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O esforço de Bolsonaro para reverter crise no Nordeste

Depois de criticar os governadores “de paraíba”, o presidente foi à Bahia para estancar o movimento dos adversários que tentam faturar com a gafe

Por Edoardo Ghirotto
Atualizado em 29 jul 2019, 15h00 - Publicado em 26 jul 2019, 07h00

Festejar qualquer inauguração de obra faz parte do DNA dos políticos. Em pouco mais de sete meses de governo, Jair Bolsonaro nunca caprichou tanto nesse quesito quanto no último dia 23, quando abriu com pompa e circunstância o aeroporto de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, que consumiu 105 milhões de reais em investimento e nove anos de construção. Para nada dar errado, o cerimonial mandou cercar o local de tapumes, vetou a transmissão do discurso e ampliou a lista de convidados, de 300 para 600 pessoas. Do total de lugares disponíveis, o Palácio do Planalto destinou apenas 100 ao governador Rui Costa (PT), que, insatisfeito com o tratamento, cancelou sua participação. Ao lado do maior rival de Costa, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-­BA), o presidente declarou, em discurso, que amava o Nordeste e que sua filha tinha “sangue de cabra da peste”. No final, posou para fotos com um chapéu de vaqueiro.

Esse enredo foi construído para estancar uma crise criada pelo próprio Bolsonaro. No dia 19, pouco antes do início de um café da manhã com jornalistas, Bolsonaro foi flagrado pelas câmeras dizendo ao pé do ouvido do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que “daqueles governadores ‘de paraíba’ o pior é o do Maranhão”. O áudio vazado de uma transmissão de TV ainda revelou a ordem expressa de Bolsonaro ao seu subordinado: “Tem que ter nada com esse cara”.

Interpretada como um ataque racista do presidente ao povo do Nordeste, a imagem viralizou. No dia seguinte, ele negou que tenha tido essa intenção. Segundo Bolsonaro, o “de paraíba” havia sido uma crítica aos governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e da Paraíba, João Azevêdo (PSB), “nada mais além disso”. A polêmica acabou sendo aproveitada pelos políticos do Nordeste, região na qual, dos nove estados, sete são governados pela oposição. Detalhe: os dois que estão de fora do grupo, Renan Filho (MDB) e Belivaldo Chagas (PSD), não podem ser considerados aliados ou de partidos de base. Não por acaso, ali Bolsonaro teve seu pior desempenho nas últimas eleições.

Quem tomou a dianteira nas críticas foi Flávio Dino. Gostou tanto dos holofotes que, mesmo com enormes dificuldades para melhorar em seu segundo mandato os péssimos indicadores econômicos e sociais do Maranhão, resolveu lançar-se como candidato à Presidência em 2022. “Qualquer jogador de futebol fica feliz quando é convocado para a seleção brasileira”, afirmou ele a VEJA sobre essa possibilidade (leia a entrevista). “Bolsonaro o puxou para o ringue. Se Flávio Dino tiver intenção, essa disputa o coloca na condição de ser o oponente que o presidente elegeu”, entende o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB).

Havia algum tempo que Dino já vinha fazendo movimentos que davam ideia de suas ambições. Em junho, ele se reuniu a sós com o ex-presidente José Sarney, seu rival histórico no Maranhão. Também esteve recentemente com FHC e Lula — esse último o recebeu em uma visita na cadeia. Com o impulso dado por Bolsonaro, Dino deve ampliar ainda mais essa agenda. Nessa marcha rumo ao protagonismo da oposição, falta, é claro, combinar com o PT. Há no partido quem veja no governador uma ameaça para o próximo pleito muito maior que a de Ciro Gomes (PDT) em 2018. Dino é um habilidoso negociador político. Tanto que foi eleito para um segundo mandato em uma coa­lizão que uniu o PCdoB e o PT a outros catorze partidos, entre eles DEM, PRB, PP e PTB.

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Por ora, Bolsonaro terá de arcar com o ônus das declarações de repúdio emitidas pelos nove governadores nordestinos. Está prevista para a segunda 29 uma reunião do consórcio formado pelos políticos para discutir temas ligados à infraestrutura. A estremecida relação com o presidente deve entrar na pauta. Já os parlamentares da oposição protocolaram uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra Bolsonaro. A ação pede ao órgão que o presidente seja investigado por racismo e pelo crime de ameaça, que teria se manifestado quando ele sugeriu a Lorenzoni que o governo maranhense deveria ser retaliado.

O estilo de Bolsonaro tem funcionado como o principal combustível para criar confusões. Ele geralmente expressa opiniões controversas em situações informais, quando tenta fazer uma piada, por exemplo. Foi assim em uma live do Facebook, ao sugerir que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tinha a cabeça grande por ter família no Piauí e no Rio Grande do Norte. Desse jeito, ninguém precisa de oposição (leia a reportagem).

Publicado em VEJA de 31 de julho de 2019, edição nº 2645

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