Primeiro debate do Rio tem Paes como ‘vidraça’ e ‘dobradinha’ na direita
A segurança pública foi um dos temas dominantes, junto à tentativa de nacionalizar a disputa municipal com associações a Lula e Bolsonaro
Os candidatos à Prefeitura do Rio participaram, nesta quinta-feira, 8, do primeiro debate, a uma semana do início da campanha eleitoral. Líder nas pesquisas e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD) foi o principal alvo dos adversários, que buscaram criticar sua gestão e associar sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aposta do bolsonarismo para o pleito, Alexandre Ramagem (PL) priorizou a Segurança Pública tanto em suas bandeiras quanto nos ataques ao atual alcaide. Tarcísio Motta (PSOL), terceiro colocado nas intenções de voto, buscou se colocar como uma opção mais propositiva à esquerda, e defendeu a educação integral e tarifa zero
Ao todo, participaram cinco candidatos: além de Paes, Ramagem e Tarcísio, estiveram presentes também Marcelo Queiroz, candidato do PP, e Rodrigo Amorim, nome do União Brasil — que protagonizou dobradinha com o postulante do PL, à exemplo do que fizeram Bolsonaro e Padre Kelmon (à época, no PTB) nos debates presidenciais de 2022.
Na chegada ao local do debate, Paes já havia reconhecido que seria a principal “vidraça” da eleição. “Estou acostumado”, disse. “É natural. Ia estranhar se estivessem me elogiando”, brincou. Ao longo de sua participação, o prefeito buscou elencar os feitos de sua gestão — como a expansão do BRT e a criação do Super Centro Carioca de Saúde — e se defender das críticas feitas pelos oponentes. Ele voltou ainda a se comprometer que ficará os quatros anos do mandato, se reeleito, sem deixar o cargo para a disputa do governo estadual em 2026.
“O Rio retomou o caminho do desenvolvimento. Agora, é óbvio que falta muita coisa a ser realizada. Vamos ampliar os super centros cariocas de Saúde para as zonas Norte e Oeste. Meu compromisso é trabalhar muito, seguir em frente”, disse Paes.
Segurança pública
Ainda no primeiro bloco, o tema foi escolhido por Ramagem, que optou por perguntar a Paes sobre o “descaso” do prefeito com a segurança pública na cidade. Em sua apresentação, ele já havia dado mostras de que essa será sua prioridade ao longo da campanha, ao lembrar que sofreu com a violência da capital fluminense, o que lhe motivou a entrar na Polícia Federal.
“Hoje o carioca vive com medo. De sair de casa, de uma bala perdida, de perder o filho para a criminalidade. Estamos aqui para mudar isso. O prefeito está aí há 12 anos, querendo mais quatro anos e até hoje não fez nada. Estou aqui representando o presidente Jair Bolsonaro, sua família e sua liderança”, frisou Ramagem.
O candidato do PL questionou o prefeito por que não houve interesse em seu governo de atuar no tema junto aos entes estadual e federal, num modelo similar ao que foi feito em Medellín, na Colômbia, e na norte-americana Nova York — cidades que passaram a enfrentar a criminalidade com maior eficiência depois desse tipo de atuação.
Ao responder, Paes optou por ressaltar que as principais medidas a serem tomadas no campo da Segurança Pública são da alçada do governo do estado, não da Prefeitura. E avançou contra Ramagem, ao associar sua imagem à do governador Claudio Castro, também filiado ao PL. Castro, de acordo com as últimas pesquisas, tem alta rejeição e desempenho ruim como cabo eleitoral. O prefeito lembrou também que a indicação do secretário estadual de Segurança foi indicação de Ramagem, junto ao senador Flávio Bolsonaro (PL).
Outro que evocou o tema, em meio a frases de efeito e ataques a Paes e Tarcísio, foi Amorim. Ele fez questão de associar sua imagem à de Bolsonaro e disse querer transformar a Guarda Municipal em Polícia Municipal. “Escolhi meu lado, sou bolsonarista, patriota e conservador. Em 2026, a retomada começa aqui.Vivemos uma cidade abandonada à desordem”, afirmou.
Queiroz, por sua vez, fez questão de se portar com perfil mais moderado. Com críticas mais brandas a Paes — de quem já foi secretário —, o deputado federal do PP se portou como alguém capaz de unir o melhor da esquerda à direita.
Nacionalização
Uma das principais armas da campanha de Ramagem na tentativa de reduzir a distância para Paes, a associação do prefeito com o presidente foi recorrente ao longo do debate. O prefeito foi chamado de “soldado de Lula” e, como apontou Amorim, o candidato que se reeleito transformaria o país em um “bunker de esquerda”. Por ele, Paes também foi chamado de “filho ingrato de Cabral”, numa referência ao ex-governador Sergio Cabral, de quem o prefeito foi aliado.
No embate direto contra Tarcísio Motta, Amorim fez questão de destacar que o candidato não tem, oficialmente, o apoio do presidente Lula. A estratégia tem a ver com um dos desejos do psolista, que é justamente atrair os eleitores do chefe do Planalto — que, no entanto, estará na campanha ao lado de Eduardo Paes. Tarcísio argumentou, contudo, que seu programa e suas ideias estão mais alinhadas com a de Lula, diferentemente de Paes.
O psolista, por sua vez, também usou da estratégia de nacionalizar o debate contra Ramagem. Ele retomou a gestão de Jair Bolsonaro da Saúde na pandemia, ao associar sua imagem à do ex-presidente. Próximo da família Bolsonaro, Ramagem chefiou a Abin, órgão que é alvo da Polícia Federal por suspeitas de ter sido usado ilegalmente, em benefício de aliados e familiares do então chefe do Planalto.
“Eu não sei se você acredita que a vacina faz as pessoas virarem jacaré, se elas causam (..) Eu imagino que a teoria conspiratória, movida por vocês, que você mais gosta é aquela que tem um chip de espionagem na vacina. Porque de espionagem ilegal você entende”, disse Tarcísio.