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Publicitária é um dos principais alvos da nova fase da Lava Jato

Segundo os investigadores, Nelci Warken seria uma laranja no esquema apurado pela operação Triplo X de usar offshores para esconder dinheiro oriundo de corrupção

Por Laryssa Borges, de Brasília, e Eduardo Gonçalves
27 jan 2016, 11h34

Um dos alvos principais da 22ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira, é a publicitária Nelci Warken, que foi presa hoje em São Paulo e será levada para a Superintendência da PF em Curitiba. Ela é apontada pela força-tarefa como proprietária de um apartamento no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP), e vinculada à offshore Murray, criada pela empresa Mossack Fonseca no Panamá para supostamente lavar dinheiro. Os outros presos são Ricardo Honório Neto e Renata Pereira Brito. Maria Mercedes Riano, Ademir Auada e Luiz Fernando Hernandes não foram localizados e provalvelmente estão no exterior. Todos são funcionários da Mossack Fonseca.

Para o procurador Carlos Fernando de Souza Lima, há fortes indícios que mostram que Nelci é uma “laranja” no esquema por não ter condições financeiras de manter a offshore e o apartamento. “Agora estamos investigando quem está por trás dela. Ela não tem nem documentos para viajar para o exterior”, diz o procurador.

Segundo as investigações, a empreiteira OAS utilizou o edifício Solaris, onde o ex-presidente Lula tem um imóvel, para “repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras”. O cerco contra mais um flanco de lavagem de dinheiro no petrolão ocorreu depois de os policiais terem detectado que a cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, Marice Correa de Lima, atuou no recolhimento de propina do esquema criminoso da Petrobras e lavou parte dos valores na compra do apartamento 44-A, no Solaris. A esposa de Vaccari, Giselda Rousie de Lima, declarou à Receita Federal ser proprietária de outra unidade no condomínio, a de número 43. Mas foi o tríplex 163-B, registrado em nome da offshore Murray Holdings, que acendeu o sinal de alerta nos investigadores da Lava Jato – este é o que está no nome de Nelci.

O quebra-cabeças começou a ser desvendado a partir da descoberta de que a Murray teve uma execução decretada por dívidas de cerca de 1,22 milhão de reais, mas apenas o tríplex 163-B, avaliado em 1,8 milhão de reais, conseguiria quitar o débito. As suspeitas ficaram mais fortes depois da constatação que a empresa Paulista Plus Promoções Ltda, que tem como proprietária Nelci Warken, teve o imóvel transferido para a Murray. Um terreno baldio, uma consultoria de imóveis em um local atualmente disponível para locação e duas empresas registradas no mesmo endereço da Mossack Fonseca, no Panamá, reforçaram os indicativos de que Nelci era uma laranja do esquema. “Oportuno destacar que, apesar de Nelci Warken comportar-se como a aparente proprietária dos imóveis, quem figura como responsável pela Murray Holdings junto à Mossack Fonseca é a pessoa de Ademir Auada. Ademir é responsável, junto à Mossack Fonseca, por pelo menos dezenove offshores, dentre as quais Murray Holdings, Hazelville International e Woodbay Holdings”, destacou o juiz Sergio Moro na ordem de prisão na fase Triplo X da Lava Jato.

Carlos Fernando de Sousa Lima disse que ficou “evidenciado” que a Mossack Fonseca é uma “grande lavadora de dinheiro”, que já é investigada por outros esquemas de corrupção no país.

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Conforme os investigadores, a Mossack Fonseca intermediou a abertura das offshores Milzart Overseas Holdings, controlada pelo ex-diretor da Petrobras Renato Duque, da Backspin Management S.A., Daydream Properties Ltd, Tropez Real Estate S. A. e Dole Tec Inc, todas controladas pelo ex-gerente de Serviços da petroleira Pedro Barusco, e da empresa Mayana Trading Corp, do operador Mario Goes. Barusco e Goes são delatores do escândalo do petrolão e deram detalhes de como funcionava o esquema criminoso que sangrou os cofres da Petrobras. o operador de propina e delator da Lava Jato Roberto Trombeta também recorreu à Mossack Fonseca para a constituição de pelo menos oito offshores, sendo uma delas, a Kingsfield Consulting Corp, usada para receber propinas da OAS em obras no Peru e no Equador.

“O declarante foi contratado para assumir o controle acionário de uma sociedade panamenha denominada Kingsfield Consulting Corp que foi usada como canal de recebimentos de valores decorrentes do trabalho efetuado no Chile e na Espanha envolvendo as subsidiárias da OAS no Peru e Equador”, disse Trombeta em seu acordo de delação. As contas da Kingsfield foram abastecidas com cerca de 5,7 milhões de dólares em propina entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013. Outros 8 milhões de dólares recebidos pela Kingsfield acabaram repassados por ordem da OAS para uma conta indicada pelo doleiro Alberto Youssef na Suíça.

Para o juiz Sergio Moro, que decretou as prisões da fase Triplo X, existem “provas, em cognição sumária, de que a Mossack Fonseca providenciou os serviços necessários para a abertura de offshores para pelo menos quatro agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobrás e que as utilizaram para lavagem de dinheiro”. “Existentes provas, em cognição sumária, de que a Mossack Fonseca, inclusive sua representação no Brasil, vêm auxiliando agentes criminosos, inclusive no esquema criminoso da Petrobras, para a prática de fraudes e lavagem de dinheiro. Disponibilizando offshores para criminosos, a empresa Mossack estaria participando, mediante auxílio, da prática desses crimes”, disse Moro. Interceptações de mensagens eletrônicas evidenciaram que orientações para que documentos da Mossack fossem destruídos. Maria Mercedes Riano Quijano, dirigente da Mossack no Brasil, orientou, por exemplo, a destruição e ocultação de documentos. Diz a mensagem: “sacar todo papeles de la oficina, nombres de clientes, documentos a entregar, due diliguence, libretas telefonica y borrar del computador todo lo que pueda haber inclusive tirar los favoritos de la maquina”. Mercedes continua as orientações: “No dejar nada, yo lo voy a guardar en mi carro o en mi casa”.

JBS – A trama criminosa investigada pela força-tarefa da Lava Jato concluiu que a Murray atuava com uma espécie de central de fabricação de offshores. Duas dessas empresas, a Elany Trading LLC e a Avel Grup LLC, foram identificadas na Operação Ararath, da Polícia Federal, que apura o envolvimento delas com as companhias Global Participações e Confiança Participações, do empresário Wesley Mendonça Batista, CEO da JBS.

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