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Rede de Escândalos: o passado condena nove candidatos

Da disputa pela prefeitura de São Paulo à briga por vaga na Câmara Municipal de Rio Branco não faltam políticos envolvidos em casos de corrupção. Saiba quem eles são – e do que são acusados

Por Carolina Farina 16 set 2012, 19h37

Agarrados às desculpas mais esfarrapadas, muitos personagens de escândalos de corrupção contam com a falta de memória do eleitor para se manterem ativos na política nacional

A eleição deste ano é a primeira desde a aprovação da lei da Ficha Limpa, que impede o político condenado por órgãos colegiados de disputar cargos eletivos. O avanço, contudo, não significa que os pleitos municipais de 2012 estejam livres de candidatos cujo passado os condena. Entre os postulantes a cargos no Legislativo e Executivo municipais há políticos acusados de integrar esquemas de desvios de verba pública e até mesmo os que já passaram uma temporada atrás das grades por corrupção. É o que revela levantamento feito por meio da Rede de Escândalos do site de VEJA.

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Nove candidatos figuram como personagens desta rede, que perfila os envolvidos nos episódios mais rumorosos da vida política brasileira e acompanha seus desdobramentos. São eles: Paulinho da Força, candidato do PDT à prefeitura de São Paulo; Carlos Alberto Grana, candidato petista à prefeitura de Santo André; Humberto Costa, que disputa a prefeitura de Recife pelo PT; além dos candidatos a vereador Orlando Silva (PCdoB-SP), Vicente Viscome (PRP-SP), Chicão Brígido (PTC-AC), Cabo Júlio (PMDB-BH), Hamilton Lacerda (PT-SCS) e Marcelo Sereno (PT-RJ). Outro famoso integrante da Rede de Escândalos, o mensaleiro João Paulo Cunha (PT), acabou desistindo da candidatura à prefeitura de Osasco após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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O pedetista Paulinho da Força, deputado federal, foi condenado por improbidade administrativa por causa de irregularidades em um projeto de assentamento de 72 famílias de trabalhadores rurais em Piraju (SP), iniciado em 2000. E esse não é sequer o escândalo mais ruidoso em que o candidato à prefeitura de São Paulo se envolveu. Investigação de 2008 da Polícia Federal revelou que Paulinho participou do esquema de desvio de recursos do BNDES que abasteceu os cofres clandestinos da Força Sindical e do PDT. O caso custou-lhe a presidência do partido – e o tornou alvo de inquérito no Supremo.

Carlos Alberto Grana, deputado estadual, integrou o grupo que, durante a campanha eleitoral de 2002, montou um QG nos Jardins, em São Paulo, com a missão de desencavar denúncias e montar dossiês contra adversários do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva. Integrado por antigos amigos de Lula e sindicalistas da CUT, o chamado bunker petista foi revelado por VEJA em 2003. Então secretário-geral da CUT, Grana encarregou-se da logística do escritório e era o responsável por providenciar carros, celulares, passagens e dinheiro.

Humberto Costa, ex-ministro da Saúde, é personagem de um grave escândalo que marcou o governo Lula: a máfia dos sanguessugas. Quando o caso veio à tona, em 2006, Costa já havia saído do governo. De acordo com depoimento à Polícia Federal de Luiz Antonio Vedoin, um dos líderes da quadrilha que desviava recursos da compra de ambulâncias, o ex-ministro aprovou um acerto entre a empresa Planam, de Vedoin, e o Ministério da Saúde. No acerto, a pasta liberou o pagamento de uma dívida de 8 milhões de reais em troca de 400 000 reais de propina. A CPI que investigou o esquema à época não citou Costa em seu relatório final – e o Ministério Público também não ofereceu denúncia contra ele, como saliente a assessoria do senador em carta à VEJA.com. Outro político implicado no caso, Cabo Júlio, disputa a reeleição à Câmara Municipal de Belo Horizonte. Júlio é acusado de receber 190 000 reais do esquema dos sanguessugas e responde a processo criminal na Justiça Federal do Mato Grosso.

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A lista de integrantes da Rede de Escândalos concorrendo a uma vaga na Câmara dos Vereadores não para por aí. Entre eles está Orlando Silva, defenestrado do comando do Ministério do Esporte na esteira do escândalo de corrupção revelado por VEJA em 2011. Silva foi apontado como mentor e beneficiário da engrenagem montada pelo PCdoB para desviar dinheiro público usando ONGs amigas como fachada. Esta denúncia foi avaliada pela Comissão de Ética da Presidência da República, que, em junho, votou pela absolvição do ex-ministro – o caso, no entanto, segue no Poder Judiciário. E não é só: o ex-ministro é personagem também do escândalo dos cartões corporativos – o comunista utilizou dinheiro público para bancar hospedagem no Rio de Janeiro para ele, a mulher, a filha e a babá, e até para pagar uma conta de 8 reais em uma casa de tapioca.

Um dos concorrentes de Orlando Silva em São Paulo é Vicente Viscome, que passou seis anos na prisão – dois deles em regime semiaberto – por envolvimento na chamada ‘máfia dos fiscais’. O esquema foi descoberto em 1998, na administração de Celso Pitta, na prefeitura da capital paulista. Uma onda de denúncias revelou a existência de uma máfia de fiscais, capitaneada por vereadores, empenhados em extorquir pequenos comerciantes, vendedores ambulantes e empresas responsáveis pela coleta de lixo. Viscome foi apontado como um dos líderes da quadrilha e seu envolvimento nas cobranças de propina na regional da Penha foi comprovado pelo Ministério Público.

Para acessar o infográfico, clique na imagem. Para continuar lendo o texto, clique aqui.

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Reprodução de infográfico
Reprodução de infográfico (VEJA)

Engrossa a lista Chicão Brígido, ex-deputado federal, que busca uma vaga na Câmara Municial de Rio Branco, no Acre. Em gravações telefônicas reveladas em maio de 1997, Brígido é acusado de vender seu voto em favor da emenda constitucional que autorizava o presidente, os governadores e os prefeitos do país a disputarem a reeleição. Na ocasião, Brígido era deputado federal. Entre os candidatos listados na rede está ainda o aloprado Hamilton Lacerda, que disputa uma vaga na Câmara de São Caetano do Sul, na Grande SP. Em setembro de 2006, a PF prendeu dois petistas que tentavam negociar um falso dossiê para envolver no caso dos sanguessugasos os tucanos José Serra, então candidato a presidente, e Geraldo Alckmin, que disputava o governo de São Paulo. Lacerda foi acusado de ser o homem da mala: teria transportado o 1,7 milhão de reais ao hotel onde outros dois aloprados foram presos, negociando o dossiê fajuto.

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Outro candidato que tem muito a explicar é Marcelo Sereno, que concorre a vereador pelo PT no Rio de Janeiro. Sereno é personagem do primeiro grande escândalo de corrupção do governo Lula: o caso Waldomiro Diniz. Em fevereiro de 2004, Diniz, então assessor da Presidência da República para assuntos parlamentares, foi afastado após a divulgação de um vídeo em que aparece cobrando propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública do governo Lula, disse a VEJA ter alertado Sereno, chefe de gabinete de Dirceu, sobre a atuação de Waldomiro. Apesar de negar a acusação, ele foi demitido do cargo. Em seu blog, Sereno justifica os anos que passou fora da política devido ao escândalo como “uma pausa para a família”.

Agarrados às desculpas mais esfarrapadas, muitos personagens de escândalos de corrupção contam com a falta de memória do eleitor para se manterem ativos na política nacional. Daí a importância de revisitar, um a um, os casos que indignaram o país. O compromisso da Rede de Escândalos não é apenas o de revisitar o passado, ressaltando as lições que o país aprendeu (ou desperdiçou) em cada episódio. É também o de manter o leitor informado sobre o desenrolar de investigações e julgamentos – e sobre o destino daqueles que em algum momento, ou repetidamente, atentaram contra o bem público.

A redação de VEJA.com registra a seguir correspondência enviada pela assessoria do senador Humberto Costa em 17 de setembro de 2012:

“O senador Humberto Costa (PT/PE), que, sim, atuou como ministro da Saúde entre janeiro de 2003 e julho de 2005, nunca foi investigado, indiciado ou, muito menos, condenado por envolvimento no escândalo da chamada máfia dos sanguessugas. Ressalto ainda que o relatório dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Ambulâncias, de agosto de 2006, em nenhum momento das suas 975 páginas cita Humberto Costa.

O senador e candidato, depois de quase quarenta anos de atuação como homem público, é dono de passado político que só serve para fundamentar e credenciar sua atuação na defesa do bem comum.”

Luís Cláudio Cicci, assessor de Imprensa do gabinete do senador Humberto Costa

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