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Os eleitores do Nordeste que eram petistas e agora veneram Bolsonaro

O presidente intensifica a agenda na região de olho naqueles cuja vida, com o auxílio emergencial, mudou para melhor

Por Marcela Mattos, de Aracaju
Atualizado em 21 ago 2020, 17h37 - Publicado em 21 ago 2020, 06h00

Da beira da estrada, dona Maria, uma vendedora de frutas de 61 anos, viu o movimento na rua aumentar desde a quinta-feira 13. Chamavam atenção os carros pretos, acompanhados de ambulância, van e motos, além dos homens encapuzados, que paravam o trânsito para a comitiva passar, e o incomum zunido de helicópteros. Eram os preparativos para a chegada de Jair Bolsonaro à cidade de Barra dos Coqueiros, localizada a trinta quilômetros de Aracaju, em Sergipe. A camelô já tinha ouvido falar da visita do presidente, mas não se empolgou em ir até lá. Em vez disso, planejou acenar quando ele passasse. “Se ele parar, vou falar: ‘Meu presidente, faça umas compras aí que eu estou gostando muito de você’.” A boa impressão de dona Maria sobre Bolsonaro é recente e tem um motivo bem objetivo: em abril, ela passou a receber um pedacinho dos 167 bilhões de reais que o governo federal já repassou às famílias carentes por causa da pandemia (desconfiada e dizendo temer perder o auxílio emergencial, ela preferiu não dizer seu sobrenome).

No conjunto Fernando Collor, um dos mais humildes de Aracaju, outra vendedora também sabia com antecedência da chegada do presidente. Antes da pandemia, Edivânia Cardoso, de 39 anos, era ambulante e vendia cabos para celular no centro da cidade. Conseguia faturar uma média de 700 reais por mês. Sem poder mais ir às vendas, decidiu fazer da janela de sua casa uma pequena loja de doces. Com o improviso, somado aos 1 200 reais do governo, sua renda dobrou. Está decidida, inclusive, a manter o pequeno empreendimento quando tudo voltar ao normal. Edivânia e dona Maria são dois exemplos que explicam um pouco da súbita aceitação de Bolsonaro no Nordeste. De acordo com o Datafolha, a popularidade do presidente saltou de 27% para 33% e a rejeição caiu de 52% para 35% de junho para agosto.

Antes eleitoras do PT, Edivânia e Maria planejam mudar seus votos em 2022. “Quando o Lula foi (candidato), eu votei no Lula”, conta Edivânia. “Aí na última eleição o Lula saiu e veio o outro, aquele rapaz… O Adauto, né?” Em 2018, o Nordeste, que tem 27% do eleitorado, foi a única região do país a impor uma derrota a Bolsonaro no segundo turno, dando quase 70% dos votos válidos ao petista Fernando Haddad, o “Adauto”. Percebendo a onda favorável, o presidente, em menos de dois meses, já foi ao Ceará, Piauí, Bahia e Sergipe — e pretende intensificar essa agenda até o fim do ano. O roteiro costuma ser semelhante: inauguração de uma obra, multidão, discursos, fotos. Em Aracaju, não foi diferente. No aeroporto da cidade, aglomeração e inúmeros militantes sem máscara. Espremida sobre a grade, uma mulher bradou: “Não tem coronavírus aqui!”. E os apoiadores emendaram em coro: “É cloroquina, cloroquina!…”. O presidente ficou apenas cinco minutos na área de desembarque, foi erguido pelos seguranças, filmado por assessores e postou tudo nas redes sociais antes de seguir para Barra dos Coqueiros de helicóptero, onde inaugurou uma usina termelétrica privada. O Nordeste está abraçando Bolsonaro.

Publicado em VEJA de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701

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