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Os ministros de Bolsonaro que correm o risco de perder o cargo

Pelo menos seis integrantes do primeiro escalão do governo balançam e abrem a possibilidade de um redesenho da Esplanada em 2020

Por Edoardo Ghirotto, João Pedroso, Mariana Zylberkan e Roberta Paduan
Atualizado em 20 dez 2019, 10h05 - Publicado em 20 dez 2019, 06h00

“Lacrador”, “fanfarrão”, “arrogante”, “radical demais”: esses são alguns dos adjetivos que membros do governo Jair Bolsonaro usam para definir o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Há pouco mais de oito meses no cargo, ele passou a ser a estrela mais reluzente na bolsa de apostas sobre as cabeças que devem rolar na Esplanada dos Ministérios no início de 2020. No fim de novembro, em razão de bobagens em série postadas pelo ministro no Twitter, onde tem mais de 400 000 seguidores, Bolsonaro foi enigmático ao ser questionado sobre a possibilidade de demiti-lo. “Não, por enquanto não”, disse. Depois o presidente mudou o tom e, em outras duas entrevistas, considerou “excelente” o trabalho dele e atribuiu os rumores a uma intriga de jornalistas. Levando-se em conta o histórico do capitão com relação a frituras, as palavras não soaram muito convincentes. O antecessor de Weintraub na Pasta, Ricardo Vélez Rodríguez, teve a demissão adiada por mais de uma semana só porque a imprensa dava como certa sua queda. Weintraub saiu de férias antecipadas em 14 de dezembro, logo após a demissão de Priscila Costa e Silva, seu braço direito. Há quem aposte que ele não volta. “O presidente está bastante desapontado com o Abraham”, diz um membro do alto escalão do governo.

Weintraub pode sair da Esplanada junto com ao menos mais cinco ministros, o que mostra certo descontentamento de Bolsonaro com a equipe que empossou há menos de um ano. Três das 22 Pastas já tiveram troca de titular — Educação (Vélez), Secretaria-Geral da Presidência (duas vezes, com Gustavo Bebianno e Floriano Peixoto) e Governo (Santos Cruz). Agora, além de Weintraub, balançam Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Osmar Terra (Cidadania), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). A reavaliação do primeiro escalão ao fim do primeiro ano de mandato é normal — Dilma Rousseff promoveu sete mudanças em 2011 e treze em 2015. Mas, ao contrário de seus antecessores, Bolsonaro não usou os cargos como moeda de troca com partidos, situação que sempre deixa o ministério sujeito a alterações em razão dos ventos políticos — seus auxiliares foram escolhidos por motivos técnicos, ideológicos ou de amizade. “As mudanças até agora ocorreram mais por disputas de poder entre os próprios bolsonaristas, e não por disputas entre partidos”, afirma o cientista político Cristiano Noronha, da consultoria Arko Advice. E novas cotoveladas entre os grupos que integram a gestão devem vir com a possibilidade de uma minirreforma ministerial, inclusive com o redesenho da estrutura de governo, com a extinção e a criação de Pastas. As mudanças serão feitas com base em duas perguntas: quem entregou resultado até agora e quem tem uma boa articulação com o Parlamento, ponto que o governo considera urgente melhorar.

Por isso um nome que está em fogo mais alto é Onyx Lorenzoni. Um dos seus problemas é a ascensão no governo de um desafeto: Jorge de Oliveira, secretário-geral da Presidência e amigo dos Bolsonaro. Os dois se estranharam durante a transição depois que Onxy disse que Oliveira só iria para o governo por ser próximo do capitão. Em junho, logo após ser promovido à Secretaria-Geral, Oliveira retirou da Casa Civil a Secretaria de Assuntos Jurídicos, da qual era titular. De quebra, Onyx perdeu a articulação política, repassada a Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Bolsonaro até esperava que Onyx pedisse demissão após o esvaziamento da Pasta. Sua situação piorou depois da aprovação da reforma da Previdência, já que ele não conseguiu cumprir as promessas de repasses feitas a parlamentares antes da votação. Ramos, seu sucessor na articulação, no entanto, tem se revelado outro fracasso. Na opinião de boa parte dos aliados, o militar reformado não é “do ramo” e, nas reuniões, mais joga conversa fora e faz piadas do que de fato constrói consensos políticos. Além disso, falta a ele “tinta na caneta” para cumprir promessas. “Bolsonaro não reclama, mas o Congresso inteiro reclama”, diz um aliado. Há duas semanas, Ramos acusou a situação ao afirmar que o governo é um “serpentário” e que ele é um dos alvos.

Outro que pode cair por falta de desempenho é Osmar Terra (Cidadania). À frente da Pasta que cuida de temas caros ao governo, como o Bolsa Família, a política antidrogas e o projeto Pátria Voluntária, tocado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, ele é mal avaliado pelo presidente, o que tem se tornado evidente diante do esvaziamento de seu ministério — já perdeu a Secretaria da Cultura para o Ministério do Turismo e pode perder a de Esporte. Sua Pasta corre o risco até de deixar de existir — seria incorporada por Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) — ou ser entregue à deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF), mulher de Luís Felipe Belmonte, amigo de Bolsonaro e um dos principais financiadores do Aliança pelo Brasil.

Nessa última hipótese, o pacote incluiria a nomeação do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) para o lugar de Wein­traub, o que abriria caminho para Belmonte virar senador — ele é suplente de Lucas. Essa nomeação foi aventada após a queda de Vélez, mas acabou barrada pela bancada evangélica devido ao envolvimento de Belmonte com o chá de ayahuasca (ele é mestre-­assis­tente da União do Vegetal, um dos grupos que utilizam a bebida em seus rituais). Na aprovação do Orçamento de 2020, na semana passada, Lucas falou quase como um futuro ministro da Educação ao lamentar “as migalhas” destinadas à Pasta.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, é outro na corda bamba. A ele é atribuída a frustração com o megaleilão da cessão onerosa do pré-sal, que arrecadou 70 bilhões de reais, quando o esperado eram 100 bilhões. Parte do setor elétrico também culpa Albuquerque por não ter resolvido uma pendência que envolve multas de 7 bilhões de reais aplicadas pela União às hidrelétricas. A solução é um projeto de lei que se encontra parado no Senado e vai continuar assim até a saída do ministro, segundo especialistas e executivos do setor de energia. “O Parlamento está tentando retomar a influência que teve no setor por décadas”, afirmou um especialista em energia, sob anonimato — por influência, entenda-se partilha de cargos.

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Na possibilidade de redesenho da estrutura ministerial, pode haver mudanças mesmo no Ministério da Economia, no qual Paulo Guedes continua com bastante prestígio. Vozes gabaritadas dos corredores do Congresso comentam a hipótese de a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, sob a chefia de Rogério Marinho, se transformar em um novo ministério. A possibilidade, porém, é vista com ceticismo pela ala técnica da pasta da Economia. Além de Guedes, outros ministros que vão bem são Sergio Moro (Justiça) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). Moro é o membro mais popular do governo, apontado por 24% como o melhor ministro, segundo pesquisa VEJA/FSB divulgada em dezembro. Embora seja alvo de diversas críticas, Salles está muito bem com Bolsonaro exatamente por confrontar as ONGs e relativizar temas importantes da agenda ambiental. A um aliado o presidente confidenciou que não aceitou um pedido de demissão de Salles em meio às crises e polêmicas recentes que envolveram sua Pasta. Também estão bem na foto Damares, o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura).

Caso se confirmem as trocas cogitadas no alto escalão, Bolsonaro terá deixado pelo caminho em pouco mais de um ano nada menos que dez ministros. E a nova composição pode levar em consideração a necessidade de melhorar a articulação política. “O começo de governo gerou um processo de choque com os partidos, mas o presidente percebe que não tem como governar sem eles”, afirma o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da FGV-SP. A reforma ministerial seria o remédio amargo para Bolsonaro engolir, mesmo que a contragosto, com o objetivo de eliminar algumas fraquezas de sua administração.


ABRAHAM WEINTRAUB (Educação)

(Adriano Machado/Reuters)

Por que pode cair

Um dos que mais geram reclamações de parlamentares. É considerado polemista e performático demais, sem entregar resultados — relatório de um grupo da Câmara que acompanha sua área apontou ineficiência e paralisia no ministério

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ONYX LORENZONI (Casa Civil)

(Jorge William/Agência O Globo)

Por que pode cair

Teve as funções esvaziadas e perdeu o comando da articulação política. É criticado no Congresso por não cumprir as promessas feitas para que a reforma da Previdência fosse aprovada. É desafeto de Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral), querido por Bolsonaro


OSMAR TERRA (Cidadania)

(Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Por que pode cair

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Há insatisfação no núcleo próximo a Bolsonaro com a inoperância do ministério,
que já perdeu a Secretaria da Cultura e pode perder a de Esporte. A Pasta pode ser usada para acomodar aliados ou mesmo ser incorporada por Damares Alves


MARCELO ÁLVARO ANTÔNIO (Turismo)

(Douglas Magno/O Tempo/Futura Press)

Por que pode cair

Depositário da gratidão de Bolsonaro por tê-lo apoiado durante o atentado a
faca sofrido em Juiz de Fora, foi indiciado pela PF e acusado pelo Ministério
Público de comandar um esquema de candidaturas-laranja no PSL de Minas Gerais


BENTO ALBUQUERQUE (Minas e Energia)

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(Marcelo Chello/CJPress/Agência O Globo)

Por que pode cair

A Pasta é cobiçada por políticos, principalmente do Senado, que não conseguem emplacar afilhados em estatais, como ocorria. Albuquerque também é criticado pelo resultado frustrante do leilão da cessão onerosa do pré-sal e por parte do setor elétrico


LUIZ EDUARDO RAMOS (Secretaria de Governo)

(Marcos Corrêa/PR)

Por que pode cair

Embora o general não desagrade a Bolsonaro, de quem é amigo, líderes de partidos no Congresso, seus principais interlocutores na função, estão descontentes com sua inoperância na articulação política e com a “falta de tinta na caneta”

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Publicado em VEJA de 25 de dezembro de 2019, edição nº 2666

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