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Partidos miram candidatos que podem bancar a própria campanha

Com proibição de doações empresariais e falta de limites para autofinanciamento, políticos com maior patrimônio tornaram-se ativos eleitorais

Por Estadão Conteúdo 26 mar 2018, 12h23

A ausência de um limite para o autofinanciamento de campanhas eleitorais, aliada à proibição das doações empresariais, aumentou a influência de políticos ricos na definição das candidaturas majoritárias nas eleições de 2018. Pelas regras atuais, todas as despesas, desde que não ultrapassem o teto definido para o cargo pleiteado, poderão ser pagas pelo próprio candidato.

Com os partidos obrigados a fazer conta para custear campanhas, dirigentes admitem que políticos com maior patrimônio pessoal tornaram-se ativos eleitorais. Em alguns casos, a capacidade de se autofinanciar virou condição decisiva para a montagem dos palanques regionais. Ao menos três pré-candidatos têm fortunas superiores a R$ 100 milhões, como o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o empresário Flavio Rocha, dono da Riachuelo, que na semana passada confirmou a intenção de se candidatar à Presidência.

A maior parte das legendas pretende dar prioridade à eleição de parlamentares federais, já que o tamanho das bancadas na Câmara é que define a divisão dos recursos dos fundos eleitoral e partidário — compostos por recursos públicos, ambos alcançam R$ 2,6 bilhões e serão fontes majoritárias para bancar campanhas. Nesse cenário, os partidos têm sido mais criteriosos em lançar nomes para os governos estaduais sem chances reais de vitória. Isso coloca em vantagem candidatos ricos, que podem virar exceções.

Se a resolução que permite o autofinanciamento não for revista, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) já afirmou que vai pagar sua campanha ao governo. “Mas eu não vou gastar milhões, não vou chegar nem perto do teto permitido (R$ 21 milhões). E o partido vai ter de contribuir também”, diz o tucano, que declarou R$ 28 milhões de patrimônio em 2014 (hoje, cerca de R$ 35 milhões em valores corrigidos).

As regras para o autofinanciamento estão sendo questionadas no Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda vai julgar o tema. Enquanto o caso não se define, o senador Wilder Morais (PP-GO), candidato à reeleição, já projeta os custos. “Venho da iniciativa privada, onde se valoriza cada centavo. A campanha terá organização, metas e fiscalização. Quanto aos doadores, certamente serei um deles, mas com a parcimônia.”

João Doria, por exemplo, teria condições de bancar até 100% de sua campanha ao governo e ainda ajudar candidatos ao Legislativo. Com patrimônio pessoal estimado em R$ 188 milhões, o prefeito deve fazer algo semelhante à campanha de 2016, quando arcou com 32% das despesas (cerca de R$ 14 milhões). O tucano diz que seguirá as regras eleitorais e a orientação do partido. “Se o partido assim definir (que colabore financeiramente), seguirei”.

Presidente do Novo, Moisés Jardim afirma que o pré-candidato do partido à Presidência, o ex-banqueiro João Amoêdo, assim como todos os demais, terá participação financeira na própria campanha. “Mas a gente entende que é fundamental que a campanha não seja 100% autofinanciada, até para que não se torne um projeto pessoal”, disse. Jardim admite, no entanto, que o patrimônio dos candidatos seja um dos critérios do Novo para a escolha de seus candidatos.

A cinco meses da data obrigatória de registro das candidaturas, a estratégia dos dirigentes partidários é deixar caminho aberto para formação de alianças nos Estados. Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) diz que o planejamento da legenda só será anunciado após o término da janela partidária, em 7 de abril. “Mas, no PP, ninguém olha imposto de renda na hora de escolher candidato”. Já o ex-presidente do DEM, senador José Agripino, diz que a legenda vai gastar com as campanhas mais viáveis. “É a viabilidade eleitoral que vai ditar quem vai receber os recursos.” 

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Questionamento no STF

No início do mês de março, quatro partidos (PT, PDT, PSOL e PCdoB) entraram no Supremo Tribunal Federal (STF) com um ação de inconstitucionalidade contra a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que trata do autofinanciamento de campanhas eleitorais. As legendas argumentam que a regra afeta o equilíbrio da disputa.

A resolução do TSE prevê que no pleito para a Presidência da República o limite de gastos do próprio bolso dos candidatos será de R$ 70 milhões. Na disputa para o Senado, o teto fixado é de R$ 21 milhões nos Estados com mais de 21 milhões de eleitores. E nas campanhas para a Câmara Federal, os candidatos podem tirar de suas contas até R$ 2,5 milhões.

De acordo com os partidos que questionam a regra, o autofinanciamento viola “os princípios republicano, democrático e da isonomia” do processo eleitoral. Além disso, ressaltam que a resolução do TSE é contraditória, pois limita doações realizadas por pessoas físicas a 10% os rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior à eleição, mas ignora o artigo que define regra para autofinanciamento.

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP, o STF tem de derrubar a regra atual a fim de resguardar um mínimo de isonomia entre os candidatos. “A manutenção do autofinanciamento dificulta a renovação política, torna a competição desigual e consolida as elites que se mantêm no poder pela força do dinheiro”, afirma.

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Teixeira observa que muitos dos candidatos que se autofinanciam também bancam campanhas parlamentares locais, a fim de conquistar o poder e também a garantia da governança. O relator do caso no STF, ministro Dias Toffoli, já se posicionou contrário ao autofinanciamento sem limite, podendo levar o tema a plenário a qualquer momento. Segundo o TSE, a regra está prevista na Lei das Eleições há mais de 20 anos.

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