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Temer e a sombra da Lava Jato

Três ministros do presidente interino da República estão às voltas com a operação – em que o próprio peemedebista já foi citado

Por Da Redação 12 Maio 2016, 18h34

O governo Michel Temer começa nesta quinta-feira com a perspectiva de otimismo em setores adormecidos pela crise político-econômica que assolou a agora defenestrada administração Dilma Rousseff. Medidas econômicas, novas regras para a concessão de obras públicas e projetos de retomada de investimentos são esperados para os próximos dias. Mas ainda que, depois do ocaso da administração Dilma, um clima de otimismo possa estar em formação nos setores empresarial e produtivo, a administração Michel Temer não deve ser encarada com euforia cega. O cenário pós-impeachment é árduo e boa parte da nova equipe de primeiro escalão do governo que se inicia tem tortuosas pendências judiciais e reprisa um conhecido método de fazer política.

Antes mesmo de assumir Temer se rendeu a pressões de neoaliados, como o Partido da República e o Partido Progressista, e indicou Maurício Quintella Lessa para os Transportes e Ricardo Barros para a Saúde. Um esquema de corrupção do PR no feudo dos Transportes revelado por VEJA foi justamente a razão da primeira pseudofaxina do governo Dilma. Barros, por sua vez, foi tesoureiro – cargo amaldiçoado em tempos de petrolão – do PP, partido que de longe tem o maior número de deputados enrolados com suspeitas de corrupção no esquema na Petrobras.

Mas a principal pedra no sapato dos ministros de Temer atende pelo nome de Lava Jato, operação que já confirmou 41 ações criminais contra 207 pessoas diferentes suspeitas de integrar o monstruoso esquema de corrupção instalada na Petrobras. O próprio Temer, que na iminência de assumir o poder teve de dar garantias de que não asfixiaria a maior ofensiva contra os desmandos de políticos e empresários na petroleira, é citado por delatores do esquema, ora para emplacar apadrinhados na estatal, ora para externar receio de que revelações sobre o PMDB pudessem vir à tona.

Ao longo das investigações, políticos peemedebistas monitoraram com lupa o silêncio de um nome estratégico e sempre aspirante a delator-bomba: o do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Jorge Zelada, indicado pelo partido para a empresa e apontado como destinatário de 31 milhões de reais em propina para ele e o partido. Zelada segue em calado e já recebeu pena de 12 anos de prisão pelo juiz Sergio Moro.

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Gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, mostra relato do senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) em que ele afirma que Temer já teria procurado o ministro Gilmar Mendes para tratar de uma possível soltura do ex-dirigente da estatal, detido desde o início do ano passado por suspeitas de integrar a quadrilha do petrolão. Segundo Delcídio, em conversa com o advogado Edson Ribeiro e com o próprio Bernardo, Temer estaria “preocupado” com Jorge Zelada.

Delatores também citaram o nome de Michel Temer como responsável por apadrinhar o nome do lobista João Augusto Henriques para a diretoria da área internacional da Petrobras. O acordo foi costurado por volta de 2007 em meio às negociações no Congresso para a prorrogação da CPMF. Na época, o PMDB na Câmara dos Deputados teria condicionado a aprovação da CPMF na Casa, depois de o Senado ter rejeitado a renovação do tributo, à permissão para indicar o diretor da área internacional da petroleira. Ao final, o lobista acabou vetado pela então ministra Dilma Rousseff porque ele tinha pendências no Tribunal de Contas.

Além do chefe do novo governo, não seria exagero afirmar que o todo-poderoso núcleo duro de Temer também poderia ser chamado de todo-investigado. Um dos mais próximos do presidente interino, o senador Romero Jucá é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de integrar a quadrilha do petrolão, pedir propinas, disfarçadas de doações eleitorais, em obras da usina nuclear de Angra 3 e ainda aparece em trocas de mensagens com empreiteiros da OAS como responsável por possíveis emendas em uma medida provisória de interesse do grupo. Jucá também é alvo de inquérito na Operação Zelotes, onde é citado como o destinatário de parte de uma propina de 45 milhões de reais para defender interesses de montadoras de veículos.

Outro novo ministro com relações pessoais com Temer é o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB), que temporariamente ficou sem foro privilegiado ao deixar o governo Dilma depois que o partido abandonou a base aliada. De volta à pasta do Turismo, Alves também está às voltas com a Operação Lava Jato. Em dezembro do ano passado, foi alvo de mandado de busca e apreensão em um apartamento em Natal. As suspeitas são de que o novo ministro e o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha atuavam em conjunto na arrecadação ilegal de recursos para campanhas.

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Geddel Vieira Lima, que ocupará a Secretaria de Governo na administração Temer, também aparece em um dos braços da investigação da Lava Jato. Investigadores encontraram evidências de que ele fazia lobby junto à empreiteira OAS em busca de doações de campanhas dentro da Caixa Econômica, na Secretaria de Aviação Civil e na prefeitura de Salvador.

Aliado de primeira hora e sempre responsável por listar cargos que deviam ser distribuídos a aliados, o novo chefe da Casa Civil Eliseu Padilha não é investigado na Lava Jato, mas nos corredores do Congresso, pelo menos desde o governo FHC, Padilha, por sua extensa lista de processos, era jocosamente chamado nos bastidores de Eliseu Quadrilha.

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