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Senadoras reclamam de machismo na CPI da Pandemia

Parlamentares dizem que são frequentemente interrompidas e tratadas de maneira discriminatória

Por Letícia Casado 23 Maio 2021, 11h23

Quando a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) questionava o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello durante a CPI da Pandemia na semana passada, o presidente da comissão, Omar Aziz, pediu para que ela não fosse “agressiva” com o depoente. Em outro momento, ela pediu a palavra para rebater uma citação ao seu nome, e não conseguiu. Dias antes, algo parecido aconteceu com a  senadora Leila Barros (PSB-DF). Ela questionava o ex-chefe da Secretaria de Comunicação do Planalto, Fabio Wajngarten, momento em que o colega Marcos Rogério (DEM-RO) interrompeu  e disse: “calma senadora, não fique nervosa”. Houve bate-boca. “Tem uma senadora falando presidente, vamos lhe assegurar a palavra”, interveio o relator Randolfe Rodrigues (Rede-AP). 

Leila Barros, depois, publicou o vídeo da confusão nas redes sociais com a seguinte mensagem: “Apesar de cansativo, às vezes é bom ser desacreditada e acusada de ‘estar nervosa’ ao vivo para todo o país, pois dessa forma fica exposto o machismo estrutural que existe no Brasil. No ambiente político não é diferente. Ele apenas reproduz o que muitas de nós vivemos diariamente”.

Cenas como essas têm sido comuns durante as sessões da CPI da Pandemia e pautaram discussões nas redes sociais sobre machismo no Senado. A CPI tem 11 titulares e 7 suplentes, mas nenhuma mulher. Elas representam menos de 15% do Senado: são 12 parlamentares entre 81 senadores.

Os casos que envolveram as senadoras Gama e Barros são conhecidos como “manterrupting” e “gaslighting”, expressões usadas para definir atitudes machistas. O PSDB Mulher define “manterrupting” como “quando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase”.

Para o “mansplanning”, a explicação do partido é “um dos tipos de abuso psicológico que leva a mulher a achar que enlouqueceu ou está equivocada sobre um assunto, sendo que está originalmente certa. É um jeito de fazer a mulher duvidar do seu senso de percepção, raciocínio, memórias e sanidade”.

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No início dos trabalhos da CPI, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse que as mulheres  não queriam participar: “Acho que as mulheres já foram mais respeitadas e indignadas. Estão fora da CPI e não fazem nem questão de estar nela”. Ouviu como resposta da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) que ela não aceitava ironias.

As senadoras dizem que ficaram de fora da comissão porque a CPI acabou sendo instalada a toque de caixa, após decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), em resposta a um mandado de segurança dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO). A bancada feminina pediu para ter o direito de uma representante fazer perguntas após os titulares e os suplentes. O presidente Omar Aziz (PSD-AM) concordou. 

“Sou líder do meu bloco. Indiquei o Randolfe [Rodrigues, Rede-AP] porque ele é o autor do pedido de CPI. E o suplente é o autor do mandado de segurança, Alessandro Vieira (Cidadania-SE). No nosso caso, na conversa de bloco, não tinha como eu deixar os dois fora da CPI”, diz Eliziane Gama.

A senadora Soraya Thornicke (PSL-MS) diz que foi tudo muito rápido. “Quando o STF decidiu, percebemos que estava tudo mais ou menos formado”, diz ela. E completa:  “Proporcionalmente a nossa participação em termos de bancada tem sido muito ativa em relação ao número de homens”, diz Thornicke.

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Para Eliziane Gama, falta um olhar mais igualitário em relação à participação feminina no Congresso Nacional. “A falta de uma mulher em uma comissão com esse nível de importância é ruim para o Congresso Nacional e para a democracia, para a batalha histórica das mulheres na luta por espaço de poder. O que está acontecendo hoje na CPI é o reflexo da política brasileira. A gente é minoritária.”

A pequena participação feminina na política dificulta a ascensão das mulheres mesmo dentro dos partidos. “Os presidentes das legendas são quase todos homens”, diz a senadora Zenaide Maia (Pros-RN). Ela afirma que nem tentou uma vaga na CPI porque está em seu primeiro mandato na Casa. “Queria observar como funciona”, diz ela, que participa remotamente das sessões.

Parlamentares justificam que a CPI, devido à importância, precisava de uma composição com políticos experientes, que soubessem lidar com pressão e com profundo conhecimento do regimento da Casa, como Renan Calheiros (MDB-AL)  e Ciro Nogueira (PP-PI).  As senadoras acham que chegou a hora de romper esses paradigmas. 

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