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Os novos inimigos

Ciro Gomes quer construir um amplo bloco de oposição, para o qual o PT não será convidado. A briga para liderar a frente antigoverno promete ser sangrenta

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 nov 2018, 07h00 - Publicado em 2 nov 2018, 07h00

A peleja para definir quem assumirá a linha de frente da oposição ao governo Bolsonaro já começou no estilo clássico da esquerda: rachando por dentro. De um lado está o PT, amparado por 47 milhões de votos e comandado pela sua beligerante presidente, Gleisi Hoffmann. De outro, o PDT, fortalecido por um arco de alianças e pelo pote até aqui de mágoa em que se transformaram seus capitães, o senador eleito pelo Ceará Cid Gomes e seu irmão Ciro, derrotado na corrida à Presidência da República. O PDT, “miseravelmente traído” pelo ex-presidente Lula, nas palavras de Ciro, agora trabalha ativamente para isolar o antigo aliado no Congresso e fora dele. A articulação de um bloco de oposição deverá ser liderada por Randolfe Rodrigues (Rede) e Cid Gomes.

As primeiras conversas sobre essa nova composição se deram em meados de outubro, logo depois que Cid subiu no palanque do então candidato Fernando Haddad, em Fortaleza, vociferou que o partido do ex-prefeito de São Paulo iria perder a disputa (“Bem-­feito!”) e explicou os motivos (“Fez muita besteira”). A ação foi o recado mais contundente de que o PDT estava saindo ressentido das eleições — no início da campanha, o PT não apenas rechaçou uma aliança com a sigla como boicotou suas tentativas de firmar acordos com outras legendas de peso. Agora, o partido dos Gomes trabalha para dar o troco. A ideia é deixar o PT fora de um amplo campo de oposição, esvaziando a voz e o papel da legenda.

As conversas de unificação incluem, além da Rede, o PSB, o PPS e até o PCdoB, eterna linha auxiliar do PT. Nesta semana, houve uma série de reuniões — nas quais petistas não entram — para desenhar um plano de voo dos oposicionistas. A nova oposição, se vingar, poderá chegar a catorze senadores e 78 deputados. Se esse conjunto for formalizado em um bloco parlamentar, ultrapassará os maiores partidos da Câmara e do Senado, considerando-se a composição que saiu das urnas.

PLANOS –  Ciro Gomes, que é um pote até aqui de mágoa com o PT: oposição sem petismo (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

Os adversários de Bolsonaro prometem adotar uma “nova forma de fazer oposição”. Pautas que ajudem a diminuir o rombo econômico do país, por exemplo, podem ser avalizadas pelo grupo, diz a senadora Kátia Abreu, que foi vice de Ciro. “Acabou essa oposição insana e demolidora ao estilo do PT antes de ser governo. Não existe mais isso de ‘sou contra tudo e contra todos’ e ‘tudo que propuserem não presta’ ”, afirmou. Em relação às principais bandeiras de Bolsonaro, como a revogação do Estatuto do Desarmamento e a redução da maioridade penal, o grupo tende a ser contrário, mas não é certo que fechará posição. Kátia Abreu já se mostrou favorável à flexibilização do porte de arma em regiões rurais, opinião que contraria a do seu partido.

O PT, por sua vez, está decidido a ser PT. Promete fazer oposição “combativa” ao governo Bolsonaro — ou, nas palavras de Lula: “Não é pra ter nenhum tipo de conversa”. O ex-presidente, preso há mais de 200 dias, deu ordens para que o partido se posicione firmemente contra os projetos da nova gestão, a começar pela alteração na lei antiterrorismo, que pode criminalizar os movimentos sociais, pela venda de blocos do pré-sal e pelo projeto Escola sem Partido. Todas essas propostas voltaram a ser discutidas no Congresso.

Para manter a coesão de sua base, o PT hasteará sua principal bandeira: a do “Lula livre”. Com uma campanha direcionada sobretudo para o exterior, o partido quer reforçar a imagem de que Lula foi politicamente perseguido e injustamente condenado — um discurso que, com a ascensão do juiz Sergio Moro ao ministério de Bolsonaro, ganhou um impulso inesperado. Para isso, o PT já destacou o ex-chanceler Celso Amorim para organizar encontros com líderes mundiais em busca de apoio à soltura do petista. A legenda estará munida de discurso semelhante ao que usou no segundo turno da campanha — o de que representa a defesa da democracia e o interesse dos mais pobres, enquanto Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, foram eleitos pela elite econômica do país, para ela vão governar e “são, sim, um caso de fascismo”, como disse Haddad no segundo turno da campanha.

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VENHAM A MIM – Manifestação na Avenida Paulista, na terça-feira 30: disputa entre PT e PDT pelos antibolsonaristas (Jefferson Coppola/VEJA)

O PT, que neste ano teve em média menos votos nas periferias dos grandes centros urbanos do que nas eleições de 2014, pretende montar nessas áreas os “comitês antifascistas” — grupos encarregados de mapear casos de violência eventualmente cometida contra negros, mulheres e o público LGBT. A iniciativa visa a aprofundar a associação da sigla com a defesa dos direitos humanos e individuais, em contraste com o discurso truculento de Bolsonaro.

A ideia dos “comitês antifascistas” também partiu de Lula, que completou 73 anos no sábado anterior ao segundo turno — ele passou a data sozinho na cela, já que nos fins de semana a proibição de visitas inclui até advogados. Gleisi Hoffmann foi à Superintendência da PF em Curitiba para uma comemoração “simbólica”. Levou um bolo de aniversário, que repartiu com militantes que a acompanhavam na frente do prédio da carceragem.

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Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2018, edição nº 2607

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