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O desastroso recomeço de Dilma, a presidente consternada

Enquanto ministros oficializavam o estelionato eleitoral, o escândalo da Petrobras se aproxima do Planalto e o ex-presidente Lula fomenta a guerra interna no PT. Mas Dilma só quis se pronunciar sobre a morte de um traficante

Por Gabriel Castro, de Brasília
25 jan 2015, 19h27
A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia de posse de seu segundo mandato, em Brasília - 01/01/2015
A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia de posse de seu segundo mandato, em Brasília – 01/01/2015 (VEJA)

Era 0h31 do último domingo (15h31 de sábado em Brasília) em Jacarta quando o brasileiro Marco Archer foi executado com um tiro no peito. Criado em uma família de classe média alta, ele se tornou um traficante profissional e rodou o mundo até ser preso no país asiático com 13 quilos de cocaína, em 2004. Archer dizia se arrepender apenas de ter sido flagrado por um agente de segurança indonésio. O governo brasileiro tentou evitar a execução até a última hora por meio de cartas, ameaças de rompimento diplomático e um telefonema feito pela presidente Dilma Rousseff ao colega indonésio Joko Widodo na véspera da execução. Nada adiantou.

Um dia antes da morte de Archer, o policial militar Manoel Messias dos Santos havia sido assassinado friamente por traficantes em Penedo (AL) enquanto caminhava pela rua. Poucas horas depois de Marco Archer ter sido executado, a garota Larissa de Carvalho, de 4 anos, perdeu a vida após ser atingida por um tiro quando saía de um restaurante com a mãe, em Bangu (RJ). No dia seguinte, outra criança morreu em circunstâncias semelhantes: Asafe Willian Costa Ibrahim, de 9 anos, vítima de uma bala perdida enquanto brincava na piscina de um clube em Honório Gurgel, na capital fluminense – ele morreu três dias depois.

Na segunda-feira, o surfista profissional Ricardo dos Santos foi baleado em frente à casa de sua família, em Palhoça (SC), após uma discussão corriqueira com um policial fora de serviço. Morreu no dia seguinte. Se a média de 2013 tiver sido mantida, outras 153 pessoas foram assassinadas no Brasil no mesmo dia. Uma a cada dez minutos. Desde que o traficante foi executado na Indonésia, mais de mil vidas foram tiradas prematuramente no país presidido por Dilma. A chefe da nação não se pronunciou sobre nenhuma delas. Tampouco o fizeram seus ministros.

Embora o pedido de clemência em favor do traficante esteja alinhado à tradição da diplomacia brasileira, as expressões usadas por Dilma, que se disse “consternada” e “indignada” com a sentença de morte, fogem do padrão. Ela não afirmou “consternada” ou “indignada” por causa dos bilhões de reais da Petrobras desviados para abastecer partidos que apoiam seu governo, inclusive o PT. Nem demonstra preocupação ao financiar regimes em que o fuzilamento é política oficial – o caso de Cuba, que construiu o Porto de Mariel com recursos brasileiros, é o mais evidente. Dilma, que pediu “diálogo” com os decapitadores do Estado Islâmico, tampouco se pronunciou quando morreram Manoel, Larissa, Asafe e Ricardo. Para um país que registrou 56.153 assassinatos em 2013, é difícil compreender.

O dicionário Aurélio define a expressão “consternado” com o sentido de “prostrado, desalentado, de ânimo abatido”. É uma boa expressão para definir o comportamento de Dilma Rousseff até aqui. A presidente consternada não deu uma entrevista sequer em 2015. Fora o discurso de posse, em 1º de janeiro, Dilma nem mesmo falou em público. A presidente encastelada deixa ainda mais explícita a falta de rumo do governo: janeiro nem mesmo se encerrou e as limitações e contradições de Dilma se tornaram evidentes.

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Nas últimas promessas irreais de campanha deram espaço a decisões opostas, especialmente na economia: nomeação de um liberal para o Ministério da Fazenda, alta na conta de luz, aumento no preço da gasolina, elevação de impostos, redução em benefícios trabalhistas, subida na taxa de juros, corte profundo no Orçamento. Toda a cartilha econômica que ela atribuiu aos adversário Aécio Neves e Marina Silva foi cumprida imediatamente.

O silêncio de Dilma também não foi interrompido no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. A presidente, que se especializou em passar sermões nos países desenvolvidos sempre que discursou diante de líderes globais, agora tem pouco o que apresentar ao planeta. Preferiu comparecer à posse do presidente Evo Morales em seu terceiro mandato à frente do governo boliviano, o que também é emblemático sobre as prioridades do governo.

Parte das escolhas que Dilma fez no início do segundo mandato eram necessárias para a economia, como o corte no Orçamento e a correção no preço dos combustíveis. Mas as medidas consistem exatamente no contrário do que ela afirmou que faria. A guinada veio sem uma explicação ou um pedido de desculpas ou pronunciamento à nação.

A ex-ministra de Minas e Energia de Lula, que desfruta da fama de especialista no setor elétrico, também deve se preocupar com a situação energética do país: o apagão da última segunda-feira devolveu às manchetes a situação de risco na geração de energia. Mesmo com o crescimento pequeno da economia nos últimos anos, a rede está perto do limite e o governo precisou importar energia da Argentina.

Nas escolhas políticas que fez, a presidente conseguiu desagradar a aliados e oposicionistas. Nomeou ministros criticados até mesmo pelo PT, escolheu leigos para áreas-chave e não se constrangeu em apontar figuras citadas em denúncias de corrupção, como George Hilton (Esporte) e Eliseu Padilha (Aviação Civil)

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No horizonte próximo, há poucas esperanças para Dilma. A restrição orçamentária e as consequências da operação Lava Jato sobre as empreiteiras devem prejudicar o início de novos empreendimentos e programas durante o ano. Ao mesmo tempo, a sombra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a acompanha cada vez mais de perto. As críticas feitas pela ex-ministra Marta Suplicy, que atacou frontalmente o governo Dilma em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, são um recado claro do ex-presidente, que pretende voltar nas eleições de 2018 – e já notou que precisa desatrelar sua imagem da de Dilma para evitar danos à sua popularidade. A divisão entre dilmistas e lulistas é outra fonte de problemas para o governo.

As investigações sobre os desvios da Petrobras devem se aproximar do Palácio do Planalto após a confissão, vinda da empreiteira Engevix, de que os recursos desviados serviam para a compra de apoio político no Congresso. Mais uma razão para Dilma ter medo nos próximos 1.437 dias até o fim do mandato.

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Apagão

“O Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata. Significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qulquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo”.

Pronunciamento em cadeia nacional – 23 de janeiro de 2013

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O que aconteceu: sistema elétrico está perto do limite e um apagão atingiu metade do país no dia 19 de janeiro.

 

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Lei trabalhista

“O governo jamais tomará qualquer iniciativa de redução de direitos de trabalhadores, de redução e diminuiuição de direitos sociais”.

Entrevista à TVT – 19 de agosto de 2013

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O que aconteceu: o governo anunciou cortes que restringem o acesso ao seguro-desemprego.

 

https://www.youtube.com/embed/GZXulGfiWjs?rel=0
Juros

“Candidato, vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros”

Debate na TV Record – 19/10/2014

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O que aconteceu: Dilma acusava o tucano Aécio Neves de trabalhar por uma taxa de juros alta. Mas, depois da vitória petista nas urnas, o Banco Central subiu três vezes seguidas a taxa básica de juros, que já é a maior desde 2011.

 

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Conta de luz

“A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata”

Pronunciamento em cadeia nacional – 23 de janeiro de 2013

O que aconteceu: A conta de luz ficou quase 30% mais cara desde a redução de 2013. E deve subir mais 30% neste ano. 

 

https://www.youtube.com/embed/hKHiGBVzFn0?rel=0
Tarifaço

“Essa história do tarifaço é mais um movimento no sentido de instaurar o pessimismo, as expectativas negativas, comprometendo o cresicmento do país”.

Entrevista coletiva – 30 de julho de 2014

O que aconteceu: Mal Dilma foi reeleita e o governo autorizou elevações no preço da gasolina e da conta de luz, que têm impacto generalizado sobre os custos ao consumidor.

 

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Corrupção

“Faremos um combate sem tréguas à corrupção. Nosso país não pode manter a impunidade daqueles que cometem atos de corrupção. Não vou deixar pedra sobre pedra. Eu vou fazer questão que a sociedade brasileira saiba de tudo”

Entrevista à TV Record – 27 de outubro de 2014

O que aconteceu: Graça Foster continua à frente da Petrobras, apesar das evidências de que ela foi avisada sobre os desvios na empresa. O governo continua abrigando nomes suspeitos no primeiro escalão. Um dos novos ministros escolhidos por Dilma George Hilton, foi expulso do DEM depois de ser flagrado com 600 000 reais em um avião.

 

https://www.youtube.com/embed/gxsGkWJrVbg
Banqueiros

“Eu não tenho banqueiro me apoiando. Eu não tenho banqueiro me suportando”

Entrevista coletiva – 9 de setembro de 2014

O que aconteceu: Depois de apostar na campanha do medo e acusar Marina Silva de conluio com os banqueiros, convidou para o Ministério da Fazenda o presidente do grupo Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. Ele rejeitou o convite mas recomendou Joaquim Levy, um economista ortodoxo e alinhado com o pensamento de Armínio Fraga. Dilma ainda nomeou Kátia Abreu para a Agricultura, o que foi visto até por setores do PT como outra contradição com o discurso eleitoral.

https://www.youtube.com/embed/tZSzYHNCVkU?rel=0
Contradição

“Há uma contradição, sim, entre querer uma política macroeconômica atrelada a interesses a uma forma de visão que é para desempregar, para arrochar, para aumentar preço de tarifa e aumentar impostos e, ao mesmo tempo, defender políticas sociais”

Debate presidencial no SBT – 1º de setembro de 2014

O que aconteceu: O governo fez o contrário do que prometeu, mas garante que as políticas sociais não serão afetadas.

A presidente Dilma Rousseff durante entrevista para os jornais Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Valor Econômico, no gabinete no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quinta-feira (06)
A presidente Dilma Rousseff durante entrevista para os jornais Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Valor Econômico, no gabinete no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quinta-feira (06) (VEJA)

A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), durante a coletiva de imprensa, após o debate do segundo turno promovido pela Rede Globo no Projac, no Rio de Janeiro
A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), durante a coletiva de imprensa, após o debate do segundo turno promovido pela Rede Globo no Projac, no Rio de Janeiro (VEJA)

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