Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Movidos por interesses eleitorais, apoiadores de Bolsonaro voltam à cena

Soldados do presidente que desertaram se preparam para o retorno à trincheira

Por Ricardo Chapola
28 Maio 2022, 08h00

O jornalista Oswaldo Eustáquio já foi um dos mais influentes formadores de opinião no universo bolsonarista. O conteúdo produzido por ele e distribuído em diferentes plataformas carregava duas marcas características da linha de produção dos apoiadores do presidente da República: as fake news e a aposta na beligerância. Diante da repercussão de seu trabalho, Eustáquio conheceu primeiro o prestígio. Bolsonaro chegou a postar uma imagem sua assistindo a uma live do jornalista. Depois, veio o tombo. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) das investigações sobre milícias digitais e atos antidemocráticos, ele foi preso três vezes. Ficou um ano e meio atrás das grades, período em que disse ter sido torturado e sofrido um acidente que o condenou a usar uma cadeira de rodas. Na cadeia também experimentou uma decepção. O jornalista confidenciou a amigos ter se sentido abandonado pela família Bolsonaro e chegou a ensaiar um afastamento do clã, mas decidiu mudar de ideia.

EX-ARREPENDIDA - Janaina: “Da minha parte, não tem nem o que pensar” -
EX-ARREPENDIDA - Janaina: “Da minha parte, não tem nem o que pensar” – (Bruno Santos/Folhapress/.)

Repetindo um movimento pendular de outros expoentes do bolsonarismo que desertaram durante o governo e agora retornam à velha trincheira, Eustáquio deixou o ressentimento para trás e marchará ao lado do ex-capitão na eleição deste ano. Filiado ao União Brasil, ele planeja disputar uma vaga de deputado federal pelo Paraná. Sua campanha apostará na pauta conservadora, que também é pilar da plataforma eleitoral de Jair Bolsonaro. “As prisões foram fundamentais para me transformar num símbolo bolsonarista”, diz o jornalista. Agora em liberdade, Eustáquio afirma não se arrepender de nada do que fez, conta que reencontrou Bolsonaro na semana passada, foi saudado pelo presidente com um gesto de continência e ambos se emocionaram. Ele promete priorizar as críticas à atuação do Supremo e, mais especificamente, ao ministro Alexandre de Moraes, o desafeto público número 1 de Bolsonaro. “Eu quero ser a antítese a tudo de errado que essa Corte tem feito.” Outro mote de sua campanha será o compromisso de combate à esquerda.

As conveniências eleitorais também estão por trás da reconciliação do empresário Julian Lemos (União Brasil) com o bolsonarismo. Lemos se aproximou do presidente quando este era um parlamentar do baixo clero que rodava o país de olho no Palácio do Planalto. Na campanha de 2018, foi de tudo um pouco, de segurança a organizador de eventos do então candidato a presidente na Região Nordeste. A aposta se mostrou certeira. Bolsonaro venceu a corrida presidencial e Lemos acabou eleito deputado federal pela Paraíba. Com o tempo, os antigos aliados se distanciaram. Nas redes sociais, Lemos enfrentou temporadas de ataques e contra-ataques. Mesmo assim, o empresário quer se apresentar como apoiador e cabo eleitoral do ex-capitão a fim de renovar o próprio mandato. “Estamos entre um copo de fel e um copo de vinagre. Por mais que eu tenha diversas diferenças com o presidente, ele não agride alguns valores que eu tenho”, declara Lemos.

SEM SAÍDA - Julian Lemos: “Estamos entre o copo de fel e o copo de vinagre” -
SEM SAÍDA - Julian Lemos: “Estamos entre o copo de fel e o copo de vinagre” – (Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

A frase do deputado ilustra bem a situação da turma que retornará à velha trincheira. Com a polarização, Eustáquio e Lemos sabem que não podem ficar em cima do muro e não têm condições de migrar para o exército petista depois de tudo o que fizeram e disseram nos últimos anos. A eles não resta opção. A deputada Janaina Paschoal (PRTB) enfrenta situação parecida. Pré-candidata ao Senado, ela manteve uma relação instável com o Planalto, marcada por momentos de afago e de duros ataques a Bolsonaro. O ápice da crise ocorreu em março de 2020, no início da pandemia no Brasil. Na época, Janaina pediu a renúncia do presidente quando o número de mortes por Covid-19 disparava, e o mandatário fazia pouco caso da quantidade de vítimas, promovia aglomerações e sabotava as recomendações sanitárias. Ela chegou a dizer que se arrependeu de ter votado em Bolsonaro em 2018. O tom agora é bem mais moderado. “Nós teremos Lula ou Bolsonaro. Nesse contexto, da minha parte, não tem nem o que pensar.”

Ao contrário de Janaina e de Lemos, Eustáquio fará sua estreia nas urnas em 2022. Depois de sair da prisão, o jornalista reclamou de dificuldades financeiras e viveu de forma muito modesta à custa da mulher. Agora, de novo embrenhado na trincheira bolsonarista, leva uma vida bem mais confortável. Ele mora numa casa no Lago Sul, bairro de endinheirados em Brasília, e montou na própria residência um estúdio digno de uma emissora de televisão, avaliado em 400 000 reais. Numa das paredes do imóvel, está pendurado um retrato de Jair Bolsonaro. A ideia de Eustáquio é montar um canal no YouTube com uma grade de programação 24 horas por dia. O jornalista conta que a estrutura foi custeada com doações. “Comecei pedindo 1 real de cada um. Chegou uma hora que tive de pedir para que parassem de me mandar.” Eleições promovem mesmo milagres, dos financeiros aos da reconciliação.

Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.