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“PMDB do Rio está fazendo política com o fígado”, diz Dornelles

Governador interino do Rio de Janeiro aponta erros do partido ao abandonar Dilma e no processo de sucessão do prefeito Eduardo Paes

Por Da Redação 1 abr 2016, 12h48

Quatro dias depois de assumir interinamente o governo do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles (PP) tem se dedicado ao que faz melhor: tecer alianças. Engatou em uma maratona de reuniões com secretários e deputados estaduais, alguns dos quais conheceu agora. Com os números do buraco financeiro em que hoje está enterrado o estado em mãos, Dornelles já sinalizou que poderá pagar em parcelas os salários atrasados dos servidores. Nesta entrevista à VEJA.com, mineiramente disparou para todos os lados. Criticou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, avaliou os reflexos da debandada do PMDB do Rio da barca federal, comentou a operação Lava-Jato e adiantou como se posicionará durante a licença do governador Luiz Fernando Pezão para o tratamento de um câncer. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Como o senhor avalia a mudança de posição do PMDB do Rio em relação ao governo Dilma?

A debandada do PMDB se não prejudica o Rio de Janeiro, também não ajuda. A aliança com o PT foi fundamental nos últimos anos. Um partido que participa do governo por três anos não pode deixar o barco assim de repente.

Por que o PMDB fluminense fez este movimento?

Não gosto de falar sobre outros partidos, mas acho que eles temiam que, na próxima eleição deste ano, o Eduardo Paes ficasse identificado como o homem da Dilma. O desgaste de ser ligado a Dilma e ao Pezão, que também está mal avaliado, representaria uma perda muito grande para ele. No entanto, tenho a impressão de que Paes e outros do PMDB não perceberam os problemas que podem causar para o Pezão com esta decisão.

O senhor tem conversado com o ex-governador Sérgio Cabral sobre os últimos movimentos do PMDB fluminense?

Na última vez que conversei com Cabral, no mesmo dia tive uma crise de diverticulite e acabei internado por oito dias. Afirmei na ocasião que o PMDB do Rio errou ao se distanciar do PSD do Gilberto Kassab. Eles disseram: “Ou vocês retiram a candidatura do Índio da Costa (do PSD) a prefeito do Rio ou vamos demitir os secretários do partido”. Isso não é maneira de fazer política. O Índio da Costa tem o potencial de sangrar na Zona Sul carioca a candidatura de Carlos Roberto Osório (que deixou o grupo de Paes pelo PSDB). Ou seja, dividiriam este quinhão de votos. Na verdade, eles deveriam, isso sim, estimular o Índio a concorrer. Mas preferiram fazer política com o fígado.

Depois das acusações de bater na ex-mulher, como o senhor analisa as chances de Pedro Paulo Teixeira, o candidato de Paes, nas eleições para prefeito?

Política é o fato e o tempo. O fato é duro, mas muitas vezes o tempo atenua. Acho que houve dois grandes baques nesta questão da sucessão municipal: a briga do Pedro com a ex-mulher e os áudios divulgados do Eduardo Paes (em conversa com o ex-presidente Lula, o prefeito classifica como “alma de pobre” a compra do tríplex e do sítio em Atiabaia). Em 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes disputava a eleição presidencial contra o general Eurico Gaspar Dutra. A duas semanas do pleito, atribuiu-se ao brigadeiro a frase: “Eu não preciso dos marmiteiros”. Isso tomou conta do país (o brigadeiro foi considerado preconceituoso e acabou perdendo a disputa para Dutra). O Fernando Gabeira estava praticamente eleito até o dia em que chamou uma pessoa de suburbana (nas eleições de 2008 ele foi flagrado ao telefone referindo-se assim a uma vereadora). O caso do Pedro Paulo está no Supremo, nas mãos do ministro Luis Fux. Se ele conseguir arquivar, a história muda.

O PMDB não conversa sobre a possibilidade de trocar o candidato?

O Paes nem admite falar nisso. Agora, eu no lugar dele estaria fazendo a mesma coisa. Se ele admitir a saída do Pedro Paulo, apareceriam de cara dez candidatos. Logo que ocorreu a primeira denúncia contra o Pedro Paulo, ele decidiu renunciar, mas o Cabral acabou o fazendo mudar de ideia. Ora, se o Paes não admitiu a renúncia naquela ocasião, não faz sentido fazer isso agora. Acho que o PMDB tem uma visão de que, se o Pedro Paulo estiver com 2%, 3% lá na frente, o próprio Paes vai ter de admitir que não dá para ele.

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E quem seria o nome para substituí-lo?

Não sei. Você acha que o Leonardo Picciani pleiteia?

O que o senhor acha?

Acho que eles deveriam ter paparicado o Osório como o envelope dois, mas fizeram o contrário. Humilharam e agrediram. Repito: estão fazendo política com o fígado.

Mas o Osório ainda não pode ser uma opção para este grupo político mesmo filiado ao PSDB?

Não. O problema do Paes com o Osório virou pessoal.

Cabral está animado para ser candidato a governador em 2018?

Vai depender muito da Lava-Jato. Tenho a impressão de que, se puder, o Sergio Moro vai levar essa operação até o ano 3 000. Só quem perde com o fim da Lava-Jato é o Moro. Ele já está entre as maiores celebridades do mundo (o juiz foi considerado o 13º líder mundial pela revista americana Fortune). Virou um herói nacional. De fato, liderou um movimento positivo. Nunca se podia imaginar essa roubalheira toda na Petrobras. Agora, acho que o Moro cometeu atos de violência, como prisões em excesso e conduções coercitivas de pessoas que poderiam ser ouvidas em casa. Foi um pouco espetaculoso.

Seu partido, o PP, acaba de ter sete denunciados na Lava-Jato.

Todo partido é como um buquê de flores: tem rosa, cravo e flor de cemitério. Nenhum partido vai deixar de sangrar com a Lava-Jato.

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Por que Jair Bolsonaro, um dos únicos parlamentares do PP não citado na Lava-Jato, deixou o partido?

O Bolsonaro está alucinado achando que é candidato à presidência da República e que, com certeza, estará no segundo turno das eleições. Ele queria que o PP garantisse a ele a legenda. Eu poderia ter mentido e dito: “Fica tranquilo que nós garantimos”. Em 2018, era só dizer que o partido não queria. Mas preferi ser franco e não garantir a legenda. O PSC deu, mas acho que só para explorá-lo, colocando o nome do Bolsonaro na televisão para eleger prefeitos e fazer uma bancada de vereadores. Acho que lá na frente o PSC vai é fritá-lo.

Como tirar o Rio de Janeiro do buraco financeiro?

Há certas despesas que não podemos reduzir: Ministério Público, Judiciário, Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa, servidor que entrou por concurso. O estado está uma tragédia. A curto prazo, temos que recorrer a algumas operações de crédito. Fomos autorizados a tomar 1 bilhão de reais na praça. Mas veja como é a burocracia do governo federal. O Pezão assinou, o Tesouro autorizou e o Banco do Brasil vetou. Teremos que buscar recursos em bancos privados.

Muitos deputados dizem que, na verdade, quem está mandando no Rio de Janeiro é o deputado estadual Jorge Picciani. O que o senhor diz?

Picciani tem ajudado muito. É a maior liderança política do Rio atualmente.

Com Pezão afastado, Picciani vai tentar interferir mais no governo?

As sugestões que trouxer para mim serão bem recebidas.

A coluna Radar, de VEJA, publicou uma informação de que ele quer ser o próprio governador do Rio.

Ele e a torcida do Flamengo (risos). O governo é do Pezão e continua sendo do Pezão. Qual a diferença agora? Tenho consciência de que serei um governador interino. Meu papel é conhecer a programação de cada secretário. Vice tem que saber que não herda o posto, apenas substitui o titular por um tempo determinado e continua implementando a política do governador.

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O senhor apostaria no impeachment da presidente Dilma?

O impeachment deve ter um argumento jurídico forte; é preciso mostrar o crime para tirar alguém do poder. Não acho que isso esteja configurado no momento. Mesmo assim, se fosse hoje, o impeachment passaria na Câmara dos Deputados.

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