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Safado queria passear, disse procurador após Lula pedir para ir a velório

Diálogos mostram que integrantes da Lava Jato trataram morte de Marisa e luto do petista com falecimentos de irmão e neto com ironia e tom conspiratório

Por Da Redação Atualizado em 27 ago 2019, 12h01 - Publicado em 27 ago 2019, 12h00

Os procuradores da Operação Lava Jato ironizaram a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os integrantes da força-tarefa também divergiram sobre os pedidos do petista para comparecer aos velórios de seu irmão, Vavá, e de seu neto, Arthur, que morreu aos 7 anos, em março deste ano. As mensagens foram divulgadas nesta terça-feira, 27, pelo portal Uol, em parceria com o site The Intercept Brasil.

No dia 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e foi internada no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”, disse Deltan Dallagnol, às 22h24. Dez minutos depois, o procurador Januário Paludo escreveu: “Estão eliminando testemunhas”.

A ex-primeira dama morreu em 3 de fevereiro de 2017. Um dia antes, a procuradora Laura Tessler, do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, disse que Lula usaria a morte de sua mulher para se “vitimizar”. “Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência passa a sessão de vitimização”, afirmou. O ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, no entanto, recomendou discrição. “Vamos ficar em silêncio sobre o fato e esperar para ver como eles vão se comportar. Reação somente se passarem os limites. Ninguém ganha falando contra quem morre ou contra a família”, disse.

Laura Tessler voltou a comentar declarações de Lula no grupo “Filhos do Januário” no dia 4 de fevereiro de 2017, após a jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, publicar que Marisa teve seu quadro de saúde agravado pela busca e apreensão realizada em sua casa e pela condução coercitiva do ex-presidente.

“Ridículo… uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula…”, disse. “Só falta dizer que a Lava Jato implantou 10 anos atrás um aneurisma na cabeça da mulher… milhares de pessoas morrem de AVC no mundo… isso faz parte do mundo real e ponto”, acrescentou a procuradora. Em seguida, Januário Paludo voltou a adotar tom conspiratório para abordar a morte da ex-primeira-dama. “A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência”, diz, sem explicar a qual outra morte se referia.

Tessler também compartilhou um trecho de um depoimento do petista, que afirmou querer que “os facínoras que fizeram isso contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas”. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, ironizou a fala de Lula: “Bobagem total… ninguém mais dá ouvidos a esse cara”.

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A procuradora Eugênia Augusta Gonzaga, ex-integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos, participou do velório de Marisa e foi criticada por membros da força-tarefa. A procurada Thaméa Danelon, da Lava Jato de São Paulo, disse que o ato era “um desrespeito” ao então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “e a todos os colegas envolvidos” na Lava Jato. “É como um colega ir ai enterro da esposa do líder de uma facção do PCC. No mínimo inapropriado”, explicou.

Enterro do irmão

No dia 29 de janeiro de 2019, o procurador o procurador Athayde Ribeiro Costa compartilhou no grupo “Filhos do Januário 3”, no Telegram, a notícia de que o irmão de Lula, Vavá, havia morrido. Dallagnol afirmou que Lula pediria para ir ao enterro. “Se for, será um tumulto imenso”, disse. “Mas se não for, vai ser uma gritaria. E um prato cheio para o caso da ONU (Organização das Nações Unidas)”, rebate Costa.

O procurador Orlando Martello disse que era “uma temeridade ele (Lula) sair. Não é um preso comum”. Para Martello, haveria o risco de a “militância” impedir a volta do ex-presidente à Superintendência da PF. “Se houver insistência em trazê-lo de volta , vai dar ruim!!”, afirmou. Na sequência, o procurador Diogo Castor alertou que todos os presos em regime fechado, como é o caso do petista, têm o direito de deixar a unidade prisional em que estão em casos de falecimento ou doença grave de cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão, como prevê a Lei de Execuções Penais.

A força-tarefa emitiu um parecer pedindo o indeferimento da saída de Lula. Os procuradores também tiveram acesso à manifestação da Polícia Federal, que afirmou não ter condições de atender ao pedido do petista. “Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como”, avaliou Antônio Carlos Welter. Januário Paludo, então, respondeu: “O safado só queria passear e o Welter com pena”.

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Na ocasião, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli permitiu que Lula fosse a São Paulo para se encontrar com familiares em uma unidade militar. No entanto, o corpo de Vavá já estava sendo sepultado, e o ex-presidente não deixou a carceragem da PF.

Morte do neto

No dia 1º de março, a notícia da morte do neto Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos, foi compartilhada no grupo “Filhos do Januário 4”. Segundo o laudo da necropsia, Arthur morreu por infecção generalizada provocada por uma bactéria. “Preparem para nova novela ida ao velório”, disse a procuradora Jerusa Viecili.

Na avaliação de Dallagnol, Lula poderia comparecer ao enterro do neto nos mesmos moldes da decisão de Toffoli. “Já que tem a decisão do Toffoli como parâmetro, tem de ir nessa esteira”, concordou Orlando Martello.

Após autorização da Justiça, o petista foi ao enterro do neto em uma aeronave cedida pelo governo do Paraná. Em um outro grupo, chamando “Winter is Coming”, a procuradora Monique Cheker disse que Lula fez um “discurso político (travestido de despedida)”.

A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba afirmou que não se manifestaria sem ter acesso à íntegra das conversas no aplicativo de mensagens Telegram.

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