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“Trago os ensinamentos de Cristo”

Damares Alves diz que em seu ministério faz o enfrentamento do crime organizado

Por Laryssa Borges
Atualizado em 3 Maio 2019, 07h00 - Publicado em 3 Maio 2019, 07h00

Em entrevista a VEJA, a ministra Damares Alves, que foi vítima de abusos sexuais quando era criança, diz que o combate à pedofilia e à violência contra a mulher é uma das principais prioridades de sua gestão — e ressalta que quem comanda o ministério não é a pastora evangélica, mas sim a advogada, educadora e militante dos direitos humanos.

Qual é a importância de uma pastora evangélica estar à frente de um ministério como o da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos? Como pastora, fui formada para acolher a todos, sem discriminação, sem preconceito. Essa formação trago para o trabalho de condução de uma pasta que agrega as minorias. Mas que fique claro que é a advogada, a educadora e a militante que está na liderança da Pasta. Da pastora, trago os valores e os ensinamentos de Cristo de que devemos amar e nos doar.

Com um presidente avesso aos direitos humanos, a senhora considera sua Pasta relevante? O presidente não prometeu grandes obras para se eleger. Não prometeu viadutos, aeroportos, estradas. Ele trabalhou o discurso falando de violência, corrupção e valores. Os valores a que ele tanto se referia estão neste ministério e no da Educação.

Como se deu sua aproximação com o presidente? Eu era assessora parlamentar na Câmara. O gabinete em que eu trabalhava ficava ao lado do dele. Eu participava de reuniões e monitorava os projetos de interesse da frente evangélica, que incluíam família, combate ao bullying, defesa da vida. Como assessora jurídica, produzi pareceres e ajudei a redigir emendas e projetos de lei. Bolsonaro sempre esteve do nosso lado. Naquela época, eu o chamava de meu capitão.

Como a senhora virou ministra?  Trabalhei muito na campanha dele, mas não imaginava ocupar nenhum cargo no governo. Um dia, o presidente me ligou e pediu para conversarmos. Fui lá na sede do governo de transição e ele me convidou para assumir a Secretaria da Mulher. Não era ministério ainda. Pedi sete dias para pensar. Depois, antes de eu dar a resposta, o presidente confirmou a nomeação. Fiquei sabendo pela imprensa.

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O presidente já disse que direitos humanos servem apenas para proteger bandidos. Essa é uma percepção geral. A percepção de que direitos humanos são uma espécie de ONG para defender bandidos ou membros da comunidade LGBT. Isso sempre me incomodou. É preciso fazer uma releitura. Direitos humanos também incluem, entre muitas outras coisas, combate à corrupção, direito à água e zelo pela infância. A vida é o primeiro dos direitos humanos.

Por que o ministério está revisando os processos de concessão de anistia a perseguidos políticos do regime militar? Estamos abrindo várias caixinhas aqui. Nessa Comissão de Anistia, por exemplo, existem indícios de que houve fraudes em diversos processos. Alguns casos tramitavam rápido demais. Outros estão parados há mais de dez anos. Há advogado que ficou milionário atuando nessa comissão. Estamos apurando denúncias de gastos exorbitantes, indenizações milionárias indevidas, processos que desapareceram.

A senhora é a favor de punições mais rigorosas para os homens que agridem as mulheres? É preciso começar a trabalhar essa questão desde a escola, ensinar ao menino a partir dos 4 anos que isso é incorreto, porque aí a gente faz uma revolução do bem. Só repressão não resolve. Uma coisa de que a sociedade não vai gostar muito mas eu vou fazer é recuperar o agressor de mulher. Mais da metade das mulheres que denunciam violência volta para o companheiro algum tempo depois. Esse cidadão, se não for recuperado, vai continuar agredindo.

A senhora é muito criticada por defender no governo pontos de vista religiosos. As críticas são muito fruto de preconceito religioso e ideológico, porque também sou conservadora. A questão, porém, é outra. Pode não parecer, mas aqui no ministério faço o enfrentamento do crime organizado.

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Crime organizado? No dia em que tomei posse, mandei o recado de que abusadores, exploradores e pedófilos seriam exemplarmente punidos. Há verdadeiras máfias por trás disso. A imagem de uma criança abusada custa 1 000 reais, 2 000 reais. Se for a de um bebê, chega a 50 000. É um comércio absurdo. O crime organizado e a pedofilia, portanto, não me querem. Vou provar que existe tráfico de órgãos no Brasil. Também milito contra os jogos de azar e a legalização das drogas, todos temas de interesse do crime organizado. São esses grupos que não me querem aqui.

É por isso que a senhora mantém um segurança na porta de seu gabinete?  Estou dentro de um hotel desde o dia da minha posse. No fim de dezembro, por recomendação da Abin, fui tirada da minha casa. Havia uma ameaça de que eu e o presidente seríamos explodidos por uma bomba. Quando os órgãos de segurança descobriram que o risco era real, levaram-me para o hotel. Existem ameaças também pelas redes sociais — posts de “como matar Damares na frente da igreja para impressionar seu povo”, “como fazer picadinho dela”, “como envenená-la”. O trabalho que estamos fazendo vai continuar.

Publicado em VEJA de 8 de maio de 2019, edição nº 2633

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