Polícia prende cabos eleitorais que faziam propaganda para vereador no Rio
Presos faziam campanha irregular para Marcello Siciliano em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, área controlada pela milícia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu em flagrante cinco cabos eleitorais do vereador Marcello Siciliano (Progressistas), que faziam campanha irregular para o parlamentar em Santa Cruz neste domingo, 15, na Zona Oeste da cidade, bairro que é controlado pelas milícias. A lei eleitoral proíbe propaganda de políticos no dia das eleições.
Procurados por VEJA, nenhum dos membros da equipe de campanha do vereador foi localizado para comentar o assunto. Siciliano também não foi localizado.
O parlamentar chegou a prestar depoimento no contexto das eleições do Rio à Polícia Civil em 26 de outubro. No entanto, a pedido de sua defesa, a Justiça Eleitoral decretou sigilo no processo.
Os cinco cabos eleitorais presos foram encaminhados à 36ª DP, também em Santa Cruz. VEJA teve acesso a dois dos depoimentos. Em um deles, uma mulher confessa que foi convocada a fazer propaganda eleitoral para Siciliano em troca de 50 reais. Ela acrescentou que não sabia que a atividade era ilegal e que aceitou a proposta porque está desempregada e precisava do dinheiro.
Em seguida, os cinco presos em flagrante serão encaminhados à Superintendência da Polícia Federal no Rio, que é responsável por autuar crimes eleitorais no Brasil.
Equipe do Departamento Geral de Polícia Especializada da Polícia Civil apreendeu uma prancheta de controle com nomes e telefones de cabos eleitorais que iriam atuar hoje na campanha de Siciliano, além de material de campanha (santinhos) e um carro usado pelos cabos eleitorais do vereador. Em depoimento, o dono do carro apreendido no qual estavam os materiais de campanha disse que é gari da Companhia de Limpeza Urbana do Rio (Comlurb), mas que não é filiado a nenhum partido político.
O quinteto será autuado pelo crime de boca de urna, cuja pena é detenção de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa.
VEJA antecipou com exclusividade no mês passado que a Polícia Civil do Rio faria uma operação para combater a atuação das milícias no dia das eleições no Rio.
A reportagem também mostrou algumas regiões em que somente a campanha de Siciliano entrava na Zona Oeste do Rio – para as autoridades, um candidato único em determinados bairros significa a atuação de grupos criminosos impedindo demais candidatos de entrar nessas localidades.
Ele é um dos mais ferrenhos aliados do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que concorre à reeleição. Siciliano declarou à Justiça Eleitoral ter, em mãos, quase meio milhão de reais em dinheiro vivo – mais precisamente 460.000 reais – de seu patrimônio de 1,1 milhão de reais.
Vereador na Câmara do Rio, Siciliano ganhou fama nacional quando foi relacionado como suposto mandante das mortes da vereadora Marielle Franco (Psol) e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018 no Estácio, região central do Rio.
Ele, que foi investigado no inquérito que apura o duplo homicídio, sempre negou as acusações de envolvimento no atentado contra a parlamentar. Segundo as investigações, reveladas pelo site The Intercept Brasil, o vereador mantinha contato frequente com pessoas ligadas diretamente ao PM reformado Ronnie Lessa.
Junto ao ex-PM Élcio de Queiroz, eles são os réus apontados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio como os executores da vereadora e de seu motorista. Lessa teria atirado, enquanto Élcio estaria dirigindo o carro Chevrolet Cobalt prata clonado usado na emboscada.
A polícia ainda não concluiu as investigações e não apontou quem mandou matar a vereadora, tampouco o porquê. Ontem, o crime completou 2 anos e 8 meses sem essas respostas.