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Os planos da ex-mulher de Bolsonaro, que promete livro polêmico

Ana Cristina se aproximou de lobista explosivo, quer disputar uma vaga no Congresso em 2022 e rascunha obra sobre a relação com o presidente

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jan 2021, 19h29 - Publicado em 29 jan 2021, 06h00

Uma das estratégias mais utilizadas por certos lobistas que agem nos subterrâneos do poder é mostrar que eles têm acesso e, principalmente, influência junto a autoridades e políticos importantes. Em Brasília, isso vale ouro, está na raiz de grandes fortunas e também na gênese de monumentais escândalos de corrupção. O homem de terno escuro na página ao lado é um ás nessa arte de se aproximar de pessoas que podem ajudar seus clientes a conseguir facilidades e grandes negócios no governo. Em maio de 2018, ele foi preso pela Polícia Federal numa operação que investigava a venda ilegal de registros sindicais no Ministério do Trabalho. De acordo com a acusação, cobrava milhões de seus clientes para conseguir agilizar a aprovação dos registros. Parte do dinheiro era usada para financiar campanhas eleitorais e para subornar servidores públicos. Submerso desde então, Silvio de Assis, o lobista da foto, está em plena atividade.

Nos últimos meses, assim como fazia no Ministério do Trabalho, ele tem oferecido seus serviços a empresários com pendências ou interesses comerciais em órgãos do governo. Também atende a prefeitos que enfrentam dificuldades em conseguir a liberação de verbas orçamentárias nos ministérios. Dependendo do cliente, cobra o equivalente a 10% do valor dos recursos. Exibe como garantia de sucesso a proximidade que afirma ter com um rol de figurões da República e políticos influentes do Congresso, como o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Senado, e o deputado Ricardo Barros (Progressistas-­PR), líder do governo na Câmara. Mais recentemente, Silvio de Assis incluiu no seu portfólio de amizades a advogada Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, que está de mudança para Brasília. Foi um reforço e tanto na estratégia do lobista de se mostrar próximo a pessoas importantes.

PARCERIAS - Silvio de Assis (fora do carro): histórico de prisão, acusações de corrupção e amigos influentes no poder -
PARCERIAS - Silvio de Assis (fora do carro): histórico de prisão, acusações de corrupção e amigos influentes no poder – (Cristiano Mariz - 28/03/2017/.)

Ana Cristina teve uma união estável com Bolsonaro por dez anos. Em 2007, depois de um longo e turbulento processo na Justiça, eles se separaram. Na época, a advogada acusou o então deputado de ameaçá-la, disse que ele tinha um comportamento de “desmedida agressividade” e ainda apontou supostas irregularidades nas finanças do casal. Depois do processo encerrado, justificou que muito do que dissera era falso e derivava de seu estado emocional. A ex do presidente, que mora em Resende, no interior do Rio de Janeiro, está de malas prontas e deve passar a morar na capital federal a partir de fevereiro. Oficialmente, ela diz que a mudança se deve à distância do filho, Jair Renan, o “Zero Quatro”, de Bolsonaro, que se transferiu para Brasília logo depois da posse do pai. Há outras razões. Ana Cristina pretende retomar a carreira profissional. Após a separação, ela fechou seu escritório de advocacia, que lhe rendia bons clientes graças à fama do marido. Além disso, quer ajudar a tocar os negócios de uma empresa de eventos do filho, planeja disputar uma vaga no Congresso em 2022 e rascunha um livro em que anuncia a revelação de histórias “polêmicas” sobre a vida do casal. É um projeto ambicioso, especialmente porque ela não conta com a simpatia e muito menos com o apoio do ex-marido. Mas não lhe faltará ajuda.

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Em dezembro do ano passado, Ana Cristina participou de um almoço oferecido por Silvio de Assis. Foi levada por um primo, também empresário, e, no encontro, falou de seus planos. O lobista também é conhecido em Brasília por ajudar a arrecadar recursos e a construir pontes entre candidatos e doadores de campanhas — um ativo e tanto para ela, que em 2018 até tentou uma vaga na Câmara dos Deputados, mas recebeu menos de 5 000 votos e não se elegeu. Não por coincidência, no almoço estavam presentes empresários (potenciais financiadores) e advogados próximos ao lobista especialmente convidados para conhecer “a ex-mulher e mãe do filho do presidente da República” (potenciais empregadores). Ana Cristina gostou do que viu e mais ainda do que ouviu — tanto que, ao voltar para Resende, pôs a casa para alugar e decidiu acelerar a mudança. Ela, porém, nega que tenha sido firmada alguma parceria com o lobista: “Eu nem sei o que o Silvio faz da vida. Fui lá uma única vez. Ele sabia bem quem eu era, mas eu não sabia quem ele era”, disse a VEJA (leia a entrevista).

ZERO QUATRO - Renan: mãe diz que o filho não tem malícia e que vai ajudá-lo nos negócios de sua empresa -
ZERO QUATRO - Renan: mãe diz que o filho não tem malícia e que vai ajudá-lo nos negócios de sua empresa – (Reprodução/Instagram)

Todas as sextas-feiras, o lobista convida políticos, empresários e figuras influentes da República para uma feijoada em uma suntuosa casa no Lago Sul, bairro nobre da capital federal. A pandemia do coronavírus não impediu a confraternização. Para garantir a higienização dos ilustres convidados, uma espécie de túnel de desinfecção foi instalado logo na entrada da casa. Na sequência, há um medidor portátil de temperatura e só depois chega-se ao amplo espaço ornado com mesas rigorosamente postas, sofás ao redor da piscina, garçons servindo uísques e vinhos e uma mesa de sinuca para quem quer algum tipo diferente de diversão. O sucesso dos encontros, para além do cardápio, está nas possibilidades e facilidades que podem sair de lá. O anfitrião é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro, responde a uma dezena de processos por dar calote em funcionários de suas empresas e foi preso após ser grampeado cobrando propina para garantir a liberação de registros sindicais no Ministério do Trabalho, caso revelado por VEJA em 2018. Esse nebuloso histórico do lobista não impede que importantes figuras formem fila na entrada da mansão.

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Além do senador Eduardo Gomes e do deputado Ricardo Barros, a lista de convidados inclui presidentes de partidos, desembargadores, juízes e chefes de agências — com destaque para o almirante Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa. A presença dele, aliás, animou empresários da área médica e hospitalar, que, logo depois, encaminharam pedidos para Silvio de Assis ajudar a destravar demandas de interesse na agência, trabalho pelo qual o lobista cobra um adiantamento e uma “taxa de sucesso” que varia caso a caso. Procurado por VEJA, Assis confirma a presença de todos os personagens citados em suas feijoadas de sexta-feira, que ele define como simples “encontro de amigos”. O deputado Ricardo Barros é “amigo há pelo menos dez anos”. “Eu diria que é uma praxe de Brasília as pessoas oportunizarem (sic) uma confraternização”, afirmou o deputado, confirmando que realmente conhece o lobista “há muitos anos”. Eduardo Gomes, a quem Assis chama de “amigo de décadas”, não respondeu à reportagem.

O presidente da Anvisa e a ex-mulher do presidente seriam exceções. “O doutor Barra não é meu amigo, não tenho amizade, foi lá apenas uma vez. Eu o conheço, mas não tenho nenhuma intimidade, até porque ele é muito fechado. E, quero ressaltar, não tenho nada a ver com laboratórios, com medicamentos”, garante o lobista. Sobre Ana Cristina, Assis se limitou a especular que a presença dela “talvez se justifique no fato de ela querer construir algum relacionamento, conhecer as pessoas, né?”. E, por fim, garantiu: “Mas eu não tenho interesse nenhum ali”. Certamente que não. Nem ela.

Publicado em VEJA de 3 de fevereiro de 2021, edição nº 2723

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