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O hotel da União em Orlando que é alvo de denúncias graves de corrupção

MPF pediu a prisão do administrador, mas há fortes suspeitas de que o esquema continua e coloca em risco patrimônio avaliado em 100 milhões de dólares

Por Da Redação Atualizado em 6 jul 2020, 14h42 - Publicado em 30 jun 2020, 15h10

O  governo brasileiro tem uma participação de 65% em um hotel de Orlando que está no centro de uma batalha nos tribunais daqui e dos Estados Unidos. A polêmica envolve indícios graves de corrupção, incluindo denúncia de cooptação de um juiz federal por membros de uma quadrilha. Em um dos lances mais recentes do escândalo, o Ministério Público Federal decretou a prisão preventiva de Francisco Bomfim, o responsável pela administração do hotel em questão, o Crowne Plaza, um dos mais luxuosos de Orlando. Ele é avaliado em cerca de 100 milhões de dólares. Desde 2015, mesmo sem nenhuma experiência anterior em hotelaria, Bomfim conduzia os negócios por lá, quando foi nomeado interventor do Crowne Plaza pela Justiça Federal do Mato Grosso. Essa decisão ocorreu depois que a União assumiu o controle de 65% do patrimônio (os 35% restantes pertencem ao empresário brasileiro Zilberto Zanchet). Essa cota de 65% na sociedade do Crowne Plaza constava na relação de bens confiscados pela Justiça Federal que faziam parte do patrimônio de João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, acusado de liderar o crime organizado no Mato Grosso. A gestão de Bomfim foi marcada por sérios problemas, conforme revelou reportagem do site de VEJA . Em 25 de junho de 2015, por exemplo, ele sacou 22 milhões de reais do caixa do hotel para comprar uma fazenda de gado no Mato Grosso, sem aprovação do sócio minoritário Zanchet e sem comunicação inicial para a União e ao Ministério Público Federal – fatos reconhecidos pelo próprio Bomfim nos autos.

No final de maio, a desembargadora federal Ângela Catão, Corregedora Regional da Justiça Federal da 1ª Região, ordenou o afastamento cautelar de Bomfim da gestão do Crowne Plaza, “a fim de evitar a possível prática de novos atos que possam implicar a malversação dos bens sob guarda”.. Mesmo após ser notificado da sua destituição, Bomfim continuou agindo como administrador, em flagrante desrespeito à ordem da corregedora. Essa foi a gota d´água para o Ministério Público Federal requerer a prisão preventiva de Bomfim, que acabou sendo decretada pelo juiz Paulo Cézar Alves Sodré, da 7ª Vara Federal do Mato Grosso. Em 18 de junho, Bomfim foi levado ao Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), mas ficou pouco tempo por lá. Acabou transferido a um hospital da cidade após diagnóstico de coronavírus e no dia 23 acabou sendo beneficiado por um alvará de soltura.

O afastamento de Bomfim da administração do Crowne Plaza não foi suficiente para resolver o imbróglio judicial do hotel. As pessoas nomeadas para substituí-lo possuem fortes conexões com Bomfim, conforme mostra a petição encaminhada no último dia 29 à corregedora Ângela Catão, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O documento é assinado pelo advogado Nilson Pedro da Silva, que representa os interesses de Zilberto Zanchet, o sócio minoritário. Conforme demonstra Silva, os novos administradores, Ariadne Martins Fontes e Gilberto Gonçalo, atuam como advogados de Bomfim em outros processos. Além disso, ainda segundo Silva, Gonçalo é filho de um dos beneficiários de um arrendamento de terras feito por Bomfim (Gonçalo nega de forma veemente a história e diz que o pai faleceu em 2003 sem deixar de herança qualquer propriedade rural). Por essas razões, Silva pede à corregedora o afastamento dos novos administradores do Crowne Plaza. A petição denuncia ainda a nomeação da ex-braço direito de Bomfim, Lis Rejane, como representante da UTC, a empresa gestora do hotel em Orlando. A própria corregedora Ângela Catão já havia recomendado o afastamento dela do empreendimento.

Responsável pela indicação dos sucessores de Bomfim, o juiz Paulo Cézar Alves Sodré, em comunicado enviado à VEJA, justificou-se dizendo que a decisão é transitória até que se possa escolher novos administradores judiciais de forma definitiva. Sobre a ligação de Bomfim com Fontes e Gonçalo, o magistrado afirma que os advogados representam a Administração Judicial do empreendimento e perderam esse vínculo com Bomfim a partir do desligamento dele da gestão do Crowne Plaza (Sodré não comentou o fato de que os advogados representam Bomfim em outros processos). A respeito de Lis Rejane, o juiz diz que a escolha ocorreu também em caráter provisório. O magistrado foi alvo de uma denúncia feita à corregedoria do Conselho Nacional de Justiça em abril. Segundo ela, Bomfim livrou-se de maiores complicações no caso da compra da fazenda por 22 milhões de reais no Mato Grosso graças à ajuda de Sodré. “Uma sofisticada organização criminosa cooptou um magistrado federal para encobrir os crimes, tentar maquiar de legalidade os atos praticados pelo interventor indicado por ele próprio e proteger os demais integrantes da referida organização, desviando e se apropriando de milhões de dólares, causando terrível prejuízo ao erário público e a União, além da vítima requerente”, afirma o documento enviado ao CNJ em abril pelo advogado Nilson Pedro da Silva.

Localizado na Universal Belvedere, ponto nobre de Orlando nos arredores do complexo de parques da Disney, o Crowne Plaza foi inaugurado em 2003 e tem 436 quartos, com diárias a partir de 300 dólares (podem chegar a 5 000 dólares no caso da suíte presidencial). O  empreendimento gera um faturamento mensal equivalente a 24,7 milhões de reais e lucro de quase 9 milhões de reais a cada trinta dias. Considerando-se que o governo brasileiro possui 65% do negócio, ele teria rendido aos cofres da União aproximadamente 90 milhões de reais ao longo de quinze anos. Ninguém sabe o que aconteceu com esse dinheiro.  O caso segue em discussão nos tribunais do Brasil e dos Estados Unidos.

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