Uma campanha difícil: como o governo trabalha para tentar encerrar o imbróglio sobre Messias
Num cenário em que a oposição apareça marchando à frente nas pesquisas, a indicação pode até afundar de vez
O advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, se programou para ir pessoalmente visitar todos os 81 gabinetes do Senado em busca do apoio de que precisa para ser confirmado como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele preparou o discurso sob medida para alguns ouvidos, com críticas ao ativismo da Corte, promessas de não criminalizar a classe política e o compromisso de que, embora petista de carteirinha e forjado nos governos do PT, não seria a extensão do partido nem do Palácio do Planalto na instância máxima do Judiciário brasileiro. Na terça-feira 2, véspera da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que analisaria a indicação, governo e oposição concluíram que nenhum dos dois lados tinha certeza absoluta de ter votos suficientes para aprovar ou rejeitar o relatório que seria apresentado. Por conta disso, o Planalto não formalizou a indicação. Aproveitando a brecha, o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), também cancelou a sabatina que, no próximo dia 10, coroaria o embate público que ele trava com o Executivo desde que Lula anunciou sua escolha. A temperatura, nesse caso, deve baixar, mas só momentaneamente, já que nenhum dos dois lados se dispôs a baixar a guarda.
Empenhado em uma cruzada para tentar impor a primeira rejeição de um ministro do STF em mais de 130 anos, Alcolumbre está obrigando Jorge Messias a enfrentar situações constrangedoras desde que seu nome foi apresentado como candidato a sucessor do ministro Luís Roberto Barroso. O advogado já repetiu seu discurso para mais de quarenta senadores, soube que certos aliados confidenciaram depois de sua visita que votariam contra ele, foi ignorado por alguns, ouviu desculpas esfarrapadas de outros que não se dispuseram a recebê-lo e detectou traições dentro da própria base governista. Para completar, na quinta-feira 4, a CPI mista do INSS tentou mais uma vez convocá-lo a depor para cobrar explicações sobre a atuação da Advocacia-Geral no caso dos aposentados que tiveram suas pensões desviadas por uma quadrilha que operou, sem ser incomodada, ao longo dos últimos anos. Até agora o candidato sequer conseguiu se apresentar a Davi Alcolumbre, que aproveitou para classificar como “omissão grave e sem precedentes” a postura do Planalto de lançar mão de uma artimanha para forçar o adiamento da sabatina.
O nome de Messias, momentaneamente colocado numa espécie de limbo, nunca foi consenso nem na classe política nem no STF, muito menos junto ao presidente do Congresso, que defendia a escolha do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para o cargo. Mais do que nunca, a aprovação do advogado-geral dependerá da habilidade do presidente da República em desarmar as bombas plantadas pelos adversários na tentativa de inviabilizar a confirmação. Na segunda-feira 1, Lula se reuniu com os senadores Otto Alencar e Weverton Rocha, presidente e relator da comissão que vai instruir o processo. No encontro, por mais bizarro que pareça, Weverton se apresentou como o “good cop”, o agente bonzinho dos filmes policiais, disse estar disposto a ajudar no que fosse possível e abriu canais de interlocução para o candidato. Weverton, ressalte-se, é aliado e amigo de Davi Alcolumbre, o “bad cop”. É esperado que o senador se reúna com o presidente da República nos próximos dias. Lula também conversou com os governistas Jaques Wagner e Omar Aziz e pretende convocar senadores tidos como estratégicos para avaliar os riscos de rejeição do nome de seu escolhido para o STF, caso a votação ocorra ainda este ano.
O Palácio do Planalto trabalha para tentar encerrar o imbróglio no máximo até 17 de dezembro, às vésperas do recesso do Congresso, mas não descarta que, por falta de votos para a aprovação, a sabatina e a apreciação do nome de Messias pelo plenário do Senado ocorram apenas no ano eleitoral de 2026, ainda que, neste caso, corra o risco de que interesses políticos empurrem o processo para as calendas. Fora isso, Alcolumbre não disputará a preferência das urnas no ano que vem, mas tem planos de se reeleger presidente do Senado a partir de 2027 e precisará tanto do voto dos governistas com os quais compra briga hoje quanto dos oposicionistas que sonham em levar adiante, entre outras coisas, o processo de impeachment de um ministro do Supremo. Num cenário em que a oposição apareça marchando à frente nas pesquisas, a indicação de Messias pode até afundar de vez.
Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973
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