter liberado as horas extras nas sessões noturnas, um gasto de 700 000 reais adicionais por sessão, voltou atrás mais uma vez.

Não que a indecisão de Maranhão seja uma surpresa. Em seu voto na sessão do impeachment de Dilma Rousseff, em abril, ele já havia deixado seus colegas confusos. Depois de jurar fidelidade a Cunha, inimigo declarado da petista, declarou: “Em defesa da Constituição, em defesa da democracia, não. Sim. Não ao golpe”, e votou contra o impeachment.

A diferença é que agora ele está no comando da Câmara, um dos postos mais relevantes da República. Assim que se assentou lá, mostrou a capacidade de provocar estragos no novo posto: chegou a anular a sessão do impeachment de Dilma – teve de recuar mais uma vez, depois que Renan Calheiros classificou o ato de “brincadeira com a democracia” e continuou os trabalhos no Senado.

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A trajetória de Maranhão rumo à cúpula do Legislativo começou quando foi eleito vice-presidente da Câmara em uma aliança com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em 2015. Na época, vangloriou-se: “É uma conquista do povo do Maranhão, do povo brasileiro e, em particular, da minha pessoa”. Quatorze meses depois dessa data histórica (para o deputado), e passados 184 dias de um processo contra Cunha no Conselho de Ética, o Supremo Tribunal Federal afastou o presidente da Câmara, alçando Maranhão ao posto.

Desde então, o deputado teve uma atuação capaz de dar saudades de Severino Cavalcanti, que sentou na mesma cadeira onze anos antes e acabou derrubado por um mensalinho de 9 000 reais.

Veterinário de formação, Maranhão foi reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde também teve um período como funcionário fantasma. Recebeu 368 000 reais em salários como professor enquanto dava expediente em Brasília. Uma de suas áreas de pesquisa, sobre a qual escreveu quatro estudos, eram os asnos – os animais. Um de seus filhos também foi funcionário fantasma no Tribunal de Contas do Maranhão.

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Colegas do deputado atribuem os seguidos recuos mais a confusão mental que a alguma tática política. O deputado Beto Mansur (PRB-SP) conta que o próprio Maranhão já admitiu a ele que “não consegue” dirigir a Câmara sozinho e lhe pediu ajuda.

Mansur ou o deputado Fernando Giacobo (PR-PR) são quem costuma presidir os trabalhos no plenário, por exemplo. De 32 sessões deliberativas realizadas desde que assumiu a presidência, Maranhão presidiu apenas cinco.

Típico integrante do baixo clero, Maranhão responde a três inquéritos no Supremo, um deles ligado à Lava-Jato. Segundo o delator Alberto Youssef, Maranhão passava de vez em quando em seu escritório para conversar ou recolher propinas.

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Os próprios deputados estudam uma maneira de tirar Maranhão da presidência da Câmara, mas isso não é simples, já que as próximas eleições só devem ocorrer em fevereiro do ano que vem – outras hipóteses seriam a cassação ou a renúncia à presidência por parte de Cunha, cujo processo no Conselho de Ética se arrasta há sete meses. Uma conquista do povo do Maranhão, do povo brasileiro, mas não da pessoa do deputado, seria vê-lo fora do cargo.

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