Para evitar rebelião na base, Dilma quer enfraquecer o PR
Presidente teme reação do partido diante da faxina nos Transportes e trabalha para provocar divisão na legenda. E avisa: quer 'Lei da Ficha Limpa' na pasta
A faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff no Ministério dos Transportes ceifou do comando da pasta os nomes diretamente ligados ao PR, partido que comandava o ministério desde o governo anterior. E a legenda já demonstrou sua insatisfação com o Planalto. Para evitar que a rebelião do PR ganhe mais força, Dilma elaborou uma estratégia para esvaziar o poder do partido, provocando uma divisão interna na legenda.
De acordo com a edição desta terça-feira do jornal O Globo, o Planalto já comunicou à cúpula do PR que a presidente Dilma assumiu para si o comando dos Transportes: a partir de agora, não haverá mais indicações políticas para a pasta e todos os novos servidores deverão passar pela aprovação da presidente. Dilma quer aplicar no ministério uma espécie de Lei da Ficha Limpa, permitindo que assumam cargos apenas nomes que não possuam condenação na Justiça. A regra vale também para os indicados a assumir o comando do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), tido como o coração do esquema de corrupção na pasta.
Para evitar que o descontentamento do PR provoque uma rebelião que possa se espalhar pelos demais partidos da base aliada, Dilma já tem um plano para neutralizar a pressão da legenda. Ainda segundo o jornal, a presidente deu início a ações para enfraquecer o PR, dividindo o partido. O primeiro passo do Planalto foi enfraquecer o poder do deputado Valdemar Costa Neto, que é o comandante da legenda na prática. Dilma demitiu dos Transportes todos os indicados de Valdemar – e já avisou a seus interlocutores que o deputado não tem mais influência no governo.
Paralelamente, o Planalto quer promover novos mediadores do PR junto ao Congresso. Dilma quer estimular conversas com outras lideranças do partido, como o senador Blairo Maggi, que teria convencido o ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, a abrir mão do cargo. A ação de Maggi rendeu ao senador créditos com a presidente, informou ao Globo um ministro da Esplanada. A reação do governo aos desmandos do PR nos Transportes assusta o partido, que agendou uma reunião com as bancadas na Câmara e no Senado para avaliar como proceder.
A cúpula do PR não esconde sua insatisfação com as exonerações. O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), reclamou do fato de a presidente Dilma Rousseff ter demitido os funcionários da pasta dos Transportes a conta-gotas. “Pedi a setores do governo que dessem uma orientação para que as demissões fossem feitas todas de uma vez, que não ocorram com essa pressa. À frente das demissões também seria justo que se colocasse o motivo da exoneração. Virou um estado policial, e não um estado democrático de direito”.