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Tabata: É hipocrisia feministas se calarem após agressão de José de Abreu

O machismo na política é extremamente presente, diário, suprapartidário, diz a deputada

Por Felipe Mendes, Victor Irajá Atualizado em 26 set 2021, 14h17 - Publicado em 26 set 2021, 09h23

Expoente da nova política e crítica ácida da polarização entre petistas e bolsonaristas, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), de 27 anos, integra hoje um grupo de alvos que redes sociais como o Facebook consideram permeáveis a agressões mais violentas. Menções criminosas a ela são reunidas periodicamente por uma equipe da plataforma em processos que podem levar ao banimento de contas de usuários. Os ataques via redes sociais ganham envergadura sempre que ela se posiciona contra pautas ideológicas simpáticas a Jair Bolsonaro, como a flexibilização do disparo de fake news e a adoção do voto impresso, ou a favor em votações de temas sensíveis à esquerda, como a reforma da Previdência, a privatização dos Correios e o projeto de autonomia do Banco Central.

Em um grave caso no ano passado, um homem enviou pacotes e cartas ameaçadoras à casa da família da deputada. O autor das intimidações foi identificado, e ela passou a andar com escolta da Polícia Militar e, por um período, com um carro blindado. Em 2021, por ser uma das vozes que trabalha pelo lançamento de um candidato a presidente da chamada terceira via, Tabata Amaral voltou a canalizar doses extras de agressões tanto da direita quanto da esquerda. Há uma semana, o autor das intimidações foi o ator José de Abreu, que compartilhou em uma rede social um post que incitava agressões físicas contra a parlamentar. O caso foi parar na Justiça. Em entrevista a VEJA, em seu gabinete em São Paulo, a parlamentar refutou às mensagens de ódio e disse que a pauta “Fora Bolsonaro” deveria unir democratas de esquerda e de direita.

Como reagiu à postura do ator José de Abreu, que endossou uma manifestação que defendia que fosse agredida na rua? O intuito dessas mensagens de ódio e ameaças tão violentas e agressivas é fazer com que eu tenha medo e deixe de defender aquilo que eu acredito. Me indigna ver que moramos em um país onde se tolera que uma pessoa com meio milhão de seguidores propague uma ameaça de agressão física a uma mulher, independentemente de quem seja. E com a tentativa de silenciá-la, no meu caso, por eu ser uma pessoa que atua politicamente.

Esperava receber solidariedade de movimentos feministas, por exemplo? Primeiro, estou tomando todas as ações judiciais cabíveis contra este ator. No caso das demonstrações de solidariedade, fico triste por ver que pessoas que se apresentam como feministas e que dizem lutar contra o machismo e a violência de gênero se calaram completamente, seja porque não gostam de mim seja porque gostam do Zé de Abreu. Isso é muita hipocrisia.

Como enfrenta o machismo na vida pública? O machismo na política é extremamente presente, é diário, é suprapartidário. Ele está presente no Congresso, mas também nos xingamentos que eu recebo, nas ofensas, no número de comentários que fazem referência ao meu posto, à minha roupa, à minha vida pessoal. Eu incomodo porque eu sou uma mulher jovem. Para além desse incômodo, o problema é a agressividade. É a força com que sempre viram o caminhão na minha direção.

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As maiores ameaças vêm das redes sociais? Às vezes tenho de não olhar as redes sociais por alguns dias, mas enquanto conseguir sair na rua e olhar no rosto das pessoas que eu escolhi representar e saber que eu escolhi o caminho certo, por mais difícil que seja, para mim está ótimo. Eu acho que sendo mulher o conjunto da obra acaba incomodando muito mais.

Nos ataques que sofre após votações ‘sensíveis’ como a da reforma da Previdência, teme perder o apoio de seu eleitor? Vivemos um momento extremamente polarizado, mas no caso dos ataques infelizmente tenho a posição privilegiada de conhecer a fundo o método tanto da direita quanto da esquerda. O ódio vem em proporções iguais dos dois lados, e nenhum parlamentar no Brasil hoje tem seus votos tão comentados como eu. Muitas vezes o caminho certo não é popular nas redes sociais.

Na época da votação da reforma da Previdência, a senhora recebeu críticas duras do Ciro Gomes, uma das principais lideranças do PDT. Como é a relação de vocês hoje? Nunca mais nos falamos. O Ciro me ofendeu, falou da minha família, me xingou. Ele nunca botou um prato de comida na minha frente, não tem o direito de falar sobre o meu pai ou a dependência química dele. O Ciro gostava de dizer que foi ele quem me filiou ao partido, mas eu que fui ao diretório estadual e me filiei. No dia da votação da reforma da Previdência, ele me disse que eu tinha razão, mas que ele não havia conseguido convencer o Carlos Lupi e que eu teria de votar contra o projeto. E disse que a política era assim. Mas a reforma era necessária e o texto da Câmara era muito melhor do que o do governo. Depois da votação, comecei a receber as entrevistas dele me atacando. 

A senhora se considera uma liberal progressista? Se vivêssemos na Europa ou nos EUA, eu diria que sim. Por aqui, como existe esse corporativismo tanto por parte da direita como da esquerda, eu prefiro dizer que defendo um estado mais justo, com oportunidades iguais, e entendo que o caminho para isso é termos um estado eficiente, que aloque melhor os recursos e combata os privilégios. A verdade é que eu não tenho muito orgulho dos liberais brasileiros.

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Sua filiação ao PSB tem por objetivo posicionar o partido como alternativa a uma esquerda mais ‘radical’? Nesse momento político, precisamos focar naquilo que nos une, e não no que nos separa. O PSB defende o enfrentamento ao governo Bolsonaro, mas está aberto ao diálogo. Isso só é possível porque não é um partido que tem uma única figura, personalista, em torno de um projeto pessoal. Os partidos não podem ser resumidos a bater continência à cartilha de uma só pessoa.

A senhora critica o personalismo partidário, mas o PSB tende a abraçar a candidatura do ex-presidente Lula em 2022. Espero, acredito e trabalho por uma terceira via porque tenho medo de eleições que não terminam nunca. Foi assim com as disputas entre Dilma e Aécio e, em 2018, entre Haddad e Bolsonaro. O PSB tem condições e disposição de apresentar um projeto que quebre a polarização e una da centro-esquerda à centro-direita.

Ter ido às ruas em uma manifestação organizada pelo Movimento Brasil Livre, o MBL, não pode ser mal interpretado por seu eleitorado? A pauta ‘Fora Bolsonaro’ deveria ser maior do que as demais. Eu vou para a rua seja lá com quem for, desde que seja um democrata. Não é uma disputa sobre se a esquerda ou a direita consegue colocar mais gente na rua que importa. Essa competição me parece egoísta. Sem o apoio massivo das ruas, o impeachment não vai ser aprovado.

Bolsonaro e Lula estão em plena campanha eleitoral. A indefinição sobre a terceira via não os favorece? O tempo da política não é o tempo do povo, que neste momento está preocupado mesmo é com a inflação e o desemprego. Quem está preocupado com o país sabe que essas crises todas só vão ter fim com o impeachment. Talvez devêssemos ter a pressa que o povo tem para resolver a fome, a inflação e o desemprego e desacelerar a pressa que a política tem de resolver as eleições do ano que vem.

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