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Preso na Favorito negociou aluguel de imóvel para ex-secretário de Witzel

VEJA obteve com exclusividade contrato de locação e conversou com o proprietário do luxuoso apartamento na Barra da Tijuca, no Rio

Por Cássio Bruno Atualizado em 15 jun 2020, 16h37 - Publicado em 15 jun 2020, 14h19

Preso na Operação Favorito, o empresário Leandro Braga de Sousa intermediou a locação de um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para Lucas Tristão, ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. VEJA teve acesso ao contrato. Em entrevista exclusiva, o dono do imóvel Edson Trindade Pedrosa confirmou que negociou o valor do aluguel diretamente com Leandro, apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal de ser um dos operadores do esquema de corrupção em contratos envolvendo Organizações Sociais, o governo Wilson Witzel e o grupo do empresário Mário Peixoto, que também foi preso na mesma ação. Segundo Edson, Peixoto, amigo de Tristão, esteve no local pelo menos uma vez para conhecer as instalações onde ainda mora o ex-secretário.

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O contrato de locação foi feito em nome de Sabrina Farias Roveta, esposa de Lucas Tristão. O apartamento, de número 201, fica em um prédio localizado na Avenida Érico Veríssimo, área nobre, a poucos metros da praia. É uma unidade por cada andar. De acordo com o documento obtido por VEJA, o prazo de locação é de 30 meses, a partir de 15 de janeiro do ano passado até 14 de janeiro de 2021. Avaliado em pelo menos 3,5 milhões de reais, o imóvel é amplo. Tem quatro suítes, sendo uma delas com hidromassagem, mais dois banheiros separados dos cômodos, sala e varanda. No total, são 360 metros quadrados. O valor do aluguel acertado entre Edson Pedrosa e Leandro Braga foi de 5 mil reais por mês, sem contar com a taxa de condomínio.

VEJA consultou corretores de imóveis. O preço médio de mercado para alugar um apartamento deste tipo não fica por menos de 10 mil reais mensais. Edson Pedrosa admitiu ter reduzido pela metade o preço a pedido de Leandro Braga. De acordo com o proprietário, o empresário argumentou que Lucas Tristão não teria como justificar o pagamento mensal por causa de seu salário como secretário estadual. VEJA consultou o site da Transparência do governo do Rio. O vencimento de Tristão, em maio, era de R$ 12,2 mil (líquidos).

“Na época, eu estava na Europa. Mandei um amigo mostrar o imóvel a ele (Leandro Braga). No dia 13 de janeiro, (o Tristão) já estava (morando) lá. Eles tinham muita pressa porque a mulher (Sabrina) estava em um apart-hotel pequeno”, contou Edson Pedrosa. “Em uma das visitas para conhecer o apartamento, foram a Sabrina, o Leandro, o Lucas e o Mário Peixoto”, revelou o dono. De volta ao Brasil, em fevereiro de 2019, então, Edson Pedrosa negociou o aluguel pessoalmente com Leandro Braga. Os dois se encontraram no condomínio Golden Green, também na Barra. “Como o Lucas já estava dentro do imóvel, achei melhor fechar logo o contrato em 5 mil reais mesmo para não ficar sem alugar e sem o dinheiro. Eu tinha ainda uma promessa de compra do apartamento da parte dele”, explicou Edson.

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O prédio onde mora o ex-secretário Lucas Tristão, na Barra (Cássio Bruno/VEJA.com)

Tristão até hoje não comprou o apartamento. Pior: ainda deve quase três meses de aluguel, mais taxas de condomínio e IPTU, além de reajustes previstos no acordo. A dívida, segundo Edson Pedrosa, está em 35 mil reais. Ele decidiu cobrar o ex-secretário na Justiça. “O Lucas Tristão nunca pagou aluguel em dia. Vou ajuizar uma ação ainda esta semana. Me sinto envergonhado em ter que ligar para as pessoas e cobrar. Uma vez o encontrei na garagem do prédio, pedi para conversar (sobre os constantes atrasos), mas ele disse que não poderia falar comigo. Fechou o vidro do carro e foi embora”, disse Edson Pedrosa. A equipe de reportagem de VEJA esteve no prédio. Um dos porteiros informou que Lucas Tristão está viajando.

Leandro Braga é dono da LP Farma Comércio Importação e Distribuidora de Produtos Hospitalares. De acordo com o Ministério Público, o empresário é suspeito de ter repassado dinheiro desviado de contratos superfaturados de alimentação para Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ao grupo criminoso de Mário Peixoto. A LP Farma, segundo a força-tarefa da Lava-Jato, tinha contratos para fornecer insumos hospitalares à Unir Saúde e ao Instituto Data Rio, Organizações Sociais investigadas no esquema. Em 2016, Braga foi candidato a vereador em Mesquita, na Baixada Fluminense, mas perdeu.

Peixoto é um dos principais fornecedores de mão-de-obra terceirizada na gestão de Wilson Witzel e atuava no Palácio Guanabara desde os governos de Sérgio Cabral e de Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB e presos na Lava-Jato. No mês passado, a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que deflagrou a Operação Placebo – Witzel foi um dos alvos de busca e apreensão – menciona a relação entre Lucas Tristão e o empresário. As empresas de Peixoto fizeram depósitos de R$ 225 mil para o escritório de advocacia de Tristão, conforme consta no documento.

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A saída de Lucas Tristão do governo ocorreu após pressão de deputados da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que iniciaram nesta segunda-feira, 15, o processo de impeachment de Wilson Witzel. O governador começou a ser investigado por irregularidades em contratos emergenciais sem licitação na gestão, principalmente na área de Saúde. Na tentativa de barrar seu afastamento, Witzel ofereceu cargos aos deputados em troca de apoio.

Nos bastidores, porém, os parlamentares exigiam a saída de Lucas Tristão. Em fevereiro deste ano, eles acusaram o ex-secretário de grampeá-los ilegalmente para produzir dossiês contra os políticos da Alerj. Foi o estopim para azedar a relação entre o governador e os deputados. Tristão é ex-aluno de Witzel na faculdade de Direito no Espírito Santo. Foi um dos coordenadores de campanha do então candidato na eleição de 2018. No governo, era o homem forte do ex-chefe.

Procurado por VEJA, Tristão ainda não comentou. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Leandro Braga. 

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