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Pesquisa revela as dificuldades do centro para crescer no universo digital

Os nomes que se apresentam como alternativa a Bolsonaro e PT patinam nas redes sociais, cada vez mais cruciais nas disputas eleitorais

Por Daniel Pereira Atualizado em 11 dez 2020, 09h01 - Publicado em 11 dez 2020, 06h00

Em sua edição passada, VEJA mostrou que os partidos que se dizem de centro, apesar de terem crescido nas eleições municipais, ainda não têm um líder capaz de aglutinar apoios e desbancar Jair Bolsonaro na próxima sucessão presidencial. A análise foi amparada em números. Segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisas, Bolsonaro lidera nas intenções de voto para 2022 com 33,3% e tem ampla vantagem sobre os demais postulantes, como o ex-juiz Sergio Moro (11,8%), o eterno presidenciável Ciro Gomes (10%), o ex-ministro Fernando Haddad (8,8%), o apresentador Luciano Huck (7,8%) e o governador João Doria (3,7%). O adversário mais competitivo do presidente é seu antecessor Lula, que marcou 17,8%, mas ainda tenta derrubar na Justiça a sua inelegibilidade. Se o petista recuperar o direito de concorrer, a tendência hoje ainda seria de reedição da rivalidade ocorrida nas eleições de 2018. O centro ainda não tem um líder para romper essa polarização na preferência do eleitorado nacional. Pior: os centristas também patinam no universo digital, cada vez mais crucial nas disputas eleitorais.

arte redes

A posição periférica dos nomes que se apresentam como alternativa a Bolsonaro e PT fica clara num ranking elaborado pela Quaest Consultoria & Pesquisa, que desde março mede a popularidade digital de treze políticos de expressão nacional. De forma resumida, o trabalho consiste no monitoramento de redes como Twitter, Facebook, Instagram e YouTube, nas quais é coletada uma série de dados — do número de seguidores à capacidade de promover engajamento, passando pelas reações positivas às postagens. Com base nesse material, a consultoria confere uma pontuação de zero a 100 aos treze políticos e, assim, elabora o que chama de Índice de Popularidade Digital. Na sondagem concluída em 18 de novembro, a primeira colocação ficou com Bolsonaro, que registrou 79,1 pontos e, como na pesquisa de intenção de voto, está muito à frente de seus possíveis adversários. “Embora o volume de contestação em suas páginas tenha aumentado, o presidente continua sendo quem melhor impacta as redes sociais com conteúdos que engajam e mobilizam seu fã-clube digital”, diz o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.

Na segunda e terceira posições ficaram, respectivamente, Huck (41,2) e Lula (35,6). O apresentador é o único nome do centro bem posicionado no universo digital, mas seu protagonismo nessa seara está muito mais associado a sua fama como estrela de TV do que propriamente a sua participação no debate político. No Twitter, Huck tem 13,1 milhões de seguidores, duas vezes mais do que Bolsonaro e seis vezes mais do que Lula. Ele tem se aproveitado dessa audiência para tratar de assuntos palpitantes da agenda nacional. Foi o caso da disputa política em torno da vacinação contra a Covid-19 (veja a matéria na pág. 58). “Vacina é um direito de todos e um dever do Estado. O vírus não é de esquerda ou de direita. É um problema da ciência. Não cabe politicagem quando o assunto é a saúde da população”, escreveu Huck no Twitter. O problema é que ele tem muito mais engajamento quando fala, por exemplo, da mulher, Angélica, ou das gravações de seus programas.

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FAMOSO - Luciano Huck: ele não vai mal, mas a popularidade é associada à televisão e não ao debate político -
FAMOSO – Luciano Huck: ele não vai mal, mas a popularidade é associada à televisão e não ao debate político – (Dilson Silva/AgNews)

Entre os demais pré-candidatos à Presidência, quem aparece mais bem colocado no ranking de popularidade digital é o ex-ministro Ciro Gomes, que ficou em sexto, com 23,9 pontos. Filiado ao PDT, Ciro trabalha para construir uma candidatura de centro-esquerda e, nesse esforço, mantém conversas até com o DEM. Até pelo recall de eleições anteriores, é natural sua boa posição. Mas ela segue sempre estável, sem grandes alterações. Quem teve uma mudança brusca de avaliação foi o ex-ministro Sergio Moro — para baixo. Cortejado pelo Podemos, mas ainda sem filiação partidária, o ex-juiz é o sétimo colocado e enfrenta um processo vertiginoso de desidratação. Ao deixar o governo em abril, acusando Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, Moro deu um salto de popularidade e alcançou 50 pontos, enquanto Bolsonaro despencou para 66 pontos. Hoje, Moro tem apenas 22,8 pontos. Seu desempenho, registre-­se, é prejudicado pelo fato de não ter páginas no Facebook nem no YouTube. “Moro simplesmente perdeu lugar no espaço político brasileiro. Suas opiniões e posições importam menos e seu trabalho de cultivar as redes não se mostra efetivo”, diz Felipe Nunes.

No meio político, há a avaliação de que o ex-juiz se distanciou da possibilidade de se candidatar à Presidência ao se tornar sócio de uma consultoria internacional que administra o processo de recuperação judicial da Odebrecht, empreiteira que foi alvo de suas decisões quando ele julgava a Lava-Jato. O fato é que, mesmo com a incursão na iniciativa privada, ele não abandonou o debate. Recentemente, usou o Twitter, rede em que tem 3 milhões de seguidores, para reforçar sua bandeira anticorrupção e repudiar o racismo e o feminicídio. Uma de suas postagens: “20 de novembro, dia da Consciência Negra, e o destaque do noticiário é o espancamento e morte de João Alberto Silveira Freitas, em um supermercado. A violência racial não pode mais ser tolerada. Que os assassinos sejam punidos com rigor”. Tais movimentos, porém, têm sido insuficientes para manter sua popularidade digital — e a contradição de seu comportamento deve piorar ainda mais sua colocação.

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DESIDRATAÇÃO - Sergio Moro: em baixa após deixar o governo -
DESIDRATAÇÃO – Sergio Moro: em baixa após deixar o governo – (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Além de Ciro Gomes, o único nome do centro que certamente será candidato em 2022 é o governador João Doria, que representaria uma aliança de centro-direita. O tucano aparece apenas na 11ª posição na lista de popularidade digital. Apesar de figurar na rabeira do ranking, ele não se descuida das redes e usou o Twitter, por exemplo, para tentar se apresentar como o anti-Bolsonaro no caso da vacinação. “Precisamos de todas as vacinas para salvar vidas no Brasil. Esperamos que o Ministério da Saúde e a Anvisa tenham senso de urgência e possam agilizar medidas, sem abandonar critérios científicos”, escreveu o governador. O presidente mordeu a isca e reagiu com uma provocação, ao lembrar que a vacina pela qual o tucano faz campanha ainda depende de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): “O Brasil disponibilizará vacinas de forma gratuita e voluntária após comprovada eficácia e registro na Anvisa”. Esse antagonismo foi interessante para o governador paulista, que, embora ainda esteja bem atrás, apresenta bom potencial de crescimento na batalha digital.

Tal frente, aliás, certamente terá importância fundamental em 2022. Trata-se de uma era que (goste-se ou não) veio para ficar. Nas eleições das capitais, por exemplo, os candidatos com atuação de destaque nas redes conquistaram bons resultados. Mesmo filiado a um partido pequeno e detentor de míseros segundos na propaganda eleitoral, Guilherme Boulos (PSOL) chegou ao segundo turno em São Paulo embalado por seu prestígio no universo digital. Até nessa seara ele superou o PT. Para o diretor da Quaest, a popularidade nas redes é sinônimo de poder e de competitividade eleitoral. O desafio dos centristas, segundo ele, é achar o tom correto para conquistar seguidores agora e votos em 2022. O tom moderado demais, até aqui, não tem se mostrado capaz de promover engajamento e conquistar adesões. “O centro é monótono. E não há espaço para monotonia na comunicação digital. O centro precisa ser ‘radicalmente de centro’ se quiser aparecer”, aconselha Felipe Nunes. Em outras palavras: essa turma não tem de ter medo de se posicionar, de discordar e de mostrar as contradições presentes nos polos.

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Publicado em VEJA de 16 de dezembro de 2020, edição nº 2717

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