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O tamanho do tombo de Bolsonaro nas redes sociais após a crise da vacina

Levantamentos de consultorias mostram que aliados do presidente não conseguiram emplacar uma narrativa para minimizar o fracasso de gestão do governo

Por Edoardo Ghirotto
Atualizado em 7 abr 2021, 15h50 - Publicado em 23 jan 2021, 08h04

A aposta de Jair Bolsonaro (sem partido) num discurso negacionista e que descredencia a eficácia das vacinas contra a Covid-19 já provocou arranhões na imagem do presidente. Levantamentos encomendados por VEJA mostram que a popularidade de Bolsonaro nas redes sociais foi impactada negativamente com a derrota na “guerra da vacina” que ele travou com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O tombo foi tão grande que os aliados do presidente não conseguiram emplacar nem uma narrativa coesa em defesa do governo federal.

Ao longo da semana, Bolsonaro admitiu a ministros que jamais pensou que perderia a queda de braço com Doria. O primeiro alerta veio após monitoramento feito pela Secretaria de Comunicação da Presidência detectar nas redes sociais o apoio maciço dos brasileiros à imunização e uma insatisfação com o atraso na distribuição das vacinas.

No dia 17, após Doria organizar uma cerimônia para aplicar a primeira dose da vacina CoronaVac na enfermeira Mônica Calazans, os perfis bolsonaristas se revezavam entre atacar a profissional que fora imunizada, defender a tese de que o Instituto Butantan desenvolveu o fármaco com recursos do Ministério da Saúde e disseminar mentiras sobre riscos da vacina. Segundo a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV, houve no Twitter 2,132 milhões de menções às vacinas entre os dias 17 e 18, sendo que apenas 6,4% dos perfis envolvidos nessa discussão estavam alinhados com o governo. Em outras ocasiões na pandemia, usuários bolsonaristas foram capazes de aglutinar até 40% das interações na rede social sobre assuntos específicos. Dessa vez, o volume de interações foi equivalente a 13% do total.  O lado de maior peso na discussão , com 48,4% dos perfis do Twitter e 59,9% das interações, era formado por usuários que celebraram a vacinação dirigindo críticas ao governo ou pedindo o impeachment de Bolsonaro.

O Twitter, segundo analistas do meio digital, é uma rede em que a oposição tem maior preponderância. Por isso, chamou a atenção que a narrativa bolsonarista também tenha sido derrotada no Facebook, conhecido por ser um ambiente em que as discussões ocorrem de forma mais equânime. O Monitor do Debate Político no Meio Digital, liderado por pesquisadores da USP, constatou que as vacinas corresponderam a 27% de todas as publicações feitas em páginas públicas da rede social no dia 17. Postagens de cunho bolsonarista foram só 14% do volume total do que foi publicado sobre o tema, enquanto os compartilhamentos da oposição ao governo marcaram 29%. Já as postagens de cunho neutro, como reportagens da imprensa tradicional, representaram 58%. “Assim como no Twitter, ficou claro no Facebook a tentativa improvisada dos bolsonaristas de mudar a narrativa que haviam criado para desmerecer a CoronaVac”, declarou o professor da USP Marcio Moretto, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

Enquanto Bolsonaro apanha no meio digital, Doria colhe os frutos que a exposição com a vacina lhe proporcionou. Em apenas três dias desta semana, o tucano ganhou 22 mil novos seguidores no Twitter, segundo levantamento da Bites Consultoria. O perfil de Bolsonaro, que vem acumulando repetidas perdas de seguidores, também sofreu um tombo na capacidade de influenciar a rede social. Na terça-feira, 19, quando todos os estados começaram a vacinar suas populações, o presidente teve 214.000 interações em sua página oficial, sendo que a sua média diária nos últimos 30 dias havia sido de 970.000.

A perda de influência também foi registrada pela consultoria Quaest. Numa medição que envolve o desempenho de personalidades políticas no Twitter, no Facebook, no Instagram, no YouTube, na Wikipedia e no Google, o presidente da República registrou na quarta-feira, 20, uma queda de quase 20 pontos de popularidade em relação ao começo do mês. Numa escala de 0 a 100, em que números maiores indicam maior relevância na internet, Bolsonaro despencou de 83,2 pontos no dia 1º de janeiro para 65,1. Ele ainda lidera o ranking elaborado pela Quaest, mas com margem significativamente menor para Luciano Huck, que está na segunda posição com 47,8 pontos, e para Doria, dono do terceiro lugar com 39,7 pontos.

O presidente sentiu o golpe. Ao melhor estilo Bolsonaro, foi retomada nesta semana a estratégia de espalhar declarações radicalizadas e que só servem para manter sua base ideológica mobilizada. Quando se encontrou com apoiadores, o capitão disse que as Forças Armadas são fiadoras da democracia e criticou uma questão do Enem que citava a jogadora de futebol Marta. Mas, segundo os estudos encomendados por VEJA, nenhuma das narrativas produziu ruídos no meio digital.

Para o cientista político Maurício Santoro, o presidente mostra que só ganha fôlego no campo discursivo quando consegue antagonizar com alguma personalidade. “Bolsonaro sabe manejar sentimentos políticos como a raiva e o ressentimento. A partir do momento que a vacina chegou, a chave política do país mudou para a esperança. As pessoas estão preocupadas com a pandemia, mas querem saber quando será a vez de ir ao posto se vacinar. O presidente está com dificuldade para entender isso. Na hora de adotar um discurso otimista, ele não sabe o que fazer. Doria soube manejar bem essa situação e Bolsonaro está buscando um contraponto a ele, mas até agora se mostrou perdido”, disse o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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