Desde a campanha, Luiz Inácio Lula da Silva vem repetindo que o novo governo vai se dedicar à pacificação do país e que sua próxima passagem pelo Palácio do Planalto não será uma gestão apenas do PT. Esse espírito paz-e-amor não contempla acenos simpáticos ao mercado financeiro, como ficou claro no pronunciamento desta quinta, 10, no CCBB, sede do governo da transição, quando o petista relativizou a importância da responsabilidade fiscal, além de criticar a distribuição de dividendos pela Petrobras e as privatizações. No final do mesmo dia, quando confrontado com a repercussão negativa, que provocou tremores na Bolsa e uma alta do dólar, Lula ironizou: “Nunca vi mercado tão sensível quanto o nosso”.
Os sinais recentes mostram que Lula não digeriu o comportamento do mercado durante a campanha presidencial. A Faria Lima em peso apoiou Bolsonaro e não cansou de criticar o petista pela dose exagerada de generalidades contidas em suas falas a respeito dos rumos da economia. Segundo o núcleo-duro de Lula, as inúmeras reuniões ocorridas com banqueiros e gestores de fundos ao longo da campanha mostraram-se infrutíferas. Impera ali a percepção de que o mercado nunca demonstrou a menor simpatia pela volta do petista ao Palácio do Planalto e até agiu de forma a atrapalhar as pretensões de Lula.
Enquanto o setor financeiro cobra reiteradamente a definição do nome de quem será o homem forte da economia do novo governo e espera que ele seja da linha liberal, vem crescendo nos bastidores da transição a possibilidade de Fernando Haddad assumir o posto, o que seria outro recado claro na direção de que Lula não faz questão alguma de agradar ao mercado.
Claro que o velho pragmatismo do líder pode voltar à cena a qualquer momento, de acordo com as necessidades, com o aceno de uma bandeira branca. Mas a visão que impera hoje dentro do PT é que Lula ganhou apesar do mercado — e não deve nada a ele.
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