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O PT é coisa do passado, diz ex-senadora candidata em Cuiabá

Serys Slhessarenko é autora do projeto que regulamentou a delação premiada, instrumento que ajudou a fechar o cerco contra Lula e os corruptos do petrolão

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 set 2016, 18h42 - Publicado em 15 set 2016, 18h42

Enquanto as eleições municipais são usualmente pautadas por temas de interesse imediato no dia a dia do eleitor, como a construção de creches, melhorias no saneamento básico e ampliação do transporte coletivo, o cenário eleitoral em Cuiabá traz um elemento novo: a exploração do instituto da delação premiada, o principal instrumento que revelou a participação de políticos, empreiteiros e ex-diretores da Petrobras no petrolão e que deve ser a pá de cal contra o ex-presidente Lula. Ironicamente, a autora do projeto é uma ex-aliada do petista, a ex-senadora e candidata Serys Slhessarenko.

Aos 71 anos, ela usa a safra de delações premiadas na Operação Lava-Jato – de Marcelo Odebrecht ao ex-líder do governo Dilma, Delcídio do Amaral – como carro-chefe da campanha à prefeitura pelo nanico PRB. Seu principal patrimônio político da época em que ainda era senadora em Brasília é a apresentação do projeto de lei que tipifica o crime de organização criminosa e regulamenta a hoje temida colaboração de delatores.

“A política corrompeu vários personagens. Por isso busquei uma lei que contribuísse para chegar realmente onde estavam os corruptos e como acontecia a corrupção”, disse Serys a VEJA. Ao apresentar o projeto no Senado sete anos atrás, ela não projetava que colaborações de criminosos com a justiça poderiam escancarar o bilionário esquema de corrupção na Petrobras, levar para atrás das grades os maiores empreiteiros do país e fechar o cerco contra o ex-presidente Lula, expoente máximo de seu ex-partido.

Estacionada na quarta posição na campanha, com apenas 6% das intenções de voto, Serys foi filiada aos quadros petistas até outubro de 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava a pleno vapor os réus do primeiro mega escândalo de corrupção do governo Lula, o mensalão. Dois meses antes de pedir desfiliação da legenda, seu correligionário, o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-SP), inaugurou a fila dos mensaleiros culpados. Foi condenado por corrupção passiva por ter aceitado 50.000 reais do notório Marcos Valério para beneficiar uma agência de publicidade no Congresso.

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Naquele dia 16 de agosto de 2012, Serys Slhessarenko conseguiu mensurar, para além dos recorrentes discursos de perseguição política propagados pelo partido, os reais problemas do PT. “Com as condenações no mensalão, percebi que o PT tinha mudado de rota, tinha deixado de ser o partido que tinha propostas diferenciadas. Ele combatia a corrupção, mas estava envolvido em corrupção. Aí não tinha mais sentido”, afirmou.

Mesmo com a denúncia contra os mensaleiros tramitando desde 2007 no Supremo, Serys ainda insistia em acreditar em uma hipotética inocência dos companheiros de partido. O motivo: podia ser uma armação nos moldes da que ela própria foi alvo no Mato Grosso. Em 2011, VEJA revelou que a então senadora havia sido vítima de um falso dossiê fabricado na campanha de 2006 que a incluía na lista dos sanguessugas, esquema que fraudava licitações para a compra de ambulâncias com recursos de emendas parlamentares.

Com o ex-presidente Lula denunciado na última quarta-feira por corrupção e lavagem de dinheiro – o petista já tinha sido citado em esquemas detalhados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e pelo senador cassado Delcídio do Amaral – Serys Slhessarenko vê seu projeto de regulamentação da delação premiada colher hoje os mais vultosos frutos. “Não tinha bola de cristal ao bolar a proposta de lei da delação, mas tinha uma indignação imensa porque via pessoas que não tinham poder aquisitivo entrarem na política e da noite para o dia comprarem aeronaves, milhares de cabeças de boi, centenas de hectares de terra”, diz.

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Alijada de disputas eleitorais pelo PT desde 2010, quando uma briga fratricida com o então deputado Carlos Abicalil a impediu de concorrer à reeleição no Senado, Serys quer distância do partido que a abrigou por 23 anos. A VEJA, não quis comentar o cenário de anti-petismo no Mato Grosso – nas eleições de outubro o partido tem a candidata a vice na chapa de Julier Sebastião (PDT) – mas se mostra arredia à legenda. “Lula nunca fez comício para mim e nunca fez programa eleitoral pedindo voto para mim. O PT para mim é coisa do passado”, afirma.

Vinculada à Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Serys ganha 11.635 reais líquidos como professora aposentada da instituição e critica adversários políticos no Mato Grosso por fazerem da política uma carreira profissional. “Cada parlamentar tem que ter a sua profissão. Por um determinado tempo, o povo te escolhe para exercer um mandato e defender as causas em que a população acredita. Você não tem que aposentar como deputado ou como senador. Mesmo que seja legal, é imoral. Por que parlamentar tem que ter privilégio? O que ele fez de tão encantador que merece tantos privilégios?”, questiona ela.

O recado tem destinatário certo: o deputado estadual Emanuel Pinheiro (PMDB), líder na disputa pela prefeitura de Cuiabá. Pinheiro recebe cerca de 25.000 reais mensais de aposentadoria especial a ex-deputados por meio do Fundo de Assistência Parlamentar (FAP), ainda que seja atualmente deputado estadual. O benefício é legal, mas Serys, que considera o pagamento “imoral”, tem utilizado os debates na campanha para atacar o FAP.

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