Vaccari cobrou propina em forma de doações ao PT, relata empreiteiro
Vice-presidente da Engevix afirma que repasse ao partido variava entre 0,5% e 1% do valor dos contratos - e pagamento era feito pela diretoria de Serviços
O vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, afirmou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta terça-feira que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Milton Pascowitch pediram que a empresa – uma das integrantes do clube do bilhão – fizesse doações a petistas como forma de repasse de propina ao partido. Almada foi preso em 14 de novembro pela Polícia Federal, na oitava fase da Operação Lava Jato, batizada de Juízo Final. Ele pediu para ser ouvido por Moro alegando que tinha “contribuição relevante” para prestar à investigação.
Leia também:
Clube do bilhão pagou 8 milhões de reais a José Dirceu
Saiba quem eram os clientes do ‘consultor’ José Diceu
Pascowitch, amigo próximo do ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado José Dirceu, se comprometeu, segundo Almada, a mediar as relações partidárias da companhia. “A ideia dele [Pascowitch] era fazer com que a nossa empresa ficasse conhecida pelo partido, já que nós não tínhamos relacionamento nenhum, fazer apresentações de pessoas. Se eu tivesse a intenção de participar de outras concorrências, ele me proporia ajudar. Nesse relacionamento estaria envolvido o repasse de valores, um percentual dos contratos que variava de 0,5% a 1%”, relatou o empreiteiro.
O nome do lobista foi detectado também na lista de supostos clientes da “consultoria” de Dirceu. No rol de contratantes compilados pela Receita Federal, aparece a Jamp Engenheiros Associados, uma empresa Pascowitch, empresário que foi alvo da nona fase da Lava Jato, batizada de My Way – ela pagou 1,457 milhão de reais para Dirceu.
Almada disse ainda que Dirceu fazia “lobby internacional” em nome da empreiteira depois de ter se “colocado à disposição” para atuar em nome da construtora. A Engevix pagou pouco mais de 1 milhão de reais à JD Consultoria, conforme mostrou o site de VEJA. Para os investigadores, há indícios de que os pagamentos representam, na verdade, propina ao mensaleiro. Reservadamente, interlocutores da Engevix admitem que nunca houve prestação de serviços da companhia em Cuba, países da América Latina e na África, locais onde Dirceu supostamente faria lobby.
“Dirceu se colocou à disposição para fazer um trabalho junto à Engevix no exterior, basicamente voltado a vendas da empresa em toda a América Latina, Cuba e África, que é onde ele mantinha um capital humano de relacionamento muito forte”, disse Almada, ao relatar o acerto com o petista. Segundo o depoimento do empreiteiro, Pascowitch estava na reunião em que se acertaram os contratos. O lobista tinha funções complementares às de Dirceu – coube a ele, por exemplo, pedir à construtora doações para a campanha do filho de Dirceu, o atual deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).
Tradição – Ao juiz Sergio Moro, o vice-presidente da Engevix chegou a classificar como “tradição” o pagamento de dinheiro da companhia a lobistas com trânsito nas diretorias da Petrobras. “Todas as empresas que prestam serviço contribuíam para a Petrobras através de alguém: ou direto, ou por caixa dois, ou fora do país. Pagavam para estar nos certames e não ser prejudicadas”, disse. “Já era uma tradição [pagar] porque eu já tinha esse vínculo com os contratos da diretoria de Serviços [comandada por Renato Duque, indicado pelo PT]. Em outros contratos que não eram da diretoria de Abastecimento já existia um tipo de relacionamento partidário de pessoas que faziam o meio de campo entre eu, as empresas e os partidos. Foram pagos valores que garantiam que a gente continuasse trabalhando”, completou ele.