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Tucanos tentam reconstruir o PSDB no Rio

Movimento Aezão é a esperança do partido para oferecer no Estado uma rede de apoio ao senador Aécio Neves, pré-candidato à Presidência

Por Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
15 jun 2014, 13h20

Políticos de diferentes gerações e origens reuniram-se, na última quarta-feira, para o adeus ao ex-prefeito e ex-governador Marcello Alencar. Paralelamente ao momento de condolências à família, corria no Palácio da Cidade o assunto do momento entre os tucanos no Rio de Janeiro: o PSDB, que trabalha para estruturar palanques regionais para o senador Aécio Neves na disputa pela Presidência, depende, no Rio, de uma esdrúxula composição com a ala rebelada do PMDB, no movimento “Aezão”. Independentemente da formalização do acordo – que ainda depende de costuras para não ferir alianças nacionais e a legislação eleitoral – o alinhamento de partidários da candidatura de Luiz Fernando Pezão com o tucanato é um fato político da disputa em 2014, e evidencia, em momento decisivo, a necessidade do partido de se recompor no terceiro maior colégio eleitoral do país.

Alencar, que morreu de falência múltipla dos órgãos, aos 88 anos, estava afastado da política devido ao agravamento de seu quadro de saúde. Com ele o PSDB teve no Rio seu período de maior relevância política, ciclo encerrado em 1998. Na época, a baixa popularidade do governo tucano não conseguiu levar o candidato de sucessão, o vice-governador Luiz Paulo Corrêa da Rocha, além do terceiro lugar no pleito. O Estado viveu, a partir dali, a era Garotinho, então no PDT.

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Como é previsível, com uma sigla que fica fora do governo por sucessivos mandatos, o PSDB minguou, assistiu a uma debandada de quadros importantes para outras agremiações e amargou, a partir de então, um período de dificuldade em eleições majoritárias. A renovação de quadros no Executivo não ocorreu, e o partido, que obteve votações pífias com o deputado Otávio Leite na disputa pela prefeitura da capital, em 2012, chegou a tentar atrair nomes de fora da política para criar visibilidade. O mais citado, nunca confirmado como candidato – apesar de filiado -, foi o treinador de vôlei Bernardinho, que, no entanto, não foi além de aparições públicas e fotos ao lado de quadros tucanos.

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Aécio lamentou a morte do amigo e último correligionário no poder no Estado. “Os melhores momentos no PSDB no Rio foram com Marcello Alencar. Ele soube levar a mensagem do partido às regiões onde o PSDB teve dificuldade de penetração nos últimos anos. Fica o exemplo e a boa lembrança. Marcello era próximo do povo, como o PSDB precisa voltar a ser”, afirmou o senador.

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Retomar a proximidade com a população, e ter força com o eleitor, é questão de vida ou morte para os tucanos no Rio. O encolhimento do partido frustrou qualquer plano mais ousado numa região com 12 milhões de eleitores. O PSDB tem hoje no Estado apenas duas prefeituras, dois deputados federais e três deputados estaduais. Desde 2002, os tucanos sequer conseguem o segundo lugar na disputa presidencial fluminense.

“Estar no Estado do Rio fora do PMDB é muito difícil. Brizola conseguiu quebrar essa tradição com o PDT, mas só conseguiu governar quando abriu espaços políticos para o PMDB apesar de todo o carisma dele. O PMDB é uma força muito poderosa, estável, forte na Assembleia Legislativa, no interior. Marcello Alencar tinha como grande desafio enfrentar essa máquina peemedebista que veio desde os tempos do ex-governador Chagas Freitas (noa anos 70 e 80)”, afirma a historiadora Marly Motta, professora da Fundação Getúlio Vargas.

Marly compara os escândalos que abateram o governo Marcello Alencar com os vivenciados pelo ex-governador Sérgio Cabral. “Alencar teve um desgaste pessoal, mas não conseguiu formar uma estrutura político-partidária. Sérgio Cabral foi atingido pessoalmente, mas o partido é muito forte e, por isso, é capaz de reeleger o Pezão”, acredita.

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Para a deputada estadual Lucinha (PSDB), que entrou no partido com Marcello Alencar no começo dos anos 90, a distância do poder explicou esse enfraquecimento. “O PSDB ficou muito tempo sem ter poder no Rio. Partidos crescem onde têm oportunidade de governo”, afirma a parlamentar.

O processo de esvaziamento tem características que também se repetiram no DEM, do ex-prefeito Cesar Maia, atualmente vereador na capital. No caso do Democratas, a debandada rumo ao PSD acentuou o problema. “No Brasil, o partido cresce quando está no poder e esvazia quando está fora. Nós também tivemos hegemonia na cidade por 20 anos. Faz parte do ciclo inorgânico da política. As pessoas migram para onde está o poder, como fez o (Sérgio) Cabral”, afirma Maia.

A última candidatura própria do PSDB ao governo do Rio foi do então deputado federal Eduardo Paes, em 2006. Paes deixou o partido em 2007 para se eleger prefeito pelo PMDB em 2008. O movimento foi semelhante ao padrinho político de Paes na fase recente. O ex-governador Sérgio Cabral trocou o PSDB pelo PMDB em 1999. “Eduardo Paes chegou a ser secretário-geral do PSDB. Era sucessor natural, mas percebeu um atalho e ingressou no PMDB. O PSDB não fez quadros para suceder o Marcello Alencar. O partido ainda tem candidatos que tentam ocupar espaço no Legislativo, mas definhou, não consegue mais disputar para valer uma eleição majoritária”, analisa o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

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O PMDB que buscou aproximação com o candidato tucano à Presidência é, em parte, uma dissidência da base governista, rebelada desde que o PT decidiu manter no Estado a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo. O outro componente do Aezão está na habilidade peemedebista para, invariavelmente, criar pontes com quem quer que tenha chances reais de chegar ao poder. Há, no momento, uma cúpula – Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral – comprometida com a presidente Dilma e a ala aecista.

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Peemedebistas construíram, no Estado, uma ampla rede de governos municipais e uma maioria confortável no Legislativo Estadual e na Câmara Municipal do Rio. O PMDB comanda o Palácio Guanabara desde 2003, quando a então governadora Rosinha Garotinho deixou o PSB. Mas o comando do Legislativo é exercido desde 1995 por caciques do partido. O lançamento do movimento Aezão em uma churrascaria na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, conseguiu articular 60 prefeitos, 500 vereadores, 40 vice-prefeitos, 17 deputados federais, 36 deputados estaduais e 30 presidentes de Câmaras Municipais de todo o Estado do Rio. “Aécio terá uma força política representativa em 92 municípios. Às vezes, não temos o prefeito, mas temos o ex-prefeito”, afirmou na ocasião o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani.

A aliança do PSDB com o PMDB no Rio pode ficar no campo da informalidade. Para consolidar no Rio a coligação, seria preciso que o DEM, aliado nacional dos tucanos, abrisse mão da candidatura ao governo do Estado, com Cesar Maia. O ex-prefeito, no entanto, refuta essa possibilidade, e prefere manter o DEM na candidatura majoritária e, assim, com atração de votos para o Legislativo. A coligação formal permitiria ao presidenciável tucano aparecer em material de campanha de candidatos da aliança do PMDB no Rio.

O alinhamento já existe. Aécio demonstrou interesse em se aproximar da principal bandeira do PMDB no Rio, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). No lançamento do Aezão, o tucano elogiou o programa, ressaltou a necessidade de melhorias e prometeu expandi-lo para o resto do país, se for eleito.

No velório da última quarta-feira, Aécio recebeu um bilhete escrito por Alencar. O recado foi entregue pelo deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB). “Somente o impedimento absoluto me impedirá de estar lá no próximo sábado”, escreveu o ex-governador, que, apesar da saúde debilitada, esperava participar da convenção nacional, que acontece neste sábado, em São Paulo.

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