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Todos à espera de Marina

PSB iniciou conversas para convencer a ex-senadora a entrar na disputa. Campanhas de Dilma e Aécio já estudam novo discurso com Marina na corrida

Por Silvio Navarro e Talita Fernandes
14 ago 2014, 12h22

Um dia depois da trágica morte do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, a classe política ainda vive o luto, mas os comandos das campanhas da presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) e do tucano Aécio Neves já estão prontos para a entrada da ex-senadora Marina Silva na disputa eleitoral. O PSB também.

Tanto a campanha petista quanto a tucana aguardam a divulgação do resultado da pesquisa do instituto Datafolha, que vai a campo nesta quinta-feira e sexta-feira, já com o nome de Marina na lista de candidatos. Nos dois lados, a expectativa é que Marina tenha desempenho bem acima do patamar de 8 ou 9% que Campos alcançava – e que a entrada dela embole a corrida. Petistas e tucanos também avaliam que se Marina embarcar na disputa terão de reformular boa parte da linha dos programas de televisão. Por enquanto, ambos gravaram apenas as primeiras inserções – no caso de Aécio, ainda direcionadas a apresentá-lo ao eleitor; no caso de Dilma, exibir imagens de obras e programas do governo federal.

Segundo aliados que a acompanham desde que recebeu a notícia de que o jato de Campos caiu no litoral de São Paulo, Marina permanece fortemente abalada. O deputado Walter Feldman, um dos seus conselheiros e responsável pela delicada interlocução entre o PSB e os “marineiros” da Rede Sustentabilidade, diz que Marina passou a noite em claro e só adormeceu nas primeiras horas desta quinta. Segundo Feldman, a ex-senadora permanecerá em São Paulo com a família até que o trabalho de identificação dos corpos, que está sendo conduzido pelo Instituto Médico Legal (IML), seja concluído. Na sequência, ela viajará para Recife para acompanhar o velório e o enterro. Nos raros diálogos que teve desde a noite de ontem, Marina só manifestou preocupação com a família de Campos, com quem mantém ótima relação – ela costuma chamar os filhos do ex-governador pelos apelidos de família, por exemplo.

Pelas regras da Justiça Eleitoral, o PSB tem dez dias para indicar um novo candidato. Marina já avisou o partido que não se posicionará até que o corpo de Campos seja enterrado. Segundo lideranças do PSB, a sigla vai aguardá-la e, nas palavras de um dirigente, avalia sua entrada na disputa como “o caminho natural”. Entre os coordenadores da campanha Campos-Marina, esse “caminho” ficou claro já nas primeira linhas da nota redigida pela coligação após a morte do ex-governador de Pernambuco: “Não vamos desistir do Brasil”. Para dirigentes do PSB e do PPS, mais do que um discurso, essas palavras foram um recado claro de que a chapa aguarda por ela. Na manhã desta quinta, líderes do PSB – o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, o senador Rodrigo Rollemberg (DF), o deputado Beto Albuquerque (RS) e o deputado Júlio Delgado (MG) – conversaram pela primeira vez sobre o futuro, em São Paulo. Oficialmente, eles afirmam que apenas acompanham a identificação dos restos mortais de Campos. Nas próximas horas, terão outras conversas com o presidente do PPS, Roberto Freire, e das demais siglas que compõem a coligação. Os primeiros entendimentos são que o PSB não pretende abrir mão da disputa.

Mas o arranjo não é tão simples. E o principal nó está justamente na Rede Sustentabilidade, ou nos “marineiros”, como os seguidores de Marina gostam de ser chamados. Sem registro na Justiça Eleitoral, a Rede é um quase partido do ponto de vista legal, mas tem militância em diversos Estados do país e forte atuação nas redes sociais – essa era, aliás, umas grandes apostas de Campos na aliança com a ex-senadora. Os “marineiros” sempre deixaram claro que não compactuam com as linhas programáticas do PSB, especialmente com a atuação dos deputados federais da sigla – e a coisa só piora quando o assunto são as posições antagônicas de ambientalistas e do agronegócio. Mais: para socialistas mais antigos, resta o dilema de ter Marina Silva, que nunca representou a sigla de Miguel Arraes, como futura líder.

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Como escreveu nesta quinta-feira o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, no jornal Folha de S. Paulo, “tentar apontar eventuais herdeiros para as intenções de voto do pessebista ou imaginar o impacto de sua morte com base em dados antigos seria pura adivinhação”. Marina saiu das urnas em 2010 com capital de quase 20 milhões de votos (quase 20% dos votos válidos na época). Não é pouca coisa. Mas tampouco é certo afirmar que ela largaria com esse mesmo percentual hoje, num cenário eleitoral diferente e com novas questões à mesa – o sofrível desempenho econômico, por exemplo, não era tema central no pleito passado.

A contagem regressiva do calendário eleitoral impõe ao PSB e à própria Marina que a decisão seja tomada nos próximos dias – a campanha na TV começa na terça-feira e é preciso produzir material novo para ser exibido. É pouco tempo para desatar os nós na Rede dos “marineiros”. Mas parte deles podem começar a se afrouxar com as palavras do advogado Antonio Campos, único irmão do ex-governador Eduardo Campos, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo: “Se meu irmão chamou Marina para ser sua vice, com esta atitude ele externou sua vontade. Falo como membro do diretório nacional do PSB, com direito a voto, como o neto mais velho vivo do ex-governador Miguel Arraes e presidente do Instituto Miguel Arraes”. Neste momento, o apoio da família de Campos é o principal trunfo da ala majoritária do PSB que está à espera de Marina.

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