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Usuários de app reclamam de calote de empresa que fazia propaganda ao PT

E-mail obtido por VEJA diz que os pagamentos seriam feitos aos ativistas digitais todo dia 25 a partir de agosto

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 ago 2018, 16h23 - Publicado em 30 ago 2018, 18h29
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  • Usuários do aplicativo Follow, responsável por pagar influenciadores digitais para fazer elogios a candidatos petistas nas redes sociais, reclamam de ter tomado um calote da agência de marketing digital de mesmo nome responsável pelo app. As queixas começaram a aparecer na página do aplicativo na Play Store entre os dias 21 e 24 de agosto, antes de o caso vir à tona no domingo 26.

    “O app é bom, bem tranquilo de usar. Mas notei que não estão sendo contabilizados os pontos de compartilhamento do Twitter (…). Completados os 30 dias e ainda não recebi”, diz uma usuária identificada como Mariana, no dia 24. Outra internauta, Adriana, escreve que não recebeu o pagamento referente a julho e agosto e que ainda a “instruíram a baixar um novo app para fazer pré-campanha pra partido político”. “Independente das minhas convicções partidárias, achei um golpe baixíssimo pra atrair gente com falsa promessa de renumeração”, disse ela, em comentário publicado no dia 21 de agosto.

    Adriana se referia ao aplicativo Brasil Feliz de Novo, usado para fazer campanha para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad, seu vice. Os usuários do Follow começaram a ser orientados a migrar para o app da campanha. Tanto o Follow como o Brasil Feliz de Novo foram desenvolvidos pela empresa Follow Análise Estratégicas, de propriedade do deputado federal Miguel Corrêa Júnior (PT-MG), que agora concorre a uma vaga ao Senado ao lado de Dilma Rousseff. Em vídeo publicado na última terça-feira, Corrêa negou que tenha feito pagamentos aos usuários do aplicativo. O artigo 57 da lei eleitoral veda a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, com exceção do impulsionamento de conteúdo, desde que seja identificado de “forma inequívoca” como tal.

    Mas dois vídeos feitos por um ex-assessor de Corrêa e funcionário da Follow, Breno Nolasco, contrariam o que foi dito pelo deputado. Neles, Nolasco tira dúvidas dos ativistas digitais que querem saber como serão renumerados pelos posts. Ele não faz distinção entre os aplicativos e diz que, para receber os pagamentos, é preciso cumprir as metas diárias que aparecem “nos aplicativos do Lindbergh, da Marcia [Tiburi] e no Brasil Feliz de Novo”. “É só clicar na estrelinha vermelha. (…) Nós estamos aqui para organizar uma ação e um trabalho. E que vocês ganhem cada vez mais dinheiro com isso”, completa.

    VEJA teve acesso a três e-mails enviados no início de agosto que mostram como a agência Follow fez o recrutamento de ativistas de esquerda nas redes sociais. No primeiro e-mail, um funcionário da agência Lajoy, parceira da Follow, diz que a ideia é “pautar causas de ativismo, sem sinalizar realmente ser uma ação política” e que o trabalho será renumerado. No segundo, o mesmo funcionário informa que o projeto “não tem nenhum tipo de ligação com candidato”, que a intenção é “dar visibilidade às minorias”, que a verba disponível é de 2.000 reais e que a ação deve durar dois meses (ou seja, durante as eleições). No terceiro, uma funcionária da Follow detalha melhor a ação em tópicos: O que deve ser publicado? “Notícias sobre a esquerda brasileira. Exemplo: Lula, Manuela e Haddad na aliança PT e PCdoB”. Quando será depositado o pagamento? “O pessoal da Lajoy vai cadastrar vocês como fornecedores para fazermos o pagamento todo dia 25”.

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    No dia 26 de agosto, o caso da compra de elogios a candidatos petistas veio à tona por meio de uma série de tuítes publicados pela jornalista e ativista de esquerda Paula Holanda. Ela topou participar da ação porque ganharia dinheiro com o que já costuma fazer de graça – disseminar pautas de esquerda; e escreveu que se sentiu enganada ao saber que o PT estava por trás daquilo. “O combinado foi manter sigilo sobre a ação, mas o combinado também foi que a ação seria de esquerda, não uma ação partidária”, postou.

    A agência Lajoy a colocou num grupo de WhatsApp, que passou a instruí-la a fazer postagens em prol da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do candidato ao governo de São Paulo Luiz Marinho. Até aí, tudo bem, concordava com as ideias dos dois candidatos. Até que lhe pediram que postasse uma matéria elogiosa ao candidato do PT ao governo do Ceará, Wellington Dias, com quem não tinha afinidade ideológica. Irritada, ela pediu explicações aos administradores do grupo, que a excluíram. Ela, então, resolveu contar o caso no Twitter. “O silenciamento só reforçou que essa ação fedia”, escreveu.

    (Com reportagem de André Lopes)

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