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Um negociador a serviço do PT

Sigmaringa Seixas, que trocou a vida de deputado por negociador nos bastidores do poder, tem longa ficha de serviços prestados ao PT

Por Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
21 fev 2015, 14h56

Em 1989, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava à procura de um vice para acompanhá-lo na disputa presidencial. Fernando Gabeira, o nome originalmente escolhido, havia deixado a coligação por pressão dos partidos aliados. Lula cogitava chamar Cristovam Buarque, que acabara de deixar a reitoria da Universidade de Brasília (UnB). Para intermediar o contato, convocou um amigo em comum: o advogado e deputado Luiz Carlos Sigmaringa Seixas. Ambos visitaram Cristovam para sondá-lo sobre a possibilidade.

O ex-reitor não prolongou a conversa porque já havia se comprometido a apoiar Leonel Brizola (PDT), mas o episódio é só um de incontáveis exemplos da atuação de Sigmaringa na política brasileira nas últimas décadas. Quase sempre, como em 1989, nos bastidores: “Ele não faz questão de aparecer. Eu acho até que ele faz questão de não aparecer”, diz o senador Cristovam (PDT-DF), que continua amigo do petista.

É verdade que Sigmaringa, nascido em Niterói e formado em Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), já ocupou funções importantes: fez parte da Assembleia Constituinte de 1988, foi deputado federal por outras duas vezes seguidas, disputou – e perdeu – o cargo de vice-governador do Distrito Federal e retomou um assento na Câmara dos Deputados de 2003 a 2007. Mas a atuação mais importante dele sempre foi à margem do poder oficial. E continua sendo: o bom trânsito com advogados e políticos petistas explica sua presença no gabinete de José Eduardo Cardozo, o ministro da Justiça, no dia em que o chefe da Polícia Federal tratou com o advogado Sérgio Renault, defensor da empresa UTC, dos os rumos da Operação Lava Jato. Como mostrou VEJA, Cardozo usou a reunião para tranquilizar o representante da empreiteira, investigada por pagar propina a integrantes da cúpula da estatal.

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A discrição de Sigmaringa Seixas talvez seja menos uma característica pessoal do que uma habilidade aprendida em outros tempos: militante do então clandestino Partido Comunista Brasileiro, o advogado foi uma figura importante no enfrentamento ao regime militar na capital federal. Nas décadas de 1970 e 1980, ele auxiliava presos políticos, sindicalistas e estudantes perseguidos pela ditadura. “O Sigmaringa com quem nós convivemos era clandestino no Partido Comunista Brasileiro. Era um simpatizante, sempre foi uma pessoa muito solidária nos confrontos que nós tivemos no movimento sindical e estudantil”, diz o deputado federal Augusto Carvalho (SD-DF), outro amigo próximo do petista.

Foi nesse período que Sigmaringa, filho de um advogado conhecido em Brasília, se aproximou de figuras tanto no meio jurídico, como os ex-ministros do STF Nelson Jobim e Maurício Corrêa, quanto de políticos de esquerda. Em 1987, foi eleito para a Assembleia Constituinte pelo PMDB. Lá, sua habilidade de negociador se destacou. “O Sigmaringa é uma pessoa articulada. Na Constituinte ele conversava com todos os partidos e tinha muitas amizades lá dentro” diz Maria de Lourdes Abadia (PSDB), ex-deputada e ex-governadora do Distrito Federal. Foi nesse período que o advogado se aproximou de figuras como Mário Covas, José Dirceu e Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de bom negociador, Sigmaringa Seixas sempre foi conhecido por ser uma pessoa moderada – pelo menos em comparação com seus colegas de militância. Em 1991, a convite do ex-governador Mário Covas, Sigmaringa ajudou a fundar o PSDB do Distrito Federal. Quatro anos depois, deixou o partido por não aceitar a filiação de José Roberto Arruda, recém-eleito senador, à sigla. Só então, quase que por acaso, migrou para o PT.

Em sua nova legenda, manteve os laços de amizade com colegas de outras siglas. Em 1998, por exemplo, conseguiu fazer com que José Serra, então ministro da Saúde, subisse em um palanque petista: o tucano apoiou Cristovam Buarque na eleição para o governo do Distrito Federal. O presidente Fernando Henrique Cardoso ficara ao lado do outro candidato, Joaquim Roriz.

Seu temperamento provocou algumas contradições: Sigmaringa é amigo leal de mensaleiros como José Genoino e José Dirceu, mas também é próximo a ministros do Supremo Tribunal Federal que ajudaram a condená-los. É um defensor do PT e cumpre missões partidárias sem titubear, mas permanece uma figura respeitada entre os tucanos.

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Sigmaringa Seixas nunca foi flagrado em atos de corrupção ou negociando tráfico de influência. Mas sua proximidade com os poderosos costuma atrair interessados em se aproximar da cúpula do partido. Em 2008, por exemplo, foi flagrado em uma conversa com o também advogado Luís Eduardo Greenhalgh sobre uma “estratégia de aproximação” entre o banqueiro Daniel Dantas e o governo.

Como homem de confiança de Lula, o advogado teve participação direta nas indicações do governo petista ao Supremo Tribunal Federal desde as primeiras indicações, como a do ministro Cezar Peluso, até as mais recentes, como Luís Roberto Barroso e Luiz Fux. Em 2008, o então presidente Lula indicou um ex-sócio de Sigmaringa, Arnaldo Versiani, para uma cadeira no Tribunal Superior eleitoral. No ano seguinte, Lula queria nomear o aliado como interventor federal na capital da República durante a crise que afastou o próprio Arruda do cargo, em 2009. Mas o STF manteve a autonomia política do Distrito Federal.

Sigmaringa Seixas nunca foi um fenômeno de votos. Ele perdeu a tentativa de se reeleger em 2006 e nem arriscou lançar-se candidato em 2010 e 2014. Aos amigos, tem dito que não pretende voltar à vida partidária. Seu negócio é outro: a advocacia. Sua atuação no caso da Lava Jato demonstra que ele pode preencher parte do vácuo deixado pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, que tentava construir um discurso de unidade entre as empreiteiras investigadas e, ao mesmo tempo, poupar o governo.

Paralelamente, Sigmaringa continua construindo pontes. Na semana passada, Cristovam Buarque procurava um interlocutor para sugerir uma proposta insólita: que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurasse o antecessor Fernando Henrique Cardoso para amenizar o clima de acirramento político. Só conseguiu pensar em um nome: o de Sigmaringa Seixas. “Eu disse que é algo que faz sentido, mas é maluco’. Ele respondeu: ‘Não é maluco, não'”, diz o senador.

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