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SPC: O que pensam os brasileiros endividados sobre a proposta de Ciro

VEJA conversou com 5 eleitores indecisos — que estão inadimplentes — para saber a opinião deles sobre a promessa do presidenciável de ajudar a limpar o nome

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 21 set 2018, 19h15 - Publicado em 13 set 2018, 10h08

A pouco menos de um mês do primeiro turno das eleições presidenciais e mesmo após o início da propaganda eleitoral na TV, ainda há muitos eleitores indecisos sobre a definição do seu candidato a presidente. Em meio aos debates televisivos, uma das propostas que mais chamaram atenção foi a do candidato Ciro Gomes (PDT) de “limpar” o nome dos brasileiros endividados do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC). Bastou o candidato prometer que, se for eleito, o brasileiro teria o nome limpo, para agitar as discussões em torno do assunto.

O Brasil tem hoje 63,4 milhões de pessoas com o nome inscrito no SPC — o que representa 43% do número total de eleitores (173,4 milhões). A dívida média, segundo a entidade, é de 2.600 reais. Em sua proposta, o candidato do PDT pretende eliminar os juros, correções monetárias e as multas para em seguida promover o refinanciamento das dívidas com apoio dos bancos públicos, a juros bem menores.

A pesquisa Datafolha sobre a disputa para Presidência da República divulgada nesta segunda-feira 10 apontou um crescimento de Ciro Gomes, que aparece em segundo lugar, com 13% das intenções de voto, empatado na margem de erro com a candidata Marina Silva (Rede), com 11%. Geraldo Alckmin (PSDB) tem 10% e Fernando Haddad (PT), 9%. Em primeiro lugar está o candidato Jair Bolsonaro (PSL), com 24% das intenções de voto.

Diante do discurso de Ciro Gomes, VEJA conversou com cinco eleitores indecisos que têm o nome restrito para ver o que  pensam da proposta do presidenciável. Eles são unânimes em dizer que consideram a proposta eleitoreira — que tem como objetivo atrair o voto do eleitor —, mas divergem quando questionados se a promessa os faria mudar de voto.

“A proposta de refinanciamento da dívida é boa, claro. Mas quem garante que o governo vai conseguir fazer isso? Além disso, de que adianta eu ter o meu nome limpo e continuar esperando de quatro a cinco horas para passar por uma triagem no pronto-socorro público e esperar mais tantas horas para passar pelo médico? De que adianta ter nome limpo e minha filha continuar estudando nas famosas ‘escolas de lata’?”, questiona a babá Maria Edcleide de Vasconcelos, de 39 anos. “Não é isso que vai definir o meu voto”, afirma.

Ainda indecisa sobre o seu candidato a presidente, Edcleide nem consegue dizer qual o valor da sua dívida hoje — só sabe que tem mais de dez anos e que começou com cerca de 3.000 reais. “Eu tirei uma moto no nome de um primo. Ele pagou 80% das parcelas em dia, mas quando perdeu o emprego não conseguiu mais honrar os pagamentos. Eu também não tinha condições e até hoje pago o preço por isso”, diz ela, que precisa pedir o cartão de crédito da irmã emprestado sempre que precisa fazer uma compra de valor mais alto.

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A gerente de vendas Fabiane Collis Bernardi, de 45 anos, também recorre aos familiares quando precisa fazer uma compra parcelada e até mesmo para conseguir matricular os filhos na escola particular do bairro. Ela, que tem o nome restrito há mais de dez anos, teve de pedir para o cunhado financiar no nome dele um carro para ela. “Eu paguei todas as parcelas em dia, mas não deixa de ser constrangedor ter que pedir esse tipo de favor”, diz.

Fabiane tem o nome restrito, porque emprestou dinheiro do banco para construir sua casa e também porque assinava como responsável por uma empresa que faliu. Sua dívida hoje gira em torno de 30.000 reais. Ela também não definiu em quem vai votar para presidente, mas considera a proposta de Ciro Gomes interessante. “Me parece um pouco eleitoreira, porque o Brasil inteiro está endividado, mas se ele nos der uma chance para podermos limpar nosso nome já ajuda bastante. Eu fiz a dívida e quero pagar, mas não com esses juros absurdos.”

Fabiane Collis Bernardi, 45 anos: “Se ele (Ciro Gomes) nos der uma chance para podermos limpar nosso nome já ajuda bastante”. (Gabriela Alves/VEJA.com)

O frentista Diones Modesto de Souza, de 25 anos, é outro que faz ponderações sobre o projeto. “Limpar o nome pode ajudar, mas não resolve o problema do país. Eu quero um presidente que tenha como prioridade investir em saúde, educação e emprego para o povo”, afirmou.

Diones tem o nome restrito há cerca de dois anos, porque fez um empréstimo para construir uma casa e sair do aluguel, mas perdeu o emprego no período. Ficou mais de um ano desempregado e não conseguiu pagar as parcelas do empréstimo. Hoje a dívida beira em 20.000 reais. “Ganho 1.500 reais por mês. Não tenho como pagar 800 reais de parcela para quitar a dívida”, diz.

Apesar de considerar a proposta do candidato Ciro Gomes interessante, Diones afirma que apenas isso não o faria votar no presidenciável. “O que adianta o candidato limpar o nome do povo e não dar emprego? O nome vai ficar limpo temporariamente, pois sem emprego daqui a pouco a pessoa se endivida de novo”, acredita.

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A dona de casa Mirtania Lopes Araújo, de 43 anos, diz que não perde um debate na televisão com os candidatos a presidente mas também ainda não definiu o seu voto. Cearense, ela admite que já trabalhou como cabo eleitoral do candidato do PDT à época em que ele foi governador do estado, mas ainda assim não tem certeza de que vai votar nele. Ela está com o nome negativado há pelo menos três anos por causa de despesas médicas com a filha, que acabaram extrapolando o limite do cartão de crédito. A dívida que começou em cerca de 2.000 reais já está em torno de 9.000 reais.

Quando viu a proposta do candidato em uma sabatina no Jornal Nacional, no fim de agosto, foi buscar mais informações no programa de governo dele, mas o site estava congestionado. “Ainda não consegui entender como o Ciro pretende fazer isso, me parece algo muito eleitoreiro, porque são milhões de brasileiros devendo. Se for algo muito fácil, certamente o cidadão vai sujar o nome de novo”, avalia ela, que diz que não quer receber nada de graça. “A pessoa com nome no SPC não é ninguém, não tem vida própria. A gente quer pagar a nossa dívida, o problema é que não querem receber o que podemos pagar. Eu quero um país de oportunidades para os meus filhos, e não de facilidades”, afirmou.

A fiscal de caixa Tamires Gomes da Silva, de 28 anos, está com o nome negativado há três anos também por conta de despesas no cartão de crédito e porque fez um empréstimo em seu nome para uma tia, que também não pagou as parcelas. Sem emprego por um período, não conseguiu pagar as parcelas e entrou na lista de brasileiros inadimplentes — somando as duas dívidas hoje ela deve cerca de 5.000 reais.

Quando soube da proposta de Ciro, Tamires não se empolgou muito. “Para mim parece jogada de marketing. A dívida do brasileiro é muito alta, como o governo vai fazer para que isso se torne real?”, questiona. Ainda indecisa sobre o destino do seu voto, Tamires diz que vai continuar assistindo aos debates entre os candidatos na televisão para tentar chegar a uma decisão. “O Brasil tem muito mais problemas do que as dívidas do povo. Ainda preciso pensar mais.”

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